Gato Preto-Capítulo 06

    0:00 min       GATO PRETO     CAPÍTULO 6
46:00 min    



CYBERTV APRESENTA
GATO PRETO


Minissérie de
Cristina Ravela

Capítulo 6 de 13





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ATO DE ABERTURA
FADE IN
CENA 1 EXT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS - NOITE
Algumas janelas revelam o ambiente iluminado. Aparentemente, tudo tranquilo.
CENA 2 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE WALTER - NOITE
Walter, deitado na cama, de pijama em tons neutros, admira uma foto, com olhar de bobo. Pelo seu PONTO DE VISTA, a foto é de Alice, sorrindo, em algum momento recente, e sem ter sido notada.
            WALTER
O que eu to fazendo, meu Deus?
Walter respira um instante, torna a olhar para a foto. É quando OUVIMOS uma discussão, vozes femininas bem alteradas.
            WALTER
Mas o que é isso?
Walter se levanta, rapidamente, e acaba guardando a foto no bolso detrás da calça. Abre a porta e SAI.
CENA 3 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / CORREDOR – NOITE
Walter dá com Noel e Alessandro, saindo de seus respectivos quartos.
            ALESSANDRO
Cês ouviram isso?
            NOEL
É a voz da Alice.
            WALTER
E Maria José.
Walter sai na frente, seguido pelos outros dois.
CENA 4 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE ALICE - NOITE
Alice e Maria José se atracam; Alice segura a garota pela nuca, que urra de dor.
            ALICE
Você não tem moral pra discutir comigo, garota!
            MARIA JOSÉ
Vagabunda! Não era nem pra você tá aqui.
Maria José consegue se livrar de Alice, lhe dá um empurrão, mas a garota segura Maria José e ambas CAEM sobre a cama. As duas desferem TAPAS, agarram uma no cabelo da outra.
A porta é ESCANCARADA, Walter, seguido pelos sobrinhos, avança sobre Maria José, tentando tirá-la de cima de Alice.
            WALTER
Parem já com isso!
Há forte resistência por parte da garota, Noel também ajuda. Walter agarra a ex-noiva, descabelada e visivelmente irada. Alice levanta-se, no mesmo estado, é amparada por Noel.
            WALTER
Posso saber o que tá havendo aqui?
            MARIA JOSÉ
Foi ela, Walter! Ela armou contra mim, ela quis nos separar.
            ALICE
Eu agora tenho culpa da sua traição, garota? Se toca!
Maria José tenta alcançá-la, mas Walter não deixa.
            ALESSANDRO
Mas que quer ver desgraça nesta casa, isso é verdade. A julgar pelo que fez ao Mazinho.
            NOEL
Falou o defensor das criaturas indefesas. Aposto que sabia de tudo e ficou na moita.
            WALTER
Parem vocês também! (para Maria José) E vê se sossega, mulher! Bater na Alice não vai mudar nossa situação, nem apagar a sacanagem que você fez. Agora, pede desculpas.
Maria José faz cara feia, se indigna.
            MARIA JOSÉ
Pirou? Mas eu não peço mesmo!
Walter ainda tenta mantê-la alí, mas ela o agride e SAI desenfreada. Alessandro balança a cabeça, fazendo a negativa.
            ALESSANDRO
Você não merecia esse vexame, tio.
Ele dá uma olhada de desprezo para Alice e SAI também. Walter, envergonhado, mal encara Alice.
            WALTER
Desculpe por ela.
E SAI logo atrás.
Noel toca o rosto de Alice, irritada.
            NOEL
Tá tudo bem? Ela te machucou?
            ALICE
(resmunga)
Uma vadia...Teve o que merecia também.
E abandona o local, indo na direção do banheiro. Noel faz que não entende, quando PISA em alguma coisa. Pelo seu PONTO DE VISTA, Noel retira o pé de cima de uma foto, do avesso. Pega-a, e quando vira, descobre a foto de Alice (vista na cena 1).
VOLTA EM NOEL, intrigado.
FADE OUT
FADE IN
O sol surge no horizonte; Anus brancos cortam o céu, aos gritos; Mar revolto; Banhistas na areia, a contemplar.
CENA 5 INT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / SALA - DIA
João atravessa o cenário, procurando algo. Helô atrás, incisiva.
            JOÃO
Eu não sei por que você insiste nisso, Helô. Avelino falou aquilo pra me provocar.
            HELÔ
Ele disse que Catarina foi um presente, João. Só quero entender como a sua filha seria presente dele.
João encontra seu celular por trás da almofada.
            JOÃO
Achei!
            HELÔ
João! (João encara-a; disfarça) A gente tá casado há oito anos, João. Sério que tem segredos comigo?
João desarma-se, mas quando pretende falar, Paulo SURGE ao fundo, aflito.
             PAULO
Com licença, seu João. Desculpe, mas o senhor precisa ver isso.
Na troca de olhares ente João e Helô.
CENA 6 EXT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / CAMPO - DIA
Algumas ovelhas MORTAS. João olha, abalado, enquanto Helô cobre a boca, horrorizada.
            HELÔ
Como é que isso foi acontecer, meu Deus?
            JOÃO
É óbvio que foi o Avelino. Aquele desgraçado!
            PAULO
Foram envenenadas, patrão. Mas duvido que tenham colocado veneno no rio. Alguém entrou aqui, e alguém conhecido.
            JOÃO
(indignado)
As ovelhas ficariam agitadas se entrasse um estranho. Avelino retirou os policiais, mas resolveu deixar um presentinho.
            HELÔ
Se foi ele, ele já tá passando dos limites!
            JOÃO
Ele já passou, há muito tempo! (esbraveja) Desgraça! Desgraçado!
Helô e Paulo alí, impotentes.
CENA 7 EXT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / QUARTO DE HÓSPEDES – DIA
Maria José está saindo; Noel vem na direção, calmamente. A garota, ao cruzar o olhar, ergue-se, já na defensiva.
            MARIA JOSÉ
O que foi? Veio rir da minha cara?
            NOEL
Não, só queria saber se você tá arrependida.
Maria José ri.
            MARIA JOSÉ
De ter dado uns tapas na Alice? Nunca!
            NOEL
Me refiro ao que você fez com o meu tio. (Maria José engole a seco) Ele te tratava mal? Pode falar, vou tentar entender.
            MARIA JOSÉ
Noel, você armou o flagrante junto dela. Por quê? (mente) Eu tava prestes a abrir o jogo com o Walter. O nosso término poderia ter sido de outra forma /
Noel segura em suas mãos, repentinamente.
            NOEL
Eu acredito! Mas...(Maria José esmorece) Confesso que o jeito pacífico dele me irrita. Mazinho jogou o carro pra cima da Alice, e ele fez o quê? Tratou o caso como se fosse uma birra infantil.
            MARIA JOSÉ
Então você entende por que nossa relação esfriou? Walter parece estar com a cabeça em outro lugar. Vontade de pegar essa Alice…
            NOEL
(corta)
Vamos dar um passeio? Pra espairecer? Talvez a gente precise se conhecer melhor.
Maria José, encantada, sorri; Noel devolve o sorriso, simpático.
CENA 8 EXT. - ESTRADA DE TERRA – DIA
A PICKUP PRATA em uma velocidade média pelo estreito caminho, circundado por mato, terrenos imensos e árvores.
CENA 9 INT. - PICKUP PRATA – DIA
Noel dirige e, em um dado momento, liga a pequena TV.
SURGE, NA TELA, UM COMERCIAL DO FILME A VISITANTE.
Maria José desvia o olhar, faz cara de asco. Noel percebe.
            NOEL
Já assistiu?

            MARIA JOSÉ
Deus me livre! Não gosto de filme de terror.
            NOEL
Melhor o terror num filme do que na vida real, concorda?
Maria José ri, faz que sim. Depois passa a encará-lo, com um olhar admirador.
            NOEL
(sorri, meio de canto)
Não me olhe desse jeito não, que eu sou sensível; Gamo fácil.
            MARIA JOSÉ
Eu me pergunto por que você preferiu abrir mão da herança a se afastar da Alice?
            NOEL
Eu não sabia que ia perder a herança.
Ele ri; Ela também.
            NOEL
To brincando. (coça os olhos)
Alice não fez nada de errado. Aquilo foi um golpe. (boceja / recompõe-se) Meu pai não queria dividir a herança com ninguém e armou aquela presepada. E eu acredito na justiça.
Noel sacode a cabeça, meio que pra despertar.
            MARIA JOSÉ
Você tá bem?
            NOEL
Sono. Desculpe, acho que não dormir bem.
Noel desliga a TV. Boceja de novo.
PLANO-DETALHE – Noel PISA no acelerador
VOLTA em Maria José, segurando-se na janela.
            MARIA JOSÉ
Noel, não é melhor parar o carro?
            NOEL
Cê tá com medo?
A pergunta pega Maria José de surpresa, sem saber como reagir.
            MARIA JOSÉ
Não /
            NOEL
Sabe dirigir?
            MARIA JOSÉ
Não, por quê?
            NOEL
Se eu dormisse aqui, o que você faria?
Maria José estranha, olha ao redor.
            MARIA JOSÉ
Sei lá…
Noel sorri, quase fecha os olhos, cansado. Nesse momento, suas mãos viram o volante, o carro quase descontrola. Maria José se assusta.
            MARIA JOSÉ
Pelo amor de Deus, Noel, pare esse carro.
Noel tenta manter os olhos abertos. Maria José se desespera ao ver
UM CARRO VINDO EM NOSSA DIREÇÃO
Noel quase caindo sobre o volante /
            MARIA JOSÉ
CUIDADO!
Noel tenta focar, mas é inútil; Maria José PUXA o volante e o carro perde o controle.
CORTA PARA O SEU EXTERIOR
A PICKUP sai da pista e BATE contra um cercado. A buzina DISPARA.
FADE OUT
FIM DO ATO DE ABERTURA

CAPÍTULO 6
OVELHA NEGRA

PRIMEIRO ATO
FADE IN
CENA 10 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE NOEL – DIA
POV DE NOEL, visão embaçada. Aos poucos, é possível ver Mazinho aproximando-se com um algodão, ar de deboche.
FIM DO POV
Noel, deitado na cama, desvia da mão de Mazinho, chateado. Sua testa tem um corte, ainda sangra, bem como seu nariz.
            NOEL
O que aconteceu?
Ao redor, em um quarto do mesmo tamanho do de Alice, branco, móveis rústicos, nada muito diferente, encontram-se Alice e Walter.
            MAZINHO
O malandro não lembra. (brinca) Isso que dá beber escondido. (tenta limpar o ferimento dele) deixa eu cuidar disso.
Noel retira a mão dele, ríspido.
            NOEL
Eu podia ter morrido, sabia?
            MAZINHO
Sabia, sabia sim, mas tá inteiro, né?
            WALTER
Sorte que nada de grave aconteceu com vocês.
            NOEL
Eu tava morto de sono, tio. Não consegui nem parar o carro. Acabei pisando no acelerador. Isso nunca aconteceu!
Alice e Walter entreolham-se, desconfiados.
            ALICE
O que cê tá querendo dizer?
            MAZINHO
Vai inventar o quê, agora? Faz tempo que tu não dirige/
            NOEL
Eu fui dopado!
Espanto nos demais. Walter aproxima-se, incrédulo.
            WALTER
Que isso, Noel? Quem ia querer dopá-lo?
            NOEL
Pare de bancar o sonso, tio! Tentaram me matar. Menos um pra disputar a herança, não?
Noel encara Mazinho, desconcertado, mas sem perder a pose. Ele desvia o olhar, porém, dá com Alice, encarando-o, fixamente.
CENA 11 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE HÓSPEDES – DIA
Cícero passa um algodão na testa de Maria José. Ela reclama e se afasta.
            CÍCERO
Noelzinho não dirige há muito tempo, filha. Foi arriscado.
            MARIA JOSÉ
Ele não tava bem, pai; Não tinha nada a ver com não saber dirigir, entende?
Maria José vai até o espelho; Arruma os cabelos; Dá uma averiguada no próprio corpo.
            CÍCERO
(risadinha)
Tentativa de assassinato? Mazinho tá pegando pesado.
Maria José desperta, como a lembrar-se de algo. Volta-se, no súbito.
            MARIA JOSÉ
Claro! Querem me tirar da jogada também!
            CÍCERO
Quê?
            MARIA JOSÉ
Pai, Mazinho quer matar dois coelhos com uma cajadada só. E não duvido que seja a mando daquele velho do Avelino.
Cícero pensa um pouco; Coça a barba.
            CÍCERO
Será, hen? Ah, Mazinho ladra, mas não morde não, filha. Seria muito arriscado pra eles.
            MARIA JOSÉ
(firme)
Pai, não seja ingênuo. Mazinho pode cometer o crime que for que o velhaco do Avelino dá um jeito de sumir com o processo. Essa gente corrompe quem quiser.
            CÍCERO
E é essa gente com quem você quis se meter, né filha?
            MARIA JOSÉ
Prefere viver nas barbas do seu irmão? Ou ter uma velhice digna com a grana que deveria ser sua também? Pensa aí, pai.
            CÍCERO
To pensando se o Noelzinho, do jeito que é, acusou o Mazinho (ri). Será que teremos treta?
Maria José deixa escapar um riso também.
CENA 12 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / ESCRITÓRIO – DIA
Avelino está atrás da mesa, sentado, fala ao celular. A porta é aberta abruptamente e Mazinho adentra, nervoso. Avelino, no susto, quase derruba o telefone.
            MAZINHO
Você não foi ver o teu filho, né?
            AVELINO
(ao tel.)
Depois a gente se fala. Bom dia.
(desliga o telefone)
Quantas vezes vou ter que dizer pra bater antes de entrar, cacete!
            MAZINHO
O teu filho sofreu um acidente e agora quer me culpar, mas você fica preso nessa droga de escritório e não faz nada!
            AVELINO
Você fez a merda, você se vira, Mazinho! Falei pra tomar cuidado, não falei?
Avelino senta; Apanha uns papéis. Mazinho, furioso, derruba a papelada no chão. Ambos encaram-se. Clima.
            MAZINHO
Eu não fiz nada, tá bom? Seja lá o que você tá aprontando, eu não vou arcar com isso sozinho, viu?
Avelino levanta-se, pousa as mãos sobre a mesa; Olhar firme.
            AVELINO
Não me culpe pelo seu fracasso, Mazinho. Querer matar dois coelhos com uma cajadada só foi um erro. Faça melhor da próxima vez, ok?
            MAZINHO
Escuta bem o que vou te dizer: Pro Walter ficar do lado deles pouco custa. Eu preciso de uma estratégia melhor, mas você precisa colaborar, caramba!
            AVELINO
Walter é um idiota. Fica em cima do muro, não sabe se aplaude ou se critica. Eu te dou carta branca, cê sabe, mas quero eficiência. Sabe que pode contar com os nossos capangas, não sabe? Porque agir sozinho não é o teu forte.
Avelino torna a sentar.
             AVELINO
Agora vai. Depois eu vou lá saber do meu filhinho querido.
Avelino ri. Mazinho só o encara, por cima.
CENA 13 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – DIA
Mazinho atravessa o cenário, de cara amarrada. Maria José desce as escadas, e quando o vê, apressa o passo.
            MARIA JOSÉ
Não foi dessa vez, né?
Mazinho para, dá uma olhada seca de cima a baixo.
            MAZINHO
Não foi dessa vez, o quê?
            MARIA JOSÉ
Tentou dar cabo de mim e agora se faz de sonso? Assuma o que fez, pelo menos, seu covarde!
Mazinho avança, segura seu braço com força.
            MAZINHO
(murmura)
Tu dobra essa língua pra falar comigo, sua piranha! Acha que vou perder tempo contigo? Não me queimo por tão pouco, não, garota.
            MARIA JOSÉ
O acidente foi suspeito, Mazinho. E todo mundo sabe que você é pau mandado do seu irmão.
            MAZINHO
(olhar desafiador)
É? E posso não ser o único. Cê devia tomar cuidado com as suas chantagens; (ao pé do ouvido) Avelino pode perder a paciência. E você é muito bonita pra amanhecer com a boca cheia de formigas.
Mazinho se afasta; Maria José mostra-se temerosa; Observa-o distanciar-se até varar a porta.
Nela.
CENA 14 INT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / SALA – DIA

João adentra, indignado, mãos na cintura; Anda de um lado para o outro. Helô atrás.
            JOÃO
Avelino vai se vê comigo. Não vou deixar barato, não. Escuta o que to dizendo.
            HELÔ
E você vai fazer o quê? Vai matar o gado dele também?
            JOÃO
(surpreso)
Que isso, Helô? Assim você me ofende. Você sabe que não sou assassino.
            HELÔ
Tem coisas que eu não sei não, João. Como, por exemplo, o motivo de Catarina ser um presente do Avelino.
            JOÃO
Mas de novo essa história?
            HELÔ
Posso perguntar a ele, se quiser. Mas é que eu to começando a achar que a briga de vocês nada tem a ver comigo. Você vai ou não vai confiar em mim?
Em João, encurralado.
CENA 15 INT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / ESCRITÓRIO – DIA
João, sentado atrás da mesa, exibe um documento para Helô. Esta, completamente absorta, sem acreditar, segura o papel.
Trata-se de uma Declaração de Nascido Vivo.
            HELÔ
Catarina Batista Pedroso, nascida em 9 de setembro de 1995? É a nossa Catarina? Mas ela não nasceu dia 12? Por que você nunca me contou isso?
            JOÃO
Eu não queria te envolver em algo tão sujo, Helô. A história é bem mais trágica do que você pensa.
= = FLASHBACK = =
CENA 16 INT. - HOSPITAL / CORREDOR – NOITE
LEGENDA: 12 DE SETEMBRO DE 1995
João (mais jovem) caminha, aos prantos sem se preocupar em esbarrar nas pessoas.
            JOÃO
(V.O)
Eu tinha acabado de perder minha esposa no parto. As complicações levaram a morte da minha filha e da minha mulher. Eu tava sem chão.
Ele vai até um bebedouro, ao lado de uma porta entreaberta; apanha um copo, enche de água; Bebe num gole só.
            JOÃO
(V.O / continua)
Naquela semana, eu não fui o único a sofrer uma onda de azar; Dona Mariana havia sofrido um acidente de carro e morreu após dar a luz; Seu marido, Jaime, sofreu um infarto fulminante. O dia anterior foi marcado por um velório duplo. Mal sabia eu que naquele diz seria minha vez.
João joga o copo no lixo, e quando volta-se, para diante da tal porta entreaberta. OUVE-SE uma conversa.
POV DE JOÃO – Pela fresta da porta, vemos Avelino (mais jovem) entregando um maço de dinheiros a um médico. O médico recua, por instantes.
            AVELINO
O menino tá confuso, o senhor sabe. Perdeu os pais tragicamente. Meu irmão não pode ser indiciado por conta do depoimento de uma criança em choque, entende? É até covardia.
Avelino insiste, coloca o dinheiro na mão do médico, à força.
            AVELINO
Foi um acidente, apenas isso. Tenha certeza que o seu nome não será envolvido em nada errado. E a menina?
            MÉDICO
Na incubadora, mas ficará bem.
            AVELINO
Ótimo!
Em João, sem acreditar.
CORTE DESCONTÍNUO:
CENA 17 INT. - HOSPITAL / RECEPÇÃO – NOITE
João, bastante inquieto, mãos na cintura. Movimento baixo por alí. Avelino surge de um corredor e ao ver João, vai até ele, compadecido.
            AVELINO
Meu amigo! Sinto muito pela sua perda.
Avelino nem espera João cumprimentá-lo; Pega sua mão e cumprimenta, sob o olhar fulminante de João.
            AVELINO
Se você quiser, posso adiantar tudo pra você. Cartório, enterro, velório /
            JOÃO
(por cima)
Dona Mariana não sofreu nenhum acidente, né? (Avelino faz que não entende) Você pagou o médico pra abafar o caso. Por que fez isso?
            AVELINO
Olha, João, a situação é crítica, não dá pra conversar aqui /
Avelino tenta levá-lo dalí, mas João resiste.
            JOÃO
Pode me contar aqui.
Avelino olha ao redor, pensa um pouco. Começa a falar, mas sem que possamos ouvir.
            JOÃO
(V.O)
Ele me contou tudo, Helô. Na base da confiança. Ele achou que eu ia concordar com aquilo. Mazinho provocou o acidente de Mariana para impedi-la de registrar o terreno. Jaime infartou ao saber da notícia e pensar que havia perdido a família inteira. Avelino garantiu que não queria morte, mas queria tomar a fazenda!
João dá as costas, contém as lágrimas num olhar de repulsa.           
            AVELINO
A criança é uma linda menina. Pensei em você para cuidar dela, enquanto eu cuido do garoto. Posso cuidar da papelada, isso você não tem com que se /
João volta-se, alterado.
            JOÃO
Você acha mesmo que eu vou compactuar com isso?
As poucas pessoas que alí estão, param, curiosas. Avelino engole a seco, surpreso até.
             AVELINO
Por favor, amigo /
             JOÃO
(murmura)
Eu não sou amigo de bandido!
(baque em Avelino)
Você queria tomar as terras e achou mesmo que eu fosse concordar?
             AVELINO
João, não é hora de hipocrisias. A fazenda onde você mora também foi tomada /
             JOÃO
Não queira comparar! As terras estavam abandonadas, Avelino. Cê sabe muito bem disso. Meu pai ganhou o direito a elas por usucapião.
             AVELINO
Você vai ficar contra mim então?
(olho no olho)
Somos amigos há anos. Juro que eu não queria mortes.
            JOÃO
E queria o quê? Que eles fossem pra debaixo da ponte?
            AVELINO
Não! As terras ficariam no meu nome, mas eles morariam lá /
            JOÃO
(instiga)
Como seus empregados, Avelino?
Avelino põe a mão na cintura; A outra esfrega no rosto, impaciente.
            AVELINO
Eu já entendi. Não posso contar contigo, né? Uma pena. (chantageia) Eu queria dar um futuro para essa criança, mas to vendo que a solução é mandá-la pra um orfanato. Essa menina não tem mais ninguém, além do irmão.
Avelino quase sai fingindo desalento.
            JOÃO
Você tá me chantageando?
            AVELINO
Não, de maneira alguma. Você não pode me apoiar. Entendo sua posição. Mas não posso arcar com duas crianças...Só pensei em você porque sei que seria um ótimo pai. Eu queria preencher o vazio da sua vida após sua perda.
João contém sua raiva entre dentes.
           JOÃO
Eu queria ignorar, mas vejo que você sempre apelou pro meu sentimentalismo. (T) Que seja essa a última vez que cedo a sua chantagem.
Em Avelino, assentindo.
= = FIM DO FLASHBACK = =
CENA 18 INT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / ESCRITÓRIO – DIA
Helô cobre a boca, espantada com a revelação.
            HELÔ
Eu não acredito...Catarina morreu no lugar que pertencia a ela por direito.
            JOÃO
Ele quer me tirar daqui, Helô. Ele quer que eu ceda pra não ser acusado pela morte da minha filha.
João desliza suas mãos pela mesa e alcança as mãos de Helô.
            JOÃO
Eu não vou ceder. Eu farei de tudo pra inverter esse jogo.
            HELÔ
E como fará?
            JOÃO
Vamos nos unir a quem ele acha que deve muito a ele.
Em seu olhar sagaz.
CAM BUSCA a fresta da porta, onde Paulo OUVE tudo.
CENA 19 INT. - IGREJA – DIA
Batista acaba de fazer o sinal da cruz; Beija um crucifixo do seu colar. Olha firme para o alto.
FADE OUT
FIM DO PRIMEIRO ATO
SEGUNDO ATO
FADE IN
VISTA PANORÂMICA da cabana de Tina.
CENA 20 INT. - CABANA – DIA
Paulo acaba de sentar numa espreguiçadeira, absorto, sem acreditar. Diante dele, Tina senta no sofá.
            PAULO
A senhora escondeu isso de mim esse tempo todo...Catarina é irmã do padre?
            TINA
Eu pedi pra você sair da cidade enquanto é tempo, Paulo. Por favor, isso ainda vai acabar em morte.
            PAULO
Avelino é um monstro, dona Tina. A senhora devia fazer alguma coisa. Catarina foi roubada e assassinada!
            TINA
Fazer alguém pagar pelo crime vai aliviar sua consciência, Paulo?
Os dois fitam-se por instantes. Paulo engole a seco, levanta-se, injuriado.
            PAULO
A senhora sabe que eu preferia a Catarina comigo a vê-la casada com aquele sujeitinho, né? Ela confiava em mim, poxa.
            TINA
Não to te julgando, garoto. Também acho que o assassino precise pagar, mas você não precisa estar aqui quando isso acontecer. (levanta-se; segura suas mãos) Eu quero um futuro melhor pra você.
            PAULO
(ansioso)
A senhora tá vendo minha morte? Ou eu vou ser preso?
            TINA
Talvez, o meu maior medo é que você perca sua essência. O seu caráter é ímpar, Paulo. Não quero que você desvirtue do seu caminho.
            PAULO
Mas é claro que não. Jamais irei me corromper. Só acho que as pessoas devem pagar pelo mal que fazem. E apesar do que fiz, eu não matei ninguém.
Tina faz que sim, em dúvida. Acaricia seu rosto, com olhar de lamento.
            TINA
Estarei sempre aqui, viu? (T) Acho melhor você ir agora.
            PAULO
Sim. O seu João me deu uma missão. Preciso ir.
Paulo beija a mão de Tina. Sorri e SAI em seguida.
Em Tina.
CENA 21 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE NOEL – DIA
O reflexo de Noel no espelho, arrumando-se; Penteia o cabelo; Ajeita a gola da camisa. OUVIMOS a porta abrir de forma abrupta. Noel se volta, sobressaltado e encara Alessandro que, imponente, olha-o por cima.
            NOEL
Sabia que bater na porta ainda é educado?
            ALESSANDRO
Sabia que pegar o meu carro ainda precisa da minha permissão?
            NOEL
Eu sofri um acidente, Alessandro. (T) Não me espanto que nem se preocupa.
Noel passa por ele, chateado. Alessandro segura em seu braço. Cara a cara.
            ALESSANDRO
Não me venha com sentimentalismo, Noel. Você pode enganar qualquer um aqui, menos a mim. Você não vai ganhar esse jogo desse jeito sujo.
            NOEL
Quem tá jogando sujo aqui é você e o tio Mazinho. Primeiro foi a cobra, agora o carro /
            ALESSANDRO
Prove! Prove pra polícia que você e  Alice estão sendo vítimas da gente. Aí o nosso pai se enfurece e prova, do jeitinho dele, que o seu João matou a própria filha.
Baque em Noel, que retira o braço do irmão, rispidamente. Alessandro desvia o olhar; percebe que falou besteira.
            NOEL
Olha a asneira que você tá dizendo /
            ALESSANDRO
Eu não disse isso porque concordo /
            NOEL
Você é igual a eles, Alessandro! Você não queria esse casamento, e pouco se importa com quem matou. Você só quer essa grana.
            ALESSANDRO
Você também!
            NOEL
(por cima)
Eu quero tirar de você! (T) Você não merece nada da Catarina. Diz, você nem queria casar, né? Qual era o plano?
            ALESSANDRO
Tu quer saber mesmo? Eu só queria obrigar o nosso pai a devolver a grana roubada aos irmãos. Eu achei que fazer isso era melhor pra ele do que me ver casado com a filha do rival. Tá bom pra você?
            NOEL
Não pague de santo, irmão. Agir pelas costas do nosso pai nunca foi teu forte; Você é o cordeirinho dele.
Alessandro avança sobre seu pescoço, mas Noel segura seu braço a tempo. Alessandro tenta se soltar, Noel não recua. Alice surge na porta.
            ALICE
Parem com isso!
Os dois param, esbaforidos. Encaram Alice.
            ALICE
O Noel acabou de sofrer um acidente, Alessandro. Será possível?
Nos dois irmãos, fitando-se.
CENA 22 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / COZINHA – DIA
Alessandro, sentado à mesa, espeta o garfo na comida, com força, encarando Noel, de frente. A CAM ABRE e revela todos almoçando em um clima tenso.
            AVELINO
Então, Noel, tá se recuperando bem?
Noel encara o pai, surpreso.
            NOEL
Já soube que o Alessandro me fez acusações insanas?
            AVELINO
Acusações? Eu to perguntando do seu acidente.
            NOEL
Ah, sim...É que isso foi há horas, nem passou pela minha cabeça que o senhor ainda lembrasse…
Alice quase cospe a comida por rir. Alguns também acham graça, menos Mazinho e Avelino.
            MAZINHO
Essa é a paga que tu recebe, irmão. A gente se preocupa pra isso.
            ALICE
Nossa, Mazinho...Seus sentimentos chegam a trepidar a mesa…
Walter quase engasga, mas controla o riso.
            MAZINHO
Já, já eu te mostro o que é trepidar aqui, sua /
Ana chega com um refratário coberto por uma tampa. Mazinho se adianta e pega de suas mãos.
            MAZINHO
Pode deixar, princesa. (a todos) Aí, eu pedi um prato especial pra selar a paz, muito embora a Alice e o Noel não queiram.
Mazinho levanta-se e põe o refratário diante de Alice. Encara a garota, sadicamente.
            MAZINHO
Espero que esteja do seu gosto.
E assim que ele levanta a tampa,  revela-se uma CARANGUEJEIRA.
Alice dá um SALTO pra trás, desequilibra-se e vai ao chão. A aranha anda em sua direção, prestes a cair da mesa. RISOS de alguns. Alice esgueira-se para trás, nervosa, mas consegue se levantar.
            ALICE
Seu estúpido!
           MAZINHO
Era só uma brincadeirinha, garota.
Mazinho abre sua mão e mostra um pequeno controle remoto. Ao apertar uma tecla, a aranha para de caminhar. É de brinquedo.
           ALESSANDRO
Alice tem medo de brinquedo (gargalha).
Noel mostra-se sério, encarando todos com ar de reprovação. Walter rindo, enquanto Alice observa o deboche.
           ALICE
(ódio)
Tu ainda vai levar um susto, Mazinho. (pra geral) Bando de idiotas!
Alice SAI. Noel tenta ir atrás.
           NOEL
Alice!
           WALTER
Deixa, Noel. Eu vou falar com ela.
           NOEL
(cobra / indignado)
Você, tio? Você que também riu dela?
Walter já se levantou, espia Noel rapidamente, mas SAI de cena. Noel encara um por um, até encontrar Mazinho, com aquele sorriso de escárnio.
CENA 23 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE ALICE – DIA
Alice adentra, correndo; tenta fechar a porta, mas Walter faz força e consegue entrar. A porta fica entreaberta.
            ALICE
Que é? Veio rir mais um pouco?
            WALTER
Desculpe. Eu não queria te chatear.
            ALICE
Já tá me chateando. (Walter engole a seco) Você me chateia toda vez que não faz nada, Walter. Nada! A não ser rir da minha cara.
Walter aproxima-se, segura sua mão. Alice, ainda nervosa, mas nem se esquiva.
           WALTER
Eu não ri de você, Alice. Foi da situação, me desculpe.
           ALICE
Para de pedir desculpas, que saco! Eu quase fui atacada por uma cobra, fui atropelada, Noel bateu com o carro...Você quer que aconteça mais o quê pra entender que essa família é podre?
           WALTER
Essa família é sua, Alice! É nossa!
           ALICE
Eu não pertenço mais a essa família. (T) Família é quem apoia, anda junto, entende? Família não é só ser só sangue do mesmo sangue.
           WALTER
E por que faz tanta questão que eu te apoie se eu pertenço a essa família podre?
           ALICE
(Modera o tom)
Você não tem que ser igual a eles.
           WALTER
Você se importa tanto assim comigo?
Alice recua, não sabe o que dizer. Walter aproxima-se mais, olho no olho.
PLANO-DETALHE – Nas mãos de Walter apertando os de Alice.
VOLTA EM WALTER olhando para a sobrinha. Alice corresponde o olhar intenso.
           ANA
(O.S)
Dona Alice /
Ana flagra os dois que, imediatamente, se afastam.
           ANA
Desculpe, ahn...O Noel mandou perguntar se você não vai almoçar.
           ALICE
Não...Depois eu como qualquer coisa. Obrigada.
           WALTER
Eu vo indo. Espero que aceite minhas desculpas.
Walter, cabisbaixo, SAI e mal encara Ana. Esta olha Alice desconcertada.
Nela.
CENA 24 EXT. - IGREJA - DIA
A fachada humilde do local. Portas abertas, nenhum movimento.
CENA 25 INT. - IGREJA / QUARTO – DIA
A CAM vai adentrando um ambiente bem simples e pequeno; Chão de taco; Mobília antiga, mas conservada. Na cama de solteiro está o padre Batista, sentado. Verifica uma foto, de olhar triste e, ao mesmo tempo, revoltado.
PLANO-DETALHE – A foto é dele, criança, entre os pais Mariana e Jaime, além de Avelino.
VOLTA À CENA
Batista deixa escorrer uma lágrima, mas limpa imediatamente. Apanha, do seu lado, um smartphone; Dá alguns cliques.
INSERT ÁUDIO
            BATISTA
(V.O)
A reputação de Maria Alice já foi destruída. Já pensou que a sua irmã pode sofrer represálias por conta desse boato?
            AVELINO
(V.O)
Boato não, verdade! Porque quando um padre espalha uma notícia, assim, como quem não quer nada, todo mundo acredita. E de mais a mais, Tarsila pode muito bem voltar pra cidade grande. Menos uma pra dar dor de cabeça.
A gravação é cortada, para, então, surgir outra.
            BATISTA
(V.O)
Você não devia vir até aqui. Já tá sendo muito difícil servir ao Avelino, agora você também? /
Alguém BATE na porta. Batista DESLIGA O ÁUDIO.
            BATISTA
Entra!
A beata (cena 16 – capítulo 3) aparece alí.
            BEATA
Aquele moço da fazenda dos Guerra taí. Disse que precisa muito falar com o senhor.
Em Batista.
CENA 26 INT. - IGREJA – DIA
Batista, pasmado, já sentando num banco ao lado de Paulo.
             BATISTA
Estou petrificado. Quem teria feito essa maldade?
             PAULO
Seu Avelino, lógico!
             BATISTA
É uma acusação grave, irmão. Tem provas?
             PAULO
A gente não, mas o senhor, talvez…
             BATISTA
Não entendi.
             PAULO
O meu patrão tem apreço pelo senhor...Ele disse que o senhor poderia ajudá-lo a não perder as terras e ter que sair da cidade.
Batista desvia o olhar, pensativo.
            BATISTA
Eu não sei por que ele disse isso /
            PAULO
O senhor deve a ele, por causa da dona Catarina.
O padre levanta-se, exasperado; quase tropeça, nervoso.
            BATISTA
O que eu tenho a ver com ela?
            PAULO
Eu sei de toda a história, padre. (mente) Seu João me contou. Seu Avelino quer acusá-lo da morte da própria filha, caso ele não venda as terras pra ele. Não podemos deixar!
Batista senta no banco, novamente. Mostra-se mais calmo.
           BATISTA
O que quer eu faça?
           PAULO
Me desculpe, mas o padre perdoou o homem que matou seus pais, roubou sua herança e quase mandou sua irmã pro orfanato?
Batista não diz nada; Olhar perdido.
           PAULO
Se não quiser fazer pelo senhor, faça por aquele que salvou sua irmã.
Batista lhe dá uma olhada, um tanto hesitante.
CENA 27 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / COZINHA – DIA
Walter acaba de chegar e todos o encaram, na expectativa. Menos Mazinho, que almoça como se nada tivesse acontecido.
            WALTER
Satisfeito, Mazinho? Ou ainda pretende fazer mais alguma brincadeira infame?
            MARIA JOSÉ
Ué, Walter? Você também riu, não?
Walter ignora.
            WALTER
Eu vou voltar pro serviço que eu ganho mais.
Walter SAI. Alessandro prepara-se para fazer o mesmo.
            ALESSANDRO
Bom, eu também vou. Boa tarde pra quem fica.
Um telefone TOCA. Avelino saca o celular e atende.
           AVELINO
Fala. (T) Ah sim, deu tudo certo?
Avelino vai se levantando, apressado.
           AVELINO
Quero detalhes.
Avelino deixa o local sem perceber que Noel está atento.
CENA 28 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / ESCRITÓRIO – DIA
Avelino vai entrando com o celular a postos, bate a porta, mas ela acaba não fechando.
            AVELINO
Meia dúzia? Maravilha! João deve tá pelas tamancas (risos).
Ao fundo, Noel aparece pela fresta da porta; espia, sorrateiro.
           AVELINO
Mas é claro que não, Lucas. A perícia vai dizer que as ovelhas morreram por intoxicação alimentar. Você não tem com que se preocupar. (T) Cumpro o que prometo. Te pagarei hoje à noite. Lá pelas 23 horas, naquela estradinha.
Enquanto ele fala, sem que possamos ouvir, a imagem desfoca para Noel, que SOME da porta.
CENA 29 INT. - FAZENDA GUERRA / GALPÃO – DIA
Um funcionário acaba de colocar comida no cocho, as ovelhas avançam para comer. Um par de calçado masculino caminha pelo chão forrado com bagaço de cana. CAM revela Noel observando o movimento. João vem até ele.
            JOÃO
Noel! Como vai? Soube do acidente.
João estende a mão e ambos se cumprimentam.
            NOEL
Não foi nada. O senhor andou perdendo mais.
           JOÃO
Foi uma perda significativa, mas vamos nos recuperar. Veio falar com o Wagner, com a Tarsila?
            NOEL
Não. Meu assunto é contigo mesmo. Eu tive uma ideia que pode baixar a crista do meu pai, mas preciso da sua ajuda.
Em João, esperançoso.
FADE OUT
FIM DO SEGUNDO ATO
ATO FINAL
FADE IN
Takes rápidos pela cidade; Do mar agitado até a praça movimentada; O sol se põe; O GRITO de anus ecoa.
CENA 30 EXT. - ESTRADINHA – NOITE
O SOM de um carro aproximando-se junto de um par de faróis acesos, que ilumina a tela. O carro para, os faróis são desligados, mas é possível ver que trata-se de um jipe verde. Avelino desce do carro segurando um envelope pardo volumoso. Do outro lado, surge Lucas, sem farda policial, andando sorrateiro.
            LUCAS
Como sempre, pontual.
            AVELINO
Como toda pessoa responsável que cumpre o que promete.
            LUCAS
Trouxe?
Avelino entrega o envelope. Lucas abre e apanha um bolo de dinheiro.
            AVELINO
Quer conferir?
            LUCAS
Não precisa. Você nunca me faltou, não seria agora, não é?
Lucas estende a mão e Avelino cumprimenta, confiante.
            LUCAS
É sempre bom tratar de negócios com o senhor.
Avelino sorri. CLOSE nas mãos unidas, até que a CAM DESFOCA para o outro lado, revelando João e Noel, à espreita, no meio do mato.
CENA 31 INT. - CASARÃO / FAZENDA GUERRA / SALA – NOITE – TEMPO DEPOIS
João atravessa a cena, esfrega as mãos uma na outra, ansioso e animado. Paulo aparece da outra ponta, cauteloso.
            PAULO
Patrão!
            JOÃO
Ô Paulo, chega aí! (vai até ele, toca seu ombro / Murmura) E como foi lá com o padre?
            PAULO
O senhor não vai acreditar, mas o padre disse que tem gravações contra o seu Avelino.
            JOÃO
Gravações?
            PAULO
E tem mais! As gravações não comprometem só ele não. Tem mais gente envolvida, mas ele não quis me dizer.
            JOÃO
Como não? Cadê as gravações?
            PAULO
Ele disse que vai esperar o momento certo para desmascarar o seu Avelino.
            JOÃO
O momento certo é agora, Paulo! Eu quero essas gravações pra ontem!
Paulo faz que sim. Ao fundo, Tarsila OUVIU tudo, abismada.
CENA 32 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE WALTER – NOITE
Walter procura algo por cima dos móveis; Apalpa os bolsos da calça; Levanta o travesseiro, mas não há nada.
            NOEL
(O.S)
Tá procurando isso?
Walter vira-se e dá com Noel com uma foto (cena 1) na mão. Sorri, sem graça; vai até ele e estende a mão.
            WALTER
Eu pensei que tivesse perdido/
Noel afasta a mão. Ambos encaram-se.
            NOEL
A Alice não sabe que você anda tirando foto dela, né? (silêncio) Não vejo problema, tio, mas cuidado pra isso não sobrar pra Alice; A cidade é pequena demais e um escândalo já pesa sobre as costas dela.
Walter arranca a foto das mãos dele.
            WALTER
Não há motivo pra preocupação, Noel. Você sabe que ela não gosta muito de mim. Só que eu tenho direito de ter uma lembrança da minha sobrinha, não? Afinal, um dia ela vai embora...De novo.
            NOEL
O senhor tem todo o direito. Inclusive, se quiser uma foto minha, pode pedir. Topa um 3 por 4?
Ambos olham-se, sérios. Até que Noel ri e dá um tapinha no ombro de Walter.
            NOEL
Relaxa aí, tio. Não vim causar treta não. O senhor é o melhor tio que a gente respeita. Só não conta pro tio Wagner pra ele não ficar com ciúme, tá? (Walter mal consegue ri; Nervoso) Boa noite.
Walter, paralisado pelo susto, nem cumprimenta de volta. Noel SAI e fecha a porta.
CORTA PARA O CORREDOR
Onde Noel desfaz o sorriso, desconfiado. Some dalí.
FADE OUT
FADE IN
CENA 33 EXT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS – DIA
Na bela fachada da propriedade. Um carro de polícia adentra vagarosamente, até estacionar.
CENA 34 INT. - CASARÃO / FAZENDA SANTOS / ESCRITÓRIO – DIA
Mazinho entrando junto de Lucas (fardado), munido de uma bolsa preta de lona. Avelino assina uns papéis detrás da mesa.
            AVELINO
Espero que o motivo seja nobre, policial. As pessoas podem desconfiar.
            LUCAS
Serei breve.
Lucas abre a bolsa e apanha o envelope pardo. Retira, de dentro, um punhado de dinheiro e despeja contra a mesa. Avelino faz que não entende.
            AVELINO
Mas o que significa isso? Mazinho, fecha essa porta!
Mazinho obedece. Lucas tira o elástico da grana e espalha pela mesa, agitado. Apanha algumas e aponta para Avelino.
            LUCAS
Isto que eu vim saber. O que significa essas notas falsas?
Mazinho arregala os olhos, sem acreditar.
            AVELINO
(Averigua as notas, claramente falsas) Isso é impossível! Eu nunca faria uma coisa dessas!
            LUCAS
Ok, então me passa a grana real e eu sumo daqui.
            AVELINO
Não é bem assim, rapaz, eu jamais pagaria meus amigos com notas falsas. Deve haver uma explicação.
            LUCAS
A única coisa que quero é o meu dinheiro, Avelino. O senhor honra seus compromissos e tá tudo certo.
Avelino levanta-se, afrontoso.
            AVELINO
Eu nunca deixei de honrar nada, rapaz! Não vou admitir ser chamado de caloteiro em minha fazenda.
           LUCAS
Eu não disse isso, mas executei o serviço no prazo. Quero a grana no prazo também.
           AVELINO
E quem me garante que você não conferiu a grana ontem só pra agora ficar bancando ao injustiçado?
CLOSE em Lucas, ameaçador.
            LUCAS
Agora a falta de respeito foi grande. É melhor ter a minha grana. O senhor tem muito mais a perder do que eu.
Lucas dá as costas, esbarra em Mazinho e abre a porta. SAI, em seguida.
Na cara de Avelino, surpreso.
FADE TO BLACK

FIM DO CAPÍTULO

APRESENTANDO

CHRISTIANA UBACK.......................Maria Alice Pimentel
JOÃO VÍTHOR OLIVEIRA........................…...Noel Santos
MARCO PIGOSSI.............................Alessandro Santos
OSVALDO MIL..................................Mazinho Santos
JULIANA LOHMANN...........................Maria José Guerra
LUCINHA LINS....................................Helô Castro
HERSON CAPRI…................................Avelino Santos
LUCCI FERREIRA................................Walter Santos
MURILO GROSSI............................…………...João Guerra
TONICO PEREIRA................................Cícero Guerra

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

BIA ARANTES.................................Catarina Guerra


ELENCO SECUNDÁRIO
RAPHAEL VIANA..................................Paulo Borges
CAIO BLAT.....................................Padre Batista
CLÁUDIA NETTO..............................………………Tina
DANI BARROS...................................Tarsila Santos
MARCO RICCA..................................Wagner Pimentel

ATORES CONVIDADOS NESSE CAPÍTULO

LUÍZA VALDETARO.........................
………………....Ana
SÉRGIO MARONE.........................
…………..Policial Lucas



Essa obra não possui nenhum vínculo/contrato com os atores citados acima.


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