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RAÍZA


Série de
Cristina Ravela

Episódio 8 de 20




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FADE IN
CENA 1 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
A cena percorre a cidade, lojas vendendo fantasias para o carnaval e pessoas andando apressadas de um lado e de outro.
Ao longe, Raíza anda pela passarela falando ao celular. A cena se aproxima.
RAÍZA: Eu não vou; Não curto carnaval e nem nada onde o pessoal esconde a cara.
DCR (V.O): Mas poxa! não tem graça. A Rafaela já disse que só vai se você for e eu não queria ir sozinho.
RAÍZA: Olha...Eu não tô a fim mesmo e...Eu não tenho que ir lá.
DCR (V.O): É pelo o que o Marco fez ‘né’?
RAÍZA (sem graça): Quê?
DCR (V.O): Eu soube de tudo. Mas ó, o negócio é bola pra frente viu. Mostra que você supera fácil coisas sem importância, supera o brilho, menina!
Raíza dá uma pausa, meio chateada por ter de lembrar.
RAÍZA: Já superei, mas não quero saber de folia...Eu nem tenho fantasia...
DCR (V.O): Pra você eu arranjaria rapidinho...
Raíza avista o sinal fechado e desce a passarela correndo.
RAÍZA: Não adianta, ‘Dc’...Não tô com humor pra festa...
O sinal abre, os carros avançam.
RAÍZA (ao telefone): ‘Peraí’ que vou atravessar...
A pista está vazia. Raíza alcança o final da escada.
Um carro vem em alta velocidade.
VOZ MASCULINA: Cuidado, garota!
A moça olha para o lado, ouve-se a freada brusca na estrada. Raíza, espantada, em instantes torna-se invisível (efeito câmera lenta), o carro passa pela sua perna e logo ela cai visível na calçada.
O carro bate no muro que separa a linha do trem da estrada.
Raíza se apóia no chão, apanha o celular e observa as pernas de alguém a sua frente. Ela olha para cima e se surpreende.
RAÍZA: Ari?
FADE OUT



1X08 AGONIA

FADE IN
CENA 2 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
Ari tem um semblante preocupado, olheiras e aparência desgastada. O cabelo está amarrado de qualquer jeito. Usa vestido simples listrado. Seu olhar é de agonia, angústia.
ARI: Raíza...(pausa)...Finalmente te encontrei...(pausa)...Só você pode me ajudar...
Raíza segura em suas mãos e logo as afasta;
RAÍZA: Suas mãos estão frias! Você tá bem? Por onde andou que nem nossos colegas souberam me dizer...
ARI: Eles também não sabem por onde você andou nesses quatro anos, não é?
Raíza empalidece. Ari está muito estranha. Desvia o olhar o tempo todo. É como se estivesse ali ou não. Ao mesmo tempo.
RAÍZA: O que aconteceu, Ari? No que você quer que eu te ajude?
Ari olha adiante, para o carro batido. Há muita gente e ouvimos a pessoa que gritou para Raíza.
HOMEM: Não consigo entender como ela escapou...Não consigo...É...É um milagre!
Raíza também olha e vê Cael sair de um banco.
RAÍZA (olhando para trás): O Cael...Ele tá vindo pra cá...
ARI: Não posso ficar aqui...
RAÍZA: Deixa eu te apresen...(ela se volta)...tar. Ari?... Ari?
Ari sumiu. Raíza olha por todos os lados e nem rastro da garota. Alguém toca seus ombros.
RAÍZA: Ari?...Ah Cael...Oi.
CAEL: Decepcionada?
RAÍZA: Não, é que...(olha para trás)...Eu...Bem... Uma amiga minha estava aqui e...
CAEL: Não vi ninguém com você, mas tudo bem. Eu ia à sua casa, mas já que te encontrei aqui...
Ele põe a mão por dentro do paletó e tira dois papéis.
CAEL: Aqui estão os convites pro baile de hoje...Será que seu pai e seu tio iam gostar de ir?
Silêncio. Raíza está distraída.
CAEL: Raíza? Você acha que eles vão querer ir?
RAÍZA: Ah, acho que não.
CAEL: Você vai?
RAÍZA: Onde?
CAEL: Você não me parece muito animada pro carnaval...
RAÍZA: Foi mal...Eu não pretendia ir. O Dcr me chamou, mas...
CAEL: ‘D’ o quê?
RAÍZA (ri): Dcr, amigo meu.
CAEL (sorri): Ele parece ter problemas com nomes inteiros, hein...
Os dois riem e a garota mostra-se intrigada com o sumiço de Ari. Esta, por sua vez, a observa de algum lugar...
FADE OUT
FADE IN
CENA 3 APTº 403 [INT.]
A porta é aberta. Raíza entra, em seguida a fecha e segue à direita pelo corredor. Olha pro quarto do primo, volta e o observa na sacada limpando a vidraça. Fica um tempo parada na porta e depois entra.
RAÍZA (irônica): Cuidado pra não cair daí, hein...
JOÃO: Aaaai...Que susto! Num chega assim de mansinho.
RAÍZA: Não é bom tomar susto na sacada; Esses ferros costumam serem sensíveis...
João continua com seu serviço fingindo ignorar.
RAÍZA (em OFF): Droga! Odeio ser irônica...Se ele fez alguma coisa certamente não sabia o que fazia...Sei lá...Não seria o único a sofrer de esquecimento...
JOÃO (incomodado): Que é, Raíza? Que cara é essa?
RAÍZA: Ahn...Não é que...(ela abre a bolsa e tira os convites que recebeu de Cael. Estende a mão.) Aqui ó! O Cael mandou pra você. É pro baile de domingo lá na boate.
João Batista larga o que está fazendo e sai da sacada animado. Apanha o convite e dá uma olhada pra prima.
JOÃO: A gente se deu bem fazendo amizade com a pessoa certa, hein.
RAÍZA: Eu não sei o que você quis dizer com ‘pessoa certa’, mas...Certamente não é pela pessoa que ele é.
A prima dá as costas.
JOÃO: Se você não tivesse salvado a vida do irmão dele teu pai não teria o emprego que tem numa construtora. E não teríamos convites ’de grátis’.
A moça pára e se volta. Faz que vai responder. Dá uma pausa.
JOÃO: Às vezes eu me pergunto se você não pressentiu que eles são ricos...
RAÍZA: Às vezes eu me pergunto se você tem algum problema com meus tais pressentimentos...
JOÃO: Nenhum. (ele olha pro convite) Mas e então? Pressentiu ou não?
RAÍZA: Se eu tivesse pressentido isso eu também teria pressentido o tipo de pessoa que é o Marco. E nem teria chegado perto...
JOÃO: Você deve tá se referindo àquele episódio...
RAÍZA: João...
JOÃO (olha para ela): Tudo bem...(pausa)...Infelizmente, não podemos escolher quem salvar, num é?
A moça dá as costas e sai. Pára no corredor próximo ao seu quarto e permanece por alguns segundos. Expressa desconfiança pela maneira como o primo lhe falou. Entra no quarto.
CORTA PARA
CENA 4 L.A HOUSE [INT./FIM DA MANHÃ]
Há algumas pessoas trabalhando na decoração da boate, luzes sendo testadas e Cael observa tudo.
Valentina está no balcão da chapelaria com uma calculadora, contando os convites e o dinheiro. Estranha e vira-se para o lado onde está Cael.
VALENTINA: Amor...Parece que tá faltando dinheiro aqui...Vem ver.
Cael se aproxima e ela o entrega os convites.
VALENTINA: Conta e vê se estão faltando dois convites...
CAEL: Ah, me desculpe...É que agora pouco eu encontrei a Raíza e...
VALENTINA: Ela comprou o convite, ‘né’? Não foi que nem aquela vez que você a convidou e...E...
Cael faz uma pausa profunda e a namorada larga a calculadora sobre a mesa. Demonstra não gostar. Vira o rosto mostrando desagrado e torna a olhar pra ele, insatisfeita.
VALENTINA: Olha Cael, eu entendo que você esteja grato por ela ter salvado a vida de seu irmão, mas... Nem ele tem tanta consideração assim como você tem!
CAEL: Eu não faço isso por ele, mas por que eu e ela nos tornamos amigos. Ora, você também tem seus amigos, não?
VALENTINA: Você não dá convites pra todos os seus amigos...(ela anda para trás dele).
CAEL: Talvez por que eu não tenha tantos amigos...
VALENTINA: Se tivesse estaria falido...
Cael põe as mãos nos bolsos da calça e olha pra cima.
VALENTINA: É lógico que você faz isso por compaixão. Ainda mais depois do que houve na outra semana...(riso prepotente)...É...O Marco deixou a garota bastante constrangida...
CAEL: Eu prefiro que você não faça nenhum comentário a respeito.
Valentina engole a saliva, toca seu ombro.
VALENTINA: Desculpe...(pausa)...Eu só não quero que você faça nada no lugar dos outros. Não se sinta obrigado, viu.
Ela o abraça e Cael olha quieto para frente.
Valentina fecha o semblante.
CORTA PARA
CENA 5 APTº 403 – COZINHA [INT./INÍCIO DA TARDE]
Raíza e João Batista estão sentados à mesa. Josué coloca sobre a mesa, com ajuda de uma toalha de prato, uma travessa de macarronada com palmito e brócolis.
JOSUÉ: Olha gente, dessa vez o macarrão tá com sal, tá?
Bruno aparece da porta.
BRUNO: Claro!...Eu que fiz.
João ri na cara de Josué.
JOÃO: Ufa! Essa foi por pouco...Eu ‘tava’ quase desistindo de almoçar...
JOSUÉ: Ah é que eu não gosto de lavar macarrão...Sempre esqueço de pôr o sal depois...
RAÍZA: Estamos apresentando...As justificativas do tio Josué...Um oferecimento...
JOÃO: ...Campanha: Não esqueça o sal no macarrão. Por um macarrão mais tragável.
A brincadeira arranca risos.
BRUNO (tenta conter o riso): Por que em vez de vocês ficarem zoando, não é assim que vocês falam? (ele se senta) Pois então, por que em vez de ficarem zoando com o tio de vocês, vocês não nos contam sobre o baile à fantasia? Pretendem ir?
RAÍZA: Não.
JOÃO: Sim!
Josué também se senta e cada um começa a se servir.
BRUNO: Acho bom mesmo você não ir, filha. O Cael pode ser uma boa pessoa, mas é melhor evitar outro constrangimento...
Josué faz uns gestos com o garfo.
JOSUÉ: Eu não concordo. O único erro dela foi ter salvado a vida do Marco.
RAÍZA: Tio?!
JOSUÉ: Tá bom...Eu quis dizer...Que você o salvou; O mínimo que ele tem que fazer é aprender a te tratar bem e você se afastando ele nunca vai poder se redimir.
Bruno olha pra ele, admirado.
BRUNO: É impressionante como você consegue ser complacente, hein...
JOSUÉ: Além do que...Não gosto que o João vá sozinho numa festa...À noite.
Bruno engole rápido a água que bebe.
BRUNO: Que mania a sua de se preocupar tanto, Josué. Tudo bem que, depois de tudo que aconteceu, o melhor é sempre tomar cuidado, mas...Querer que a Raíza vá com ele como segurança? Aí não, ‘né’?
João levanta a cabeça e pára de comer por um instante.
JOÃO: O que tiver que acontecer comigo irá acontecer com ela perto...(ele olha para os tios e, em seguida, para a prima) Ou não?
Josué e o irmão se entreolham.
RAÍZA: ‘Cê’ tá certo, João. (ela mira em Josué) Eu não sou a salvadora de ninguém...E eu não vou nesse baile. Quero evitar ir a certos lugares...
JOÃO (volta os olhos pra comida): Fugir do Marco não vai fazê-la esquecer do que houve...
RAÍZA (põe os cotovelos sobre a mesa e tampa o rosto): Ai eu não aguento mais isso!
Ela se levanta, pega o prato e coloca dentro da pia.
BRUNO: ‘Peraí’ filha!
Raíza sai da cozinha e vai ao banheiro.
Fecha a porta. Passa as mãos nos cabelos e se apóia no lavatório.
RAÍZA (murmura): Será que vou ouvir isso até quando, meu Deus?
Ela olha pro espelho retângulo, preocupada.
RAÍZA (murmura): Ari...O que ela queria me dizer...Por que sumiu?...
A garota abre a gaveta, apanha a escova e no lavatório, o creme dental.
Termina de escovar os dentes e pára olhando para a porta. Um silêncio toma conta do ambiente. Abre a porta, caminha até a cozinha e não vê ninguém.
RAÍZA: João?...Pai?...
Nem sinal. Raíza sai do apartamento assim, do jeito que está, sem bolsa.
Desce as escadas correndo e a medida em que descia, os corredores se iluminam mais.
As lâmpadas estão acesas. Já é noite.
RAÍZA (em OFF): Isso não pode estar acontecendo, não pode...
[EXT.]
Anda até o portão, portão de ferro com desenhos diferentes e se volta no mesmo instante.
RAÍZA: Ari?
CORTA PARA
CENA 6 Continuação...
RAÍZA: ‘Cê’ quase me assusta, garota!...Mas como soube que eu estava morando aqui?
ARI: Eu te segui (ela move as mãos em direção ao peito e as tira, ao mesmo tempo) Raíza...Eu preciso de ajuda...
RAÍZA: Isso eu já sei, mas...Que tipo de ajuda? O que você quer?
Ari faz uma longa pausa. Seu olhar mescla sofrimento e desespero.
ARI: ‘Cê’ precisa acreditar em mim, já será alguma coisa...Eu...Eu não queria...Aconteceu, sabe...
RAÍZA: Não, não sei. Conta logo!
ARI: Eu não queria ter matado meu pai!
Raíza se espanta; Ela dá um passo para trás.
ARI: Você tem medo de mim?...Como os outros...
Raíza evita responder.
RAÍZA: ...Se você foi acusada de um crime, isso explica por que você foge, não?
ARI (tom assustado, olhar disperso): Eu tento fugir, mas ele...Ele fica na minha cola...
RAÍZA: Ele quem? A polícia ‘né’?
Ari toca suas mãos, mãos pálidas.
ARI: Eu nunca contei isso pra ninguém, mas...Eu preciso contar pra alguém se não eu...Se não eu nem sei viu...
Ari larga suas mãos e exibe seu pulso.
ARI: Tá bem aqui, ó. Uma cruz que me batizaram quando pequena por meu pai...
RAÍZA: Ari! Você tam...Você...Tem poderes? É isso?
Reação em Ari.
CORTA PARA
CENA 7 CAFÉ-DÓRIA [INT./INÍCIO DA TARDE]
Marco, sentado numa cadeira ao fundo da cafeteria, mostra-se impaciente. Olha o relógio, toma um gole do suco de laranja e olha o relógio novamente.
VOZ MASCULINA: Marco?
MARCO (olha pro alto): Mas até que enfim, hein! O que você fica fazendo antes de vir pra cá?
Matias não move uma ruga de expressão por conta do estresse daquele sujeito.
MATIAS: Me perfumando pra você é que não seria ‘né’.
O rapaz senta, faz um sinal pro garçom.
MATIAS: Um café! (ele se dirige a Marco) Você paga ‘né’? (pausa)...Você podia ter escolhido um lugar melhor, não? E não essa espelunca que nem sequer servem cerveja.
MARCO: Eu não quero que você trabalhe bêbado. Se lúcido você já faz besteira...
MATIAS: Humm...O que você quer de mim?
MARCO: Que você faça o serviço direito! (ele muda o semblante, aparenta mais calmo e seguro) Hoje será a festa à fantasia na boate...Um dia perfeito pra terminar em tragédia...
MATIAS: Ahnn...Diz logo quem é a vítima. Trouxe uma foto?
Marco tira a carteira de dentro da camisa branca. Matias joga seu olho gordo tentando ver alguma grana e Marco afasta a carteira.
Saca uma foto e a mostra para o sujeito.
MATIAS: Humm...Bonita, hein...Sua namorada? Te traiu, é isso?
MARCO: Você não é pago pra especular e sim, pra executar o serviço.
MATIAS: Eu posso fazer como eu quiser?
MARCO: Desde que não deixe pistas...
Matias admira a foto. É Valentina.
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 8 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./INÍCIO DA TARDE]
Ari e Raíza estão em pé no portão. Ari olha por todos os lados.
RAÍZA: Seu pai mandou que te batizassem pra te proteger contra tudo de ruim? Nada lhe atinge?
ARI: Nada me atingia...Por que... Quando eu não aguentava mais viver brigando com as pessoas, tendo que arrancar sangue pra continuar com a proteção eu me revoltei...Chega uma hora que é preciso fazer algo além...
RAÍZA (conclui): ‘Cê’ teve que matar seu pai? Foi isso?
ARI: Não! (tom alterado) Eu não fiz nada, juro!
Raíza segura seus ombros para controlá-la.
RAÍZA: Calma!...Tá tudo bem... Então...O que aconteceu?
ARI: Eu tinha que matar SEU pai!
Raíza recua o passo, estasiada.
RAÍZA: Como é que é?
ARI: Mas eu me recusei! Como eu não queria cumprir então entrei num acordo com esse cara...Ele dizia que podia me livrar dessa cruz que carrego aqui (ela estica o braço) e que meu pai se recusava.
RAÍZA: Isso...É possível?
ARI: Não. Ele me enganou. Eu fiz algo que não devia...O ajudei e...(longa pausa).
RAÍZA: E? Onde entra seu pai nessa história?...(ela murmura)...Entrava ‘né’...
Ari contorce os dedos.
ARI: Então... Eu empurrei meu pai do telhado num acesso de fúria, Raíza...Ele... Ele vivia me dizendo que eu não podia dar as costas para o poder que me foi imposto e que...E que por isso eu os estava perdendo...E aí, um dia, aqueles que prejudiquei viriam até a mim me cobrar essa dívida...
RAÍZA (medo): Será que não tinha outra solução?
ARI: Sob pressão a gente faz qualquer coisa. (ela segura seus ombros e a olha no fundo dos olhos)...Raíza aconteça o que acontecer, não deixe o ódio tomar conta de você...Não deixe!
RAÍZA: Por que ‘cê’ tá falando isso, Ari?...Que ódio?
ARI: Preciso ir...(ela larga a amiga e dá as costas).
RAÍZA: Ari! ‘Peraí’! Onde você tá morando?
ARI (gritando): 16! Rua 16!
Ari corre, Raíza vai atrás, mas ao alcançar a esquina não a vê mais.
RAÍZA (murmura): 16...
Olha para o caminho por onde veio e agora ela está olhando para o corredor do...
APTº 403...
Raíza está fora do banheiro e Bruno a olha da cozinha.
BRUNO: Raíza vem almoçar direito...A gente não fala mais no Marco tá?
A garota olha para ele com olhar meio distante.
RAÍZA: Como?...Eu...Já lavei a boca e...
Bruno, Josué e João Batista a olham imóvel.
RAÍZA: Eu vou sair...Tchau!
BRUNO: Raíza! Onde é que ‘cê’ vai, menina?... (ele se dirige aos presentes) Agora é assim; Sai a hora que quer e nem dá satisfação...
João tem um olhar curioso.
CORTA PARA
CENA 9 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Raíza está no portão, olha para trás. Parece procurar alguém.
RAÍZA (murmura): Aquilo só pode ter sido o futuro...A Ari devia estar aqui...
A garota permanece no portão, coloca as mãos na cintura e nada acontece.
RAÍZA: Já sei quem pode me ajudar!
Raíza anda em passos largos até que começa a correr.
VOZ MASCULINA: Raíza?
A garota olha pro outro lado da estrada e vê Cipriano. Ele atravessa.
RAÍZA: O que tá fazendo aqui?
CIPRIANO: Eu vim conversar com você...Saber como você está.
Raíza está com semblante preocupado.
CIPRIANO: Você ia a algum lugar? Tô te atrapalhando, não é?
RAÍZA: Não!...Ahn...O que queria me dizer?
CIPRIANO: Se não se incomodar a gente podia ir tomar alguma coisa...
RAÍZA: Ahn...Alguma sugestão?
Ele sorri.
CORTA PARA
CENA 10 CAFÉ-DÓRIA [INT./TARDE]
Assim que Raíza entra ao lado de Cipriano, Marco a olha, surpreso. Os dois se encaram.
Raíza passa do seu lado e Matias olha para a janela a fim dela não ver seu rosto.
RAÍZA (engole o orgulho): Boa tarde...
Marco, com aquela cara de esnobe, balança a cabeça correspondendo.
Ela e Cipriano se sentam logo adiante.
CIPRIANO: Você ainda cumprimenta?
RAÍZA: E por que eu não cumprimentaria?
CIPRIANO: Ora Raíza...Eu fiquei sabendo o que houve...Desculpe, mas...O povo comenta.
Raíza faz que vai olhar pro lado, na direção de Marco, porém desiste.
CIPRIANO (cont.): Sinceramente, tipos como ele você deve fingir que não vê.
RAÍZA: E dá a chance dele perceber que fiquei ressentida?
CIPRIANO: Então você ficou ressentida?
Silêncio. O garçom se aproxima.
GARÇOM: O que desejam?
CIPRIANO: Pra mim, um café bem forte. E você, Raíza?
RAÍZA: Eu não vou querer nada, ‘brigada’.
O garçom se afasta.
CIPRIANO: E então? Você ficou ressentida?
RAÍZA: Olha Cipriano se me chamou aqui...
CIPRIANO: Desculpe...Na verdade eu queria saber...Como...Como você está...
RAÍZA: Você quer saber...(ela estende o braço sobre a mesa e olha para o próprio pulso)...
CIPRIANO: Parece que o seu pai te contou tudo, não?
RAÍZA (flashback):
Ari e Raíza estão em pé no portão. Ari olha por todos os lados.
RAÍZA: Seu pai mandou que te batizassem pra te proteger contra tudo de ruim? Nada lhe atinge?
ARI: Nada me atingia...Por que... Quando eu não aguentava mais viver brigando com as pessoas, tendo que arrancar sangue pra continuar com a proteção eu me revoltei...Chega uma hora que é preciso fazer algo além...
(Fim do flashback)
CIPRIANO: O que foi?
A garota levanta o braço, passa a mão pela testa e em seguida, apóia o queixo na mão.
RAÍZA: Ahn...Eu sei que você só fez isso pra me salvar, mas...Foi só por isso mesmo?
O garçom chega com a bandeja e põe o café, o açúcar e a colher sobre a mesa. Logo se afasta.
CIPRIANO: Que outra razão me faria tomar essa atitude? (ele toma um gole do café).
RAÍZA: Eu não sei...(pausa)...Eu vou ter que...Como é que vou dizer?...(ela aproxima o rosto) Eu vou ter que pagar por isso?
Cipriano finge se engasgar e põe a xícara na mesa.
CIPRIANO: Que isso, Raíza?...Salvar uma vida é uma benção...
RAÍZA: Nossa...Falou igual meu pai...
CIPRIANO: Seu pai é um sábio (falsa admiração)...Pena termos crenças diferentes...Espero que essa cruz não esteja lhe dando aborrecimentos...
Raíza olha adiante, dispersa.
CIPRIANO (cont.): Está?
RAÍZA: ...Ahn...Não...Fora a invisibilidade que tem até me ajudado, nada mais de anormal aconteceu...
CIPRIANO: Mas não foi isso que lhe perguntei.
RAÍZA: Ahn...É quase a...Mesma coisa...Eu...(ela se levanta)...Vou ao banheiro...Licença.
Ela caminha até uma porta e abre. Entra num...
TOILLETE...
Fecha a porta atrás de sim.
RAÍZA (em OFF): Nossa! Não imaginava que um banheiro de cafeteria fosse tão bonito...
Os pisos são brancos com detalhes em vermelhos. Azulejos brancos estão até a metade onde segue um detalhe rosa por toda sua extensão. A parte de cima tem pintura rosa mais claro, os lavatórios tem pedra mármore azul e as portas dos banheiros, brancos.
Raíza está impressionada.
Ouve-se o som de música eletrônica do lado de fora.
Raíza caminha até o lavatório e se olha no espelho.
RAÍZA: E agora?...Não posso contar que vejo o futuro e aí não posso falar sobre o que a Ari me contou...Será que foi o Paulo que, não conseguindo ajuda dela pra matar meu pai, mandou outro fazer o serviço?...Será que ele tinha alguma coisa a ver com o batismo dela?
A porta é aberta abruptamente. Três garotas rindo, cada uma com sua fantasia, adentram o toillete.
Uma veste roupa country. A outra, policial e a terceira, paletó, terno e gravata fazendo estilo masculino.
Raíza olha para elas como se aquilo fosse muito normal.
GAROTA: E aí, colega? Gostei da fantasia, hein.
Raíza se olha e depois se vira pro espelho. Está vestida de carrasco.
Numa expressão de susto, ela corre, abre a porta e fecha os olhos por causa das luzes.
CORTA PARA
CENA 11 L.A HOUSE [INT./NOITE]
Há muita gente, o som é forte e as luzes gritantes.
RAÍZA (em OFF): Essa é a festa à fantasia...Mas...Eu não lembro de ter entregue o convite...
Ela olha de um lado e vê gente fantasiada de capeta; Do outro, pirata. E mais adiante, outro carrasco.
RAÍZA (em OFF): Outro carrasco?...
Ela caminha entre as pessoas, tenta chegar mais perto, o outro carrasco está de costas. Naquela confusão, surge um outro carrasco e golpeia o outro da mesma fantasia. Há uma aglomeração e Raíza, desnorteada, olha a vítima no chão.
Em seguida, corre atrás do carrasco, vai para os fundos e pára no meio da calçada.
RAÍZA (murmura): Outro que perco de vista...
Quando se volta à boate dá de cara com um espelho. Observa em volta.
TOILLETE...
O toillete está diferente; Só há dois banheiros, um pequeno lavatório. Os pisos são brancos, mas sem detalhes em vermelhos. Os azulejos são azuis e vão até a metade.
RAÍZA (extasiada): Não é possível...(põe as mãos na cabeça).
Vai até a porta que é aberta por uma garota. As duas param e Raíza passa direto.
Chega na mesa onde está Cipriano e mantém-se de pé.
RAÍZA: Demorei?
Cipriano olha o relógio de frente da cafeteria.
CIPRIANO: Nem cinco minutos.
RAÍZA: Ah...Eu...Eu tenho que ir...
CIPRIANO: Não, tudo bem. Desculpe se eu te atrapalhei em alguma coisa.
Raíza e Cipriano se dão as mãos e ela vai embora.
Cipriano leva a xícara à boca olhando para Marco. Este também o olha.
CENA 12 APTº 215 [EXT./TARDE]
Raíza toca a campainha. A porta é aberta por uma mulher loira, cabelos ondulados até o pescoço, sorridente.
A aparência de Raíza é de cansada, agoniada.
MULHER: Raíza! Entre, entre!
A garota entra com as mãos nos bolsos, aparência cansada.
RAÍZA: Oi dona Diva!...O Dcr...
DCR: Raíza?
Dcr aparece na sala com um pano preto nos braços. Diva fecha a porta.
É uma sala grande, sofás vinho, mesa de centro em cima de um tapete vermelho e bege, paredes brancas.
DCR: Vi você entrando na cafeteria com um cara...
RAÍZA (dá uns passos): Meu tio...
DCR: Tio? Seu tio?...Nossa! (ele olha meio que de lado) O que ele andou tomando que parecia meio...Diferente?
RAÍZA: Dc...Num era o Josué; Era o Cipriano.
DCR: Cipriano?...É...Tenho muito que ainda descobrir.
O silêncio é constrangedor.
DCR: Tá, mas...Ainda bem que ‘cê’ veio. Olha que belezura que minha mãe costurou (ele exibe a roupa).
Raíza anda devagar até ele e pára um pouco afastada.
RAÍZA: Isso parece...
DCR: Uma fantasia de carrasco? Acertou.
A garota cai sentada no sofá sem acreditar.
DCR: ‘Cê’ pode vestir pra mim? Pra eu ver como fica (ele troca um olhar de cumplicidade com a mãe).
DIVA: Eu não gosto nada disso...Você sabe que por mim você nem ia ‘né’?
MULHER: Deixa disso, Diva. Se eles não saírem por causa de uns e outros eles não saem pra lado nenhum.
A outra mulher, de cabelos ondulados e igualmente loiros, mas compridos surge do corredor. Tem a boca pequena, olhar esperto, aparenta uns 40 anos.
DIVA: Mas não há necessidade deles irem numa festa de gente mascarada, Helena. Se acontecer alguma coisa todos ficarão impunes.
DCR: Ai mãe, a senhora já pensa no pior.
Raíza arregala os olhos negros, estica o braço esquerdo e aponta o dedo para Diva fazendo movimentos.
RAÍZA: Ela tá certa! A gente nunca sabe quando seremos golpeados...
DCR: Nossa, mas do que ‘cê’ tá falando?
HELENA: Dos golpes da vida, suponho.
RAÍZA: É...Os golpes da vida...De um maníaco que aproveita uma noite de festa pra sair matando por aí...
DCR: Meu Deus! Outra terrorista. Olha, Raíza, veste isso aqui pra mim, veste.
Raíza põe a mão na fantasia fazendo cara de medo. Logo começa a se vestir.
DCR: Eu sei que não é uma bela fantasia, mas fazer o que? Foi a única mais barata que arrumei pra você.
Raíza pára de se vestir e olha pro amigo, extasiada.
RAÍZA: Como assim? Eu seria o carrasco?
DCR: Seria não. Será!
RAÍZA (tirando a fantasia): Ah agora é que não vou mesmo!
DCR: Ah não! Minha mãe teve o trabalho de costurar.
RAÍZA: Eu num disse que não queria ir? Poxa Dc!...(pausa) Olha...Eu não vim aqui falar do baile tá?...Podemos conversar?
CORTA PARA
CENA 13 QUARTO DE DCR [INT./TARDE]
Raíza entrega a fantasia ao amigo e senta no sofá.
RAÍZA: Você conhece alguma rua 16?
DCR: Rua 16?...16...16...Pra quê ‘cê’ quer saber?
RAÍZA: Sabe ou não sabe?
DCR: Não, mas...Essa é o tipo de rua que deve existir aos montes.
RAÍZA: Mas você nunca ouviu falar de uma em especial?
Dcr titubeia.
DCR: Mas por quê?
RAÍZA: É que...Lembra que hoje cedo eu quase fui atropelada?...Então, eu vi a Ari.
Dcr muda a expressão rapidamente para uma de surpreso.
DCR: Ari? Ari Torgano?
RAÍZA: É...(ar pensativa) Ela estava tão péssima...
DCR: Por que ela te procuraria? Seria mais fácil ela procurar a mim ou a Rafaela.
RAÍZA: Não sei...Só sei que ela queria ajuda. Você sabe o que poderia ser?
DCR (distante): Não faz sentido.
RAÍZA: Quê?
DCR (se levanta): Isso é impossível!
A garota se assusta com sua convicção.
RAÍZA: Por que impossível?
DCR: Raíza...Como é que...Não, você deve...
Raíza se levanta. Semblante fechado.
RAÍZA: ...Ter sonhado? Eu não sonhei. Eu sei distinguir sonho de realidade e aquilo foi real.
DCR: Ela se mudou! (ele fala rápido como se guardasse isso há muito tempo) No dia da formatura em 2004 ela não apareceu. Fiquei sabendo que ela se mudou. Nunca mais a vi...
RAÍZA: Então é isso! Ela deve ter se mudado pra essa rua 16. Vou procurar um mapa na Internet. Em alguma rua 16 ela tem que está!
DCR: Raíza vai ser muito difícil você encontrar. Essa rua pode ser enorme como a Av. Brasil...
RAÍZA: Ou curta. Como é que vou saber se não procurar?
Dcr faz uma cara de derrotado.
DCR: Por que você não a espere te procurar, hein? (ele lhe entrega a fantasia) Toma, caso mude de idéia.
A garota olha séria para a roupa.
RAÍZA: Eu não vou a essa festa.
DCR: Considere um presente da minha mãe.
A garota pega, dobra a fantasia. Expressão de conformidade à força.
RAÍZA: Tenho que ir.
Raíza caminha até a porta, Dcr vai atrás e abre.
DCR: Vai esperar a Ari te procurar?
A garota não responde de imediato. Logo prensa os lábios e balança a cabeça afirmativamente.
RAÍZA: Tchau...
Dcr fecha a porta e se volta para a sala. Diva olha pra ele com ar de preocupada.
CORTA PARA
CENA 14 PORTARIA [EXT.]
Raíza atravessa a portaria em passos rápidos.
Ao lado do portão está Ari, semblante entorpecido. Raíza passa direto, não vê.
Em seguida, perto da saída do quintal, Raíza pára.
1º plano – Rosto de Raíza.
Vira o rosto devagar e sorri ao ver a amiga.
RAÍZA: Ari!
CORTA PARA
CENA 15 Continuação
RAÍZA: Você quer que eu te ajude a fugir?...Mas isso é...Isso é muito perigoso... ‘Peraí’! Você já fugiu!
Ari passa as mãos pelos cabelos, olhar aceso, aparentemente desnorteada.
ARI: Você não entende...Não entende...Eu tenho que fugir pra sempre!
RAÍZA: Eu... Eu não consigo entender, mas...Eu não conheço ninguém influente que...
ARI (a olha de repente, ar medonho): Você conhece alguém influente sim! (segura seus ombros) Eu preciso que alguém me tire de lá de qualquer maneira!
RAÍZA: Calma...
Ari a sacode.
ARI: ‘Cê’ tá me ouvindo? De qualquer maneira! De qualquer maneira!
Ouve-se passos nas escadas.
Ari se assusta, larga Raíza e atravessa o portão correndo.
Raíza faz o mesmo, mas pára, frustrada.
[POV de Raíza]
A rua está vazia.
CORTA PARA
CENA 16 L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Há muita movimentação na frente da boate. Muitas pessoas com todo tipo de fantasia.
Alguém, em primeira pessoa, observa tal movimento. Caminha e vemos que de costas é um carrasco. Entrega o convite e entra.
Outro alguém, em primeira pessoa, olha para cima: L.A HOUSE iluminado.
Vai até a entrada, de costas é outro carrasco. Vira o rosto pro lado. É Matias.
[INT.]
Em primeira pessoa, alguém se aproxima de Rafaela e Dcr, respectivamente de detetive e policial. Toca os ombros dos dois.
VOZ DE MULHER: Oi gente.
DCR (se volta e se surpreende): Raíza? Você veio!
A garota sorri em sua fantasia de carrasco.
DCR: O que te fez mudar de idéia?
RAÍZA: Sua mãe costura muito bem... (ela gira os olhos em todo o salão) Não podia desperdiçar esse talento.
RAFAELA (de celular nas mãos): ‘Cê’ já viu o Marco? Acho que veio fantasiado de mafioso, num sei.
Raíza mira em Marco do outro lado, sem máscara e vestido com uma camisa vermelha, paletó e calça preta. Seus cabelos loiros estão com gel.
RAÍZA (em OFF): Cara de mafioso ele já tem...Dono de cassino clandestino ele já é...
DCR: E então, Raíza? Gostou de nossas fantasias?
RAÍZA: Hã?...Ah...Uma dupla infalível.
Raíza avista Cael usando roupa e chapéu no estilo década de 40.
RAÍZA: Gente, aguenta firme aí que já volto.
Ela passa por eles. Os amigos não entendem a pressa.
Há muita gente na frente, Raíza tenta ultrapassar, mas desiste quando o perde de vista.
RAÍZA (murmura): Mas hoje tô perdendo todo mundo de vista...
Quando se volta esbarra em alguém. Raíza levanta um pouco a cabeça sem deixar ser vista.
MARCO (estranha): Ops, desculpe...Ora ora se não é outro carrasco? Ou você caiu do salto, Valentina? (riso sacana).
Raíza avança, esbarra forte nele e o deixa ali com cara de tacho.
RAÍZA (em OFF): A Valentina também veio fantasiada de carrasco?
A garota se perde dos amigos e acaba chegando no bar. Observa as pessoas bebendo, o barman sacolejando as garrafas, preparando os coquetéis.
É empurrada pelas costas, de repente.
RAÍZA: João? Olha o que você fez?
João fantasiado de pirata e segurando um copo, passa a outra mão em sua roupa.
JOÃO: Pensei que não viesse.
RAÍZA: Isso não vai adiantar nada, tô toda molhada!
JOÃO: Também não exagera ‘né’? (ele tira a bandana vermelha de si e entrega a ela) Vai lá no banheiro e tenta secar com isso.
RAÍZA: Banheiro?...Mas...(olha adiante e não encontra Cael)...Acho que dá pra ir...
TOILLETE [INT.]
Percebe-se que o toillete é o mesmo do seu mundo paralelo quando estava na cafeteria.
Ouve-se o som de música eletrônica do lado de fora.
Raíza caminha até o lavatório, se olha no espelho e esfrega a bandana na roupa.
RAÍZA: Ainda bem que é preto por que se não...
A porta é aberta abruptamente. Três garotas rindo, cada uma com sua fantasia, adentram o toillete.
Uma veste roupa country. A outra, policial e a terceira, paletó, terno e gravata fazendo estilo masculino.
RAÍZA: Ai, mas que susto!
GAROTA: E aí, colega? Gostei da fantasia, hein.
Raíza se olha e depois se vira pro espelho. A tensão é nítida em seu rosto.
RAÍZA (murmura): Vai acontecer de novo!
Ela corre, abre a porta e fecha os olhos por causa das luzes...
[POV de Raíza]
Ela vê um carrasco dançando, torna-se invisível e corre até ele.
Pára ao ver Ari próxima da chapelaria.
[POV de Raíza]
Ari está vestida com camisa de força.
RAÍZA (murmura): Ari?!
Olha pro lado e vê que já está do lado do outro carrasco.
Expressão de medo.
Perde a invisibilidade, vira pro outro lado e recebe uma pancada na cabeça.
Raíza cai pelas costas de outro carrasco.
Algumas pessoas param de dançar para assistir à cena.
O agressor, também de carrasco, foge.
No outro plano, Ari, atônita, vê um rapaz com uma máscara branca a olhá-la profundamente, surpreso. Ela corre.
MARCO: O que aconteceu aqui?
De costas, Raíza põe as mãos na cabeça, mostra sentir dores.
As pessoas fazem uma roda diante dela e Cael aparece, assustado.
Marco suspende a carrasco e toma um susto ao ver de quem se trata.
MARCO (decepcionado): Raíza? Você?
Cael abraça Valentina e toca os ombros de Raíza.
CAEL: Você está bem? Viu quem fez isso?
Raíza ainda está atordoada.
RAÍZA: Era...Outro carrasco...
MARCO: É melhor levá-la pro hospital, se não vai dar problema pra gente.
RAÍZA: Não precisa...Eu tô bem (ela olha pra direção da chapelaria) Eu tô bem...
Ela sai no meio do tumulto, apressa o passo.
Rafaela olha seu celular, maravilhada. Cutuca Dcr.
RAFAELA: Três algozes agitaram essa noite...Aonde você viria isso, hein?
DCR: Credo, Rafa! A Raíza foi apunhalada e você acha graça?
L.A HOUSE [EXT.]
Raíza vai até a calçada e não vê em parte alguma a Ari.
RAÍZA (em OFF): Por que ela não me esperou, caramba?
Alguém a puxa pelo braço.
MARCO (furioso): O que ainda faz aqui, seu... Ah é você...
RAÍZA: E quem você esperava que fosse?
Marco aperta seu braço, instintivamente.
A garota solta seu braço das mãos dele. Ele a segura novamente.
MARCO (calmo): Quem você estava procurando, hein?
RAÍZA: ‘Cê’ tá me machucando...
MARCO: Ah...Desculpe (ele a solta) Mas e então? Se perdeu de alguém?
Raíza observa sua expressão tensa.
RAÍZA: Ninguém...
Ela dá as costas e Marco a vê indo embora. A raiva é aparente em seu rosto.
FADE OUT
FADE IN
CENA 17 MANSÃO – SALA [INT./NOITE]
Cael, Valentina e Marco chegam em casa. Marco vai até o bar e se serve.
Cael observa. Está no corredor, de frente para Valentina que se mostra assustada.
CAEL: Vai ficar tudo bem tá? (ele toca seu rosto e sorri singelamente) Você vai passar a noite aqui.
Os dois se beijam, ela sorri, olha para Marco e sobe as escadas.
Cael vê quando ela vira o corredor. Volta a olhar pro irmão que continua de pé.
Caminha até ele olhando-o fixo, pára no bar e se serve também. Encosta-se no bar ao lado do irmão. A cena mostra os dois de costas.
CAEL: Será que Raíza tem inimigos?
MARCO: E eu vou saber?
Silêncio. Marco toma um gole de whisky.
CAEL: Ela parecia meio dispersa...Amanhã eu vou ligar pra saber como ela está. Não quero que pense mal da boate.
MARCO: Você está preocupado com a reputação da boate ou com ela?
CAEL: Também...
MARCO: Você devia é estar preocupado com a sua namorada.
CAEL: Mas eu tô...
MARCO: Pois não parece. Está tratando o episódio de hoje como extraordinário. Perto do que essa garota já fez o que aconteceu hoje não foi nada.
Cael olha pra ele com ar desconfiado.
CAEL: O que foi que ela te fez pra você tratá-la nesse tom?
Marco o encara.
MARCO (sonso): Ela não me fez nada. (pausa) Eu só não me sinto na obrigação de gostar dela.
Ele põe o copo sobre a mesa do bar e dá as costas.
Cael abaixa a cabeça, vira o rosto pro lado, pensativo.
CORTA PARA
CENA 18 APTº 403 – SALA [INT./NOITE]
A cena vai se aproximando de Raíza, sentada de frente pro ‘pc’. Ouve-se o som do teclado. Raíza aparenta cansaço.
Bruno surge no corredor à esquerda.
BRUNO: Até agora eu tô impressionado; Você evita o futuro dos outros e não evita o seu.
RAÍZA: Me distraí com a Ari.
BRUNO: Você ainda insiste nisso, hein? Por causa dela ou da aparição dela, não sei, você arriscou sua vida, filha! Onde isso vai parar, me diz?
RAÍZA: Talvez seja o preço que eu tenho que pagar por ter sido salva um dia...
Bruno faz cara de inconformado e respira fundo.
BRUNO: E será que o Marco tá pagando por ter sido salvo por você?
Close no rosto dela.
CORTA PARA
CENA 19 MANSÃO – SALA [INT./NOITE]
Marco está ao celular, de frente para a estreita janela.
MARCO (mantendo a calma): Como é que você foi deixar isso acontecer, hein?...(pausa)...Passe de mágica? Ninguém aparece num passe de mágica, Matias (pausa)...De qualquer maneira o golpe teria sido fraco; Se aquela garota suportou imagine a Valentina...(pausa)...Você anda cometendo falhas. Acho bom prestar atenção no que faz.
Ele desliga o celular, olha fixo pra janela.
MARCO (murmura com raiva): Raíza...
FUSÃO PARA...
CENA 20 APTº 403 – SALA [INT.]
Raíza franze as sobrancelhas por algo que vê na Internet. Apanha o celular na mesa e disca.
RAÍZA: Dcr? Encontrei a rua 16, fica bem distante daqui.
DCR (V.O): Ah...É? E...O que pretende fazer?
RAÍZA: Ir até lá! Em alguma daquelas casas ela deve estar. Você vai comigo?
DCR (V.O): Raíza por que essa obstinação? Por que não a espere te procurar?
RAÍZA: Eu a esperei, ela me procurou e não deu certo. Agora é minha vez de ir atrás. E parece que vai ser fácil viu; É só descer na clínica e...
DCR (V.O / assustado): Clínica? Que clínica?
RAÍZA: ‘Peraí’...É clínica de recuperação – Novo Horizonte. Vai me servir como ponto de referência.
CORTA PARA
CENA 21 APTº 215 – QUARTO [INT.]
Dcr faz uma pausa, treme os lábios.
DCR: Tomara que você tenha sorte...(pausa) Tchau.
Ele desliza o fone pelo rosto, desliga. Sua expressão é de preocupado, medo de algo. Permanece quieto e olha para baixo.
[POV de Dcr]
TOCANDO: Prelude 12/21 – A.F.I ->

Ele olha o porta-retrato onde estão ele, Ari, Raíza e Rafaela no tempo do colégio.
CLOSE em Ari.
Ele deixa o celular ao lado do retrato.
FUSÃO PARA...
CENA 22 LUGAR DESCONHECIDO
CLOSE nos pés de duas pessoas andando por um largo corredor. Chegam numa porta, ela é aberta.
Eles entram no quarto e param em frente a uma cama.
HOMEM 1: Ela dormiu o dia todo ontem.
A cena vai subindo e mostra, de costas, o rosto de perfil de um médico com um prontuário em mãos.
HOMEM 2: Juro que pensei tê-la visto ontem...
O médico olha-o de lado, o outro também. É Cipriano. A imagem ao fundo está embaçada.
MÉDICO: Não há como alguém escapar daqui.
CIPRIANO: Não duvido. Mas acho melhor ela continuar...Repousando.
MÉDICO: Ela está calma. Quer que eu continue com a dosagem?
Silêncio.
CIPRIANO: Continue.
Ele vira e aparece Ari, deitada na cama. Descabelada, presa com camisa de força, olheiras e aparência frustrada.
Cipriano sai do quarto e caminha pelo...
CORREDOR...
[efeito câmera lenta]
Desce as escadas, passa pelas paredes frias, alcança o pátio.
Os pacientes, desorientados, sorrisos largos, tentam aproximar-se dele.
Ele, tranquilamente, entrega ao porteiro seu crachá de visitante, despede-se. O portão é aberto.
A cena sobe devagar e mostra a placa:
Clínica de Recuperação – Novo Horizonte.
FADE TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO

 

Autora:

Cristina Ravela

Elenco:

Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Valentina (Alinne Moares)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Dcr (Aaron Ashmore)
Ari (Nathália Dill)
Cipriano (Thiago Rodrigues)

Participação Especial:
 
Diva (Júlia Lemmertz)
Helena (Thaís de Campos)
Matias (Ângelo Paes Leme)

Trilha Sonora:

Prelude 12/21 – A.F.I

Produção:

Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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