0:00 min       RAÍZA     SÉRIE
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RAÍZA


Série de
Cristina Ravela

Episódio 12 de 20




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FADE IN
CENA 1 MANSÃO [INT./MANHÃ]
A cena abre no corredor, passa para a sala. Ouvimos vozes vindas do escritório.
ARI (O.S): Eu queria agradecer a oportunidade que você tá me dando.
A cena entra no escritório, de frente. Ari está sentada, Raíza de pé e Cael sentado à frente delas com um laptop.
CAEL: Agradeça a Raíza; Seu anjo da guarda.
Dcr está bem atrás das meninas com uma câmera digital.
DCR: Vira, Ari. Faz pose com o seu contrato de experiência.
Ari ri, pega o contrato e vira-se para a câmera. Ouve-se um click.
CAEL: Espero que você goste do ambiente. Trabalhar em chapelaria de boate não é fácil, mas também não é difícil.
ARI: Quando a gente sai de uma clínica, tudo se torna fácil.
Dcr abaixa a cabeça. Sorri sem muita vontade.
CAEL: Bom, você sabe que não poderá ter carteira assinada...Enfim...
ARI: Eu sei, eu sei. Não sou uma cidadã comum.
Cael sorri sem graça. Depois, franze as sobrancelhas e uma ruga de expressão se instala em sua testa enquanto olha para a tela do laptop.
CAEL: Mas o que é isso?
Os visitantes, naquela sala pouco iluminada, se entreolham.
RAÍZA: Algum problema?
CAEL: Ahn...Recebi um e-mail estranho...
DCR (brincando): Isso é muito comum comigo também...
Raíza faz sinal pra ele.
RAÍZA: Deve ser coisa séria, ‘né’ Dc...(ela se aproxima do lado da mesa) Posso ver?
[POV de Raíza e Cael]
Na tela, aparecem fotos de Paulo e Raíza e mensagens de texto trocadas com ela.
Raíza arregala os olhos.
RAÍZA (em OFF): Não é possível...
Cael abre as mensagens e levanta a cabeça para ela.
CAEL (receoso): O que a sua foto e a do Paulo estão fazendo aqui?
Raíza não reage e Dcr observa, olhar inquieto.
CORTA PARA
CENA 2 CLÍNICA NOVO HORIZONTE [EXT.]
A cena mostra um corredor, paredes brancas, extintor de um lado. Vozes vêm de algum quarto.
QUARTO...
É um quarto pequeno, de janelas altas e cortinas curtas.
Vemos, por enquanto, um médico, com um prontuário em mãos, de frente para a cama.
MÉDICO: Tem certeza que quer tirá-lo daqui?
A cena vai virando e surge Marco, sorrindo friamente, com as mãos nos bolsos.
MARCO: Com certeza.
Ele direciona os olhos para baixo e a cena acompanha. Na cama, sentado e de olhar fixo, parecendo não entender o que está sendo dito, está Paulo. Paulo de Queiroz.
A tela se fecha num baque.




1X12 ACERTO DE CONTAS


FADE IN
CENA 3 MANSÃO – ESCRITÓRIO [INT./MANHÃ]
Cael está inconformado, mas mantendo o controle. Ari está tensa.
CAEL: Por que não me contou antes?
Ele é educado, mas seu olhar é de quem já reprova antes de saber a verdade.
RAÍZA: Quando eu soube...Ele já ‘tava’ morto e eu achei que não tinha mais nenhuma importância.
CAEL: Não tem importância? Mas aqui ele diz que você conhece todos os segredos dele...
Raíza dá uma pausa. Engole a saliva.
RAÍZA (alterada): Isso não é verdade! Eu não lembro dele ter escrito isso.
CAEL: E naquela vez que ele esteve aqui? Você não o reconheceu?
RAÍZA: Fazia anos que a gente não se falava e...Quando ele finalmente me mandou as fotos dele eu deixei esquecido no pc.
CAEL: E por que nunca mais falou com ele?
Dcr e Ari se entreolham. Raíza enrijece os músculos, pressionada.
RAÍZA: Perdi contato. Eu...Não sei o que tá havendo, mas...Ele não me escreveu todas essas coisas.
CAEL: Você quer dizer que alguém pegou suas mensagens, deturpou e mandou pra mim? Por que fariam isso? Ele está morto há dois meses. Por que alguém remexeria nisso agora?
Raíza suspira, vira o rosto para Dcr.
DCR: Olha, eu tô de prova que ela nem sabia quem era ele direito. Ficou tão assustada quanto você, Cael.
ARI: Gente, isso é fácil resolver; É só você, Raíza, trazer os textos originais e comparar com esses daí.
A garota larga os braços num gesto de estresse.
RAÍZA: Eu não vou trazer nada, quer saber? Pra mim CHEGA!
A moça apanha a bolsa da cadeira e sai sem olhar para trás.
CAEL: Raíza! Espere!
CORTA PARA
CENA 4 APTº 403 – SALA [INT.]
A fechadura faz um barulho alto de chaves.
João Batista espicha o olho por cima do monitor, assustado e a porta é aberta. Raíza entra e bate com a porta. Joga a bolsa sobre o sofá e cruza os braços, inquieta.
JOÃO: A Ari não veio contigo?
RAÍZA (nervosa): Tá vendo ela aqui?
JOÃO: Nossa! Mais amor no seu coração, hein.
Raíza senta, encosta a cabeça no sofá, pensativa.
JOÃO: Você veio da casa do Cael ‘né’?...Não brigou com ele não, né? Olha ele é uma mina de ouro eu já te disse isso.
RAÍZA (levanta, batendo as mãos no sofá): Ai, mas que droga! Vê se não enche!
A garota apanha a bolsa e passa ao seu lado. O primo dá uma levantada da cadeira e a puxa pelo braço.
JOÃO: Eu não falei por mal, ‘cê’ sabe.
RAÍZA (alterada): Não, eu não sei, João...
CORTA PARA
CENA 5 APTº 403 – QUARTO [INT.]
A garota joga a bolsa na cama e caminha até a janela. Sai para a sacada e debruça sobre o ferro.
RAÍZA (em OFF): Por que isso tá acontecendo?...Como aquelas fotos foram parar com o Cael? (pausa) Quando não é uma coisa é outra, é impressionante (longa pausa) Mas também, o Cael não tem obrigação nenhuma em acreditar em mim...(pausa) Ainda vem esse João com aquela cara de pau, pff...(ela olha diferente para o ferro e vai se afastando) melhor sair daqui...
Ao voltar-se para dentro do quarto, Raíza está com um semblante amargo, aparenta desalento e raiva contida. O quarto está diferente de quando ela entrou.
[POV de Raíza]
Observa que sobre a cômoda, dentre outras coisas, falta o porta–retrato de Rafaela ao lado de Dcr, Ari e o seu. Ela aproxima, em passos vacilantes, apanha o porta-retrato de Ari e uma lágrima escorre sobre seu rosto.
De repente, ouve-se um barulho de roda vindo da sala que a desconcentra. É estranho, mas a garota faz cara de insatisfeita como se aquilo fosse comum. Coloca o retrato de um jeito que cai deitado na cômoda.
Abre a porta e, ao adentrar a sala, vê seu primo sentado numa cadeira de rodas de frente pro computador e com as pernas enfaixadas.
JOÃO (raiva): O que é? Ainda tá admirando seu feito?
A imagem da cadeira de rodas vai esmorecendo até parecer uma cadeira comum.
JOÃO: O que foi, Raíza? Mudou de idéia? Vai contar o que houve?
RAÍZA (confusa): O...O quê? O que aconteceu?
JOÃO: Eu que te pergunto! O que houve na casa do Cael? Não brigou com ele, não ‘né’?
Raíza muda sua expressão e antes de responder mal, a porta é aberta.
BRUNO (entra apressado): Mas quem deixou essa porta destrancada, hein?
Raíza dá as costas pro primo e corre pra falar com o pai.
BRUNO: Eu vim no carro da empresa só pra pegar aquele projeto... ‘Cê’ sabe...Quer dizer, não sei se você sabe...
Ele vai até o...
QUARTO...
A filha vai atrás com uma cara tensa.
BRUNO: Mas que cara é essa, filha? A Ari não conseguiu a vaga? ...Eu sabia! É esse preconceito por ela já ter estado numa clínica...Ah não gosto nem de mencionar o nome...Mas diga a ela que...
RAÍZA: Ai, pai! credo! Deixa eu falar!
João está parado no corredor fingindo não querer se meter, mas louco pra ouvir o que aflige a prima.
RAÍZA: Eu não sei nem como começar...
Bruno abre o guarda-roupa, vasculha.
BRUNO: Ah minha filha, então comece do fim porque do jeito que...Ah achei!
RAÍZA: Armaram contra mim!
Bruno, com o projeto nas mãos, se volta, com olhar franzino.
RAÍZA: Não sei como, mas o Cael recebeu um e-mail com as fotos e as mensagens que troquei com Paulo...
BRUNO: Tá, mas o que...
RAÍZA: Escuta. As mensagens foram editadas. Tinha coisas que eu jamais diria como, por exemplo, ‘Se o cara tá te incomodando, vai lá e dá um fim nele!’
BRUNO: Que horror! Parece que querem te prejudicar...Mas se seus arquivos não saíram daqui, como foram parar no e-mail dele?
João apóia-se na entrada do quarto do tio.
JOÃO (tom intrigante): Não foi o Dcr que fez uma cópia do nosso HD? (pausa) Ah, mas tá com você...Num é?
RAÍZA: Será que o Dc perdeu o cd e não me falou nada?
JOÃO (insinua): Vai ver ele não perdeu...
Raíza lhe dá uma olhada. Se volta para o pai.
RAÍZA: O Cael deve tá pensando que eu era a cúmplice desse Paulo.
BRUNO: Mas isso é um despropósito! (ele a envolve com o braço e saem do quarto) Se foi você mesma quem o alertou para a hipótese desse cara não ter agido sozinho.
CORREDOR...
JOÃO: Quem sabe ele não ache que isso foi uma estratégia dela...
RAÍZA: Eu vou falar com o Dc... Eu não posso ficar com uma imagem ruim, ‘né’.
Bruno pára e segura nos ombros dela. Ela tem uma ruga de expressão na testa.
BRUNO: Filha, por que se preocupa tanto em provar que é inocente? Vocês se conhecem não deve ter nem três meses e...Não acho que é o suficiente pra ele confiar em você.
JOÃO (logo atrás): É. Você precisaria salvar a vida de todos da família dele pra isso.
RAÍZA: João, pelo amor de Deus, ‘né’!
O rapaz volta pro computador com um sorriso sacana.
BRUNO: Filha, você sabe quem era o cúmplice, isso basta pra você ficar com a consciência tranquila.
RAÍZA: Mas isso o Cael não sabe e eu não vou contar que o irmão dele junto do Paulo boicotou a boate, ‘né’...
CLOSE em João, surpreso.
FADE OUT
FADE IN
CENA 6 MANSÃO – SALA [INT./MANHÃ]
A cena mostra as mãos de mulher segurando uma garrafa de vodka e um copo. Está se servindo e ouve-se o tilintar do copo. Valentina contrai o rosto e olha para trás. Marco está sentado no sofá, de frente para ela, de pernas cruzadas.
VALENTINA: Desisti do doutor Miranda... (ela toma um gole).
MARCO: Bebendo a essa hora da manhã, suponho que não tenha desistido por vontade própria...Forças das circunstâncias, querida?
Valentina anda até ele e senta ao seu lado. O sofá está de costas para a escada.
VALENTINA: Resolvi usar outros métodos pra engravidar...
MARCO: Além do tradicional?
A moça pára o copo entre os lábios o encarando.
VALENTINA: Não quero saber de inseminação artificial...Eu sei que posso engravidar normalmente...Só preciso de sorte.
Marco a encara como quem a esperar outra resposta.
VALENTINA: Ai tá bom!... Parece que o Cael mandou tirar tudo do hospital...
O cara esboça um sorriso meio escondido.
VALENTINA: Tá rindo de quê, hein?
MARCO: Não, nada...Olha, veja pelo lado positivo: Ele acredita que você pode dar um filho a ele...
VALENTINA: Você acha? Acha que ele ia querer?
CAEL: Ele ia querer o que? (Cael adentra a sala com os olhos em cima dos dois).
CORTA PARA
CENA 7 APTº 215 – SALA [INT./MANHÃ]
Raíza, sentada no sofá de couro bege, folheia o jornal do dia.
Dona Diva aparece com um copo d’água e estende a mão. Raíza pega e sorri. Toma duas goladas.
RAÍZA (devolvendo o copo): ‘Brigada’...(pausa) Será que ele vai demorar muito?
O som da chave se faz na fechadura e Dcr entra.
DCR: Raíza! Eu fui levar a Ari pra casa e me disseram que você veio pra cá.
RAÍZA: ‘Tava’ com ela até agora?
O rapaz olha para a mãe, sem graça. Dona Diva deixa os dois a sós e sai.
Dcr senta no sofá de frente, Raíza apóia os braços sobre os joelhos e curva o corpo para frente.
RAÍZA: Você lembra do cd que você fez a cópia do meu hd? Pra destrinchar aquele lance lá?... ‘Cê’ tá com ele, ‘né’?
Dcr leva o corpo para trás, esboça tensão.
DCR (nervoso): Claro...Tá lá no quarto...
QUARTO...
Dcr abre o guarda-roupa, puxa uma caixa preta, põe sobre a cama. Trêmulo, vira os cd’s e encontra o que procura.
DCR (mãos trêmulas): Tá aqui.
A garota, sentada, nota seu nervosismo.
RAÍZA (preocupação): Você nunca mostrou esse cd pra mais ninguém...Num é?
Ele a encara, com expressão estranha.
DCR: Claro que não...
RAÍZA: Ai, Dc...Eu não quero que você pense que tô te acusando viu, mas é que não consigo imaginar o que houve...
DCR: Você já parou pra pensar se esse Paulo também salvou suas conversas e alguém descobriu?
Ela o encara com ar de quem já imaginava quem o teria feito.
FADE OUT
FADE IN
CENA 8 APTº 215 – QUARTO [INT.]
Dcr está sozinho, apanha o celular na mesa de cabeceira e disca.
DCR: Rafaela? Diz pra mim: Aquele cd que eu esqueci na sua casa...Você não fez uso dele não, ‘né’?
RAFAELA (V.O): Bom dia pra você também, Dcr.
DCR: Responde, Rafaela! É importante.
Há uma pausa.
RAFAELA (V.O): Olha Dc eu nunca faria uso de algo que não é meu, ‘cê’ sabe.
DCR: VOCÊ SABE que eu não sei, não é?
RAFAELA (V.O): O que acontece é que, certo dia...Bem...Eu perdi a cópia que fiz...
DCR: Você chegou a fazer uma cópia, Rafa? Você não me espanta mais, sabia?
RAFAELA (V.O): Mas eu não faço por mal, poxa...Olha eu perdi a cópia e quem me devolveu foi...Foi o Marco.
Dcr arregala os olhos e põe a mão na testa franzindo o rosto.
CORTA PARA
CENA 9 MANSÃO – SALA [INT.]
Cael está se servindo de whisky e atrás dele está Marco, sentado no sofá.
MARCO: Essa Valentina é uma entojada. Não sei como você a aguenta.
CAEL: É só um jantar que ela quer, Marco. (ele se volta com o copo na mão) Acho que você tá precisando arrumar uma namorada, casar...Não pensa em casar?
MARCO (sorri): O dia em que eu me casar será com uma mulher especial...Capaz de me fazer feliz.
CAEL (sorri ironicamente): Será que essa mulher existe?
Os dois fazem cara de dúvida.
CORTA PARA
CENA 10 RUAS DA CIDADE [FIM DA MANHÃ]
A cena mostra ao longe, Raíza caminhando pela calçada.
A estrada está pouco movimentada e o sol está fraco.
A cena se aproxima da garota, ela desvia de um galho do arbusto que ornamenta a calçada. Olha para trás, faz que vai atravessar, mas algo à sua direita chama sua atenção.
É Valentina, de costas, celular à mão, com aquele vestido preto, largo e estranhíssimo, andando fora da calçada. Aquela rua não é estrada principal.
Vê, adiante, uma loja de produtos naturais, ervas ou qualquer coisa do gênero. Estranha.
RAÍZA: Nunca tinha visto essa loja aqui antes...
Imediatamente, um carro acelera a frente de Valentina.
RAÍZA: CUIDADO!
Valentina olha para o veículo, corre, largando o celular ao chão.
O carro dá uma guinada e pega Valentina de lado. Ela rola e cai no chão, inerte. O carro some.
Raíza corre naquele cenário e pôde enxergar o número da tal loja: 1320. Mas à medida que se aproxima mais, a loja não mais existe e o corpo de Valentina vai tomando formas tão minúsculas que desaparece.
VOZ FEMININA: Tá louca? (uma senhora está num portão) pedir cuidado pra um gato...
Raíza olha ao seu lado, acima do muro, um gato preto escapar, assustado.
RAÍZA: É que...Eu amo gatos...
FADE OUT
FADE IN
CENA 11 [INT./FIM DA MANHÃ]
A cena adentra uma sala, pouco arejada e panos brancos cobrem os móveis. O chão é de taco e as portas de ferro.
A cena entra no porão da casa. Paulo está sentado numa cama, Marco está de frente para uma cômoda.
INSERT – mãos de Marco.
Ele serve uma bebida num copo, põe a mão por dentro do paletó e tira um pequeno frasco. Há comprimidos moído.
PAULO (olhos arregalados): Foi a Valentina...Foi ela que entregou o dvd pro Cael. Aquela vadia...
Marco vira, estende o copo e Paulo pega. Toma tudo.
MARCO: Resolva logo esse seu problema com ela...Seu tempo aqui é curto. E não posso mantê-lo aqui por muito tempo.
PAULO: Mas essa é a minha casa!
MARCO: Você nem devia estar aqui. Só te tirei da clínica porque aquilo já estava ficando mau frequentado...
PAULO: Aquilo É mau frequentado.
MARCO: Vamos esquecer isso...
Paulo joga o copo no chão, levanta e agarra em seu colarinho.
PAULO (alterado): ‘Esquece’, porque não foi você quem ficou lá, ‘né’?
MARCO (mantendo a calma): Você preferia a prisão?
PAULO: Eu devia acabar com a tua raça, seu verme!
MARCO: Mas você quer acabar com a Valentina, não? Ela que começou tudo...
Paulo larga dele, senta, olhar arregalado.
PAULO (sem olhar para ele): Tem certeza que ela foi pr’aquelas bandas?
Marco sorri.
Ouve-se um celular tocar. Marco tira o celular do bolso, olha o visor, mas não reconhece o número.
MARCO: Alô?
VOZ MASCULINA (abafada): Raíza sabe que você e o falecido Paulo eram cúmplices. E não vai querer ficar mal diante do Cael por sua culpa...(Bip Bip Bip).
O telefone é desligado na cara de Marco. Paulo faz sinal pra saber quem era.
MARCO: Nada de mais...Lembrei que existe outra pessoa que te acusou perante o Cael...
Os dois se olham e Marco tem uma expressão maquiavélica.
CORTA PARA
CENA 12 RUAS DA CIDADE [INÍCIO DA TARDE]
Raíza está numa calçada, celular nas mãos, disca.
RAÍZA: Alô, Dc! Preciso que você me ajude numa coisa.
APTº 215 – SALA [INT.]
DCR: Negócios sujos, outra vez?
Ouve-se uma risadinha do outro lado. Silêncio.
DCR: Loja de ervas?...Naquela rua? Número 1320? Ué, claro! É a loja da minha tia.
CORTA PARA
CENA 13 LOJA 1320 [ INT./INÍCIO DA TARDE]
Helena está atrás do balcão conferindo uns frascos sobre a mesa. Raíza entra. Está de uniforme escolar, bolsa transversal, sorriso sem graça, meio tensa.
HELENA: Raíza! Finalmente veio conhecer a minha loja?
Raíza dá uma boa olhada em toda a sua volta.
RAÍZA: Ahn...É...É que o Dcr disse que...(ela continua a olhar tudo) Que a senhora tem ervas muito boas para ativar a memória...
HELENA (desconfiada): Humm...Claro...(ela pega um frasco dentre os que estão no balcão) Esse aqui é ótimo.
Raíza pega, olha minuciosamente.
Helena pega outro, de cor vermelha e a entrega.
HELENA: Esse aqui ó... Revigora as forças...
Raíza dá uma olhada, desconfiada e maliciosa.
RAÍZA: Humm, quais forças?
HELENA: Ora, Raíza...Seu problema é realmente memória?
VOZ FEMININA: Boa tarde!
Raíza reconhece a voz de Valentina e não olha.
VALENTINA: Eu gostaria de uma poção...Daquelas que dá energia, sabe?
HELENA: Ah num é que eu ‘tava’ mostrando pra Raíza esse aqui ó (ela entrega o frasco) Um dos melhores que eu tenho.
Raíza e Valentina se olham, estranhamente.
Valentina, sem graça cumprimenta balançando a cabeça.
VALENTINA: Também está precisando...Desses?
HELENA: Ela veio atrás de um remédio pra memória...
Valentina paga, dá as costas, de cara amarrada.
Chega da porta, olha para ambos os lados e sai.
[EXT.]
Ouve-se o celular tocar. Ela, meio atrapalhada, tira o celular do bolso e atende. A voz é profunda e estranha.
VOZ MASCULINA: Como tem passado sem mim?
VALENTINA: Quem tá falando?
Adiante, bem a frente dela, há um carro preto, vidros escuros.
[INT./ CARRO]
[POV do motorista]
Valentina anda pela calçada na direção do carro.
VOZ MASCULINA: Não reconhece mais a voz de seu amado?
VALENTINA: Eu só tenho um amado e garanto que não é você...
Ela faz que vai desligar.
VOZ MASCULINA: O Cael? Aquele pra quem você me denunciou?
Valentina estaca na calçada, pálida.
VALENTINA: Quem tá falando? Anda! Diz logo!
VOZ MASCULINA: Sempre apressada, hein...Achou mesmo que eu nunca saberia que foi você quem mandou aquele vídeo que fazemos pro Cael? Aquele em que eu confesso ter boicotado a boate.
VALENTINA (olha para ambos os lados): Que brincadeira é essa?
VOZ MASCULINA: Eu vou te mostrar se tô brincando...
INSERT – mão do motorista no freio de mão
O carro acelera.
Valentina recua, vira-se e deixa o celular cair. Corre desesperada e quando o carro está próximo, alguém a puxa para dentro da loja.
[INT./CARRO]
O carro pára e o motorista olha pelo retrovisor. Vê Valentina ao lado de uma garota.
HOMEM: Droga! Essa garota me paga!
LOJA 1320 - SAÍDA [INT.]
RAÍZA: Você tá bem?
VALENTINA: Como você sabia que... (ela sorri, nervosa interpretando mal) Isso tem o seu dedo não tem? Você não tá nessa loja à toa...Quer me tirar do caminho pra ficar com Cael ‘né’?
RAÍZA: Que isso? Eu...
VALENTINA: Aposto como aquele cara do carro não era o Paulo...Isso deve ser coisa sua tá! Ele tá morto, MORTO, entendeu?
E dá as costas.
HELENA: Credo! Essa foi a maneira dela te agradecer?
Raíza observa Valentina ir embora, desconfiada.
RAÍZA: Não sei...
CORTA PARA
CENA 14 COLÉGIO FRANÇA – PORTARIA [EXT./INÍCIO DA NOITE]
Raíza anda apressada. Atravessa a estrada e olha para trás, desconfiada.
Torna a caminhar em passos largos.
ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
A cena mostra Raíza vindo pela calçada. Abre a bolsa, caça alguma coisa e puxa um molho de chaves.
Se aproxima do portão, a luz do poste bate ali perto.
Alguém se aproxima pelas suas costas, ela se vira e imediatamente a mão desse alguém cobre sua boca com um pano. Entorpecida, Raíza é carregada por um homem até um carro preto.
Adiante, vem Ari que olha assustada para a cena rápida.
ARI: EI! EI!
O carro acelera, dá uma guinada para a beirada da calçada e Ari se a joga para trás caindo sentada rente ao muro.
CORTA PARA
CENA 15 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Ari, Bruno e João Batista estão na calçada.
ARI: Foi muito rápido, seu Bruno. Eu gritei e quase jogam o carro em cima de mim.
Um Toyota pára o carro em frente. Cael sai, bate a porta e todos olham para ele, aflitos.
CAEL: O que aconteceu?
JOÃO: A Raíza. Ela foi sequestrada!
Cael, estupefato, não consegue nem sair do lugar.
CAEL: Mas...Como? Já chamaram a polícia?
ARI: Eu anotei a placa do carro, mas o seu Bruno acha...
BRUNO (tom misterioso): Eu acho que já sei quem tá por trás disso...
CORTA PARA
CENA 16 COLÉGIO FRANÇA [INT./NOITE]
Cipriano caminha até um carro verde.
INSERT - Ele coloca a chave e abre a porta
Alguém segura em seu braço e o faz voltar.
CIPRIANO: Que isso? (pausa) Bruno? Que violência gratuita é essa?
Bruno aperta seu colarinho.
BRUNO: Violência você vai ver se não devolver a Raíza agora!
Alguns alunos param para assistir a cena.
CIPRIANO: Raíza? Ela foi pra casa. (pausa) Ou será que ela anda desvirtuando do caminho, hein (irônico).
Bruno o aperta contra o carro.
BRUNO: Eu não tô de brincadeira! Cadê a Raíza? O que fez com ela dessa vez?
CIPRIANO: Você está muito alterado...Precisa se acalmar.
BRUNO: Eu só vou me acalmar quando me disser por que a sequestrou!
CIPRIANO: O quê? (finge não saber) A Raíza foi sequestrada?
BRUNO: Não finja que não sabe! Da última vez que você a sequestrou ela sumiu por 4 anos! Eu não quero que isso volte a acontecer!
Cipriano solta de seus braços.
CIPRIANO: Eu não tenho nada a ver com isso. (finge) Mesmo porque, eu não tenho mais como conseguir a cruz de volta se é isso que te preocupa.
BRUNO (ainda alterado): E quem ia querer levá-la? Eu não tenho dinheiro, que motivos fariam alguém fazer isso?
CIPRIANO: Muitas vezes, ajudando um é atrapalhar outro...Você sabe...
Bruno o encara sem entender.
FADE OUT
FADE IN
CENA 17 CASA DE PAULO – PORÃO [INT./NOITE]
O porão, mal iluminado, está sujo, teias de aranha espalhadas pelas cadeiras, móveis velhos.
A cena vai se aproximando pelo chão. Raíza é vista de lado, sentada, inconsciente, com as costas para uma parede, braços para trás. Uma luz ilumina seu rosto e em seguida, é obstruída por uma sombra. Raíza se mexe, abre os olhos devagar.
[POV de Raíza]
A imagem está embaçada, mas ela vê alguém encapuzado a sua frente.
RAÍZA (voz fraca): Quem é você? O que quer comigo?
O sujeito não diz nada. Ele aponta uma arma para a garota e com a outra, retira o capuz. Se agacha e a pouca luz de fora entra pela fenda da janela gradeada. O rosto de Paulo é revelado.
RAÍZA (surpresa): Não pode ser...Paulo?
TOYOTA [INT./NOITE]
Cael dirige, nervoso. Ao seu lado está Bruno, tenso. À frente vemos carros de polícia.
CAEL: Fique calmo, Bruno. A polícia sabe o que tem que ser feito.
BRUNO: Eu tô calmo, eu tô calmo...(ele olha para Cael) Você não?
CASA DE PAULO – PORÃO [INT.]
Paulo está com ar desorientado, olhos molhados e vermelhos, uma expressão medonha. Sua mão treme a pontaria.
PAULO: Então você é Raíza? A garota que adora atrapalhar a vida dos outros, num é mesmo?
RAÍZA: Você não tinha...(vacila a voz)Morrido?
PAULO: Quem sabe...
Raíza tenta se levantar e Paulo encosta o calibre em sua testa.
PAULO: ‘Tu’ fica aí mesmo que é assim que você será encontrada quando descobrirem seu corpo.
RAÍZA (medo): Mas o que foi que eu te fiz, me diz? (expressão de dor).
PAULO: Agora você não sabe? Por que você tinha que salvar a Valentina, hein? Quem você pensa que é pra salvar a vida daquela vagabunda? Hein?
RAÍZA (mexe os braços): Isso aqui tá me machucando...
PAULO: Você quer que eu te solte, quer? (ele soca seu rosto com a arma) tá pensando que sou idiota, é?
Raíza vira o rosto, seu supercílio sangra.
PAULO (sarcástico): O que é? É fortezinha a garota, hein.
Raíza se sacode.
RAÍZA (grita): Eu não merecia estar aqui!
Paulo balança a arma na mira dela, nervoso.
PAULO (grita): Você fica quieta!
RAÍZA: Você não tá assim só por causa da Valentina!
Paulo aproxima o rosto do dela.
PAULO (esbraveja): Quem é você pra achar que sabe como eu tô, hein? Quem? Você não sabe nada! Você não sabe o que é passar 1 dia sequer naquele inferno de clínica! Sabe? Não sabe!
Raíza se levanta e ele faz o mesmo empurrando seu ombro pra baixo.
RAÍZA: E por acaso fui eu que te internei lá? Hã?
Paulo pára o olhar fixo ao léu. Vai baixando a arma devagar.
CORTA PARA
CENA 18 APTº 403 – SALA [INT.]
Ari anda de um lado e de outro, rói as unhas. João a segura pelos ombros, firme.
JOÃO: Calma Ari! Você tá muito nervosa...
ARI: E se o que tá acontecendo tem a ver com o que houve essa manhã?...E se ela pagar por uma coisa que não fez?
Josué vai até ela e a abraça.
JOSUÉ: Tudo vai se resolver, vocês vão ver.
JOÃO: Claro, a Raíza vai sair dessa...Facilmente até! (ele olha suspeitamente para o tio) Não é?
Josué não responde.
CORTA PARA
CASA DE PAULO – PORÃO [INT.]
Paulo volta a apontar a arma pra Raíza, agressivo.
PAULO: Eu não vou voltar pra lá! Nunca mais! Eu mato o Marco antes que ele faça isso de novo!
Raíza se surpreende.
INSERT – Mãos de Raíza
Raíza consegue se libertar dos barbantes, mas finge que ainda está presa.
VOLTA À CENA
RAÍZA: O Marco?...Por que ele faria isso?
PAULO (desorientado): Por que ele me quer vivo, mas longe daqui...Ninguém(sorriso trêmulo)...Ninguém pode saber que somos cúmplices, que eu o ajudei a roubar a boate... ‘Cê’ tá ouvindo? NINGUÉM!...
RAÍZA: Mas você não era amigo do Cael?
Paulo se altera e treme o cano na testa dela. Raíza treme os lábios.
PAULO: Amigo de aluguel não conta! Me arrependo até hoje de ter tentado assaltar o Marco...(ele desvia a arma e olha ao léu) Aquele infeliz não só abusou da minha falta de recursos como destruiu a minha pouca reputação.
RAÍZA (tentando manter a calma): E foi ele que te mandou aqui? Pra destruir de vez com a sua vida?
PAULO: Não! Ele disse que foi por sua culpa que ele teve que sumir comigo! Você queria me culpar pelo atentado ao seu pai! Aquele desgraçado tinha que morrer!
RAÍZA: Meu pai não matou o seu! Seu pai se suicidou!
Paulo aviva os olhos mais ainda.
PAULO: Seu pai vai morrer, vai morrer! E você não vai poder evitar porque estará morta!
Ele engatilha, faz expressão de atirar.
TOYOTA [INT.]
Bruno está cada vez mais tenso. Fecha as mãos parecendo que vai dar um soco.
BRUNO: Acelera, acelera!
CAEL: Calma Bruno! A polícia tem que chegar primeiro, a gente não sabe quantos estão com ela.
Bruno arregala os olhos.
BRUNO: Quantos?...(ele esfrega o rosto) Ai meu Deus! O que estão fazendo com a minha filha?
Cael tenta parecer calmo, mas seu semblante marca uma preocupação maior.
CASA DE PAULO – PORÃO [INT.]
Raíza levanta, avança em seu braço, os dois se agarram. Ela vira-o e bate sua cabeça, rapidamente, sobre a parede. A arma cai no chão e Paulo, de joelhos.
Raíza corre, tropeça e cai.
1º PLANO – Raíza está caída.
2º PLANO (logo atrás) – Paulo levanta devagar com a arma já empunho.
PAULO (tom sinistro): Eu ainda não acabei com você.
Raíza levanta, close em seu rosto. Ela se volta, apreensiva.
RAÍZA: Paulo...Não faça isso...Não era esse tipo de pessoa que eu imaginava que você fosse...Quando te conheci na internet...
O rapaz não entende.
RAÍZA: A gente conversava tanto...Lembra do trabalho de matemática que você me ajudou? Você sempre entrava com o nome de ‘PDQ’...Sempre foi muito reservado...Até que me enviou aquelas fotos...
O rapaz engole a saliva, olha para baixo mirando a arma nela.
PAULO: E você nunca mais me respondeu...(sua voz quase some) Você me dava bons conselhos...E eu nunca segui nenhum. (pausa profunda) Mas por quê? Por que tinha que ser você?
RAÍZA: As coisas não precisam terminar assim...
PAULO (olhar frio): Agora é tarde demais...Se eu te deixar viva, você me denuncia...E o Marco me mata. Ele não perdoa falhas.
[Efeito câmera lenta]
[INSERT – Mãos de Paulo na arma]
Sua mão fricciona o gatilho.
A cena vira e adiante, Raíza fecha os olhos.
Paulo aperta o gatilho que percorre pelo caminho.
[FIM do efeito]
A bala bate contra a parede.
Paulo, aturdido, vira para trás. Não vê nada. Volta a olhar para frente e se assusta ao ver Cipriano.
CIPRIANO: Boa noite.
Cipriano segura a mão onde está arma e com a outra, injeta uma ampola no pescoço de Paulo.
Paulo grita. Cipriano retira a ampola, a arma de Paulo cai e ele, perde as forças caindo em seguida. Logo atrás está Raíza, surpresa.
RAÍZA: Você...Você pode ficar invisível?
CIPRIANO: Está no sangue, Raíza...Você sabe...
Raíza vê o corpo do rapaz estirado inerte ao chão.
RAÍZA: Ele tá morto?... (O silêncio dele diz tudo) Meu Deus! Você o matou?
CIPRIANO: Surpresa? Eu sei que a você ele não mataria fácil, mas duvido que seu pai teria a mesma sorte...
Ele põe a mão na calça, tira um celular e exibe para a garota.
RAÍZA: O que...
CIPRIANO: É o celular dele...(ele aperta um botão).
[POV de Raíza]
A garota assiste ao vídeo gravado da cena anterior.
RAÍZA: Mas como...?
CIPRIANO: Você pode ajudar o Micael a saber que tipo de irmão ele tem...Ou não. Não se preocupe que nem tudo foi gravado; Parei antes de você desaparecer.
RAÍZA (feliz): Isso quer dizer que posso provar que não sou cúmplice do Paulo...
CIPRIANO (falsa surpresa): Ele te acusou disso? (Ele toca seu rosto e acaricia) Se ele gostasse de você, não seria preciso provar nada...
RAÍZA: Ele não tem por que gostar de mim.
CIPRIANO: Nem você tem que provar nada.
RAÍZA: Mas pelo menos eu jogo na cara dele que eu falava a verdade...
CIPRIANO: Você que sabe...Mas se o fizer, terá que fazer isso sempre...
Ouvimos um som vindo do alto da escada. Raíza olha pra lá à direita, a porta é aberta violentamente.
Raíza guarda o celular, dois policiais descem e em seguida, Cael e Bruno. Raíza vira e não vê mais Cipriano.
BRUNO (abraça a filha): Você tá bem? Ele te fez...(olha assustado para o corpo de Paulo e sussurra)...Você...
POLICIAL: Ele está morto...O que aconteceu aqui?
Raíza olha para o pai e para Cael, sem jeito.
RAÍZA: Ele passou mal na minha frente...Parecia...Totalmente desnorteado.
Bruno abraça a filha novamente e Cael, por trás, faz que vai tocar seus cabelos. Mas desiste.
FADE OUT
FADE IN
CENA 19 APTº 403 – QUARTO [INT./NOITE]
João está de frente para a cama de Raíza com um celular à mão. Aperta um botão.
Ouve-se o som de passos no corredor e João torna a colocar o celular no bolso da calça da prima, que está sobre a cama.
Raíza entra no quarto.
RAÍZA: Oi João...O que foi?
João se volta com cara de desolado.
JOÃO: Você realmente não vai mostrar o vídeo pro Cael?
Raíza se aproxima da calça e retira o celular.
RAÍZA: Eu não tenho por que fazer isso...A minha inocência não pode depender da briga entre irmãos.
JOÃO: Você prefere terminar essa história assim? Você como a culpada?
Raíza olha chateada para ele, retira a bateria do celular e o chip.
RAÍZA: Talvez essa história não tivesse que ter começado...
Ela pega uma tesoura, corta o chip e o arremessa junto da bateria janela fora.
A bateria espatifa numa pedra grande.
CORTA PARA
CENA 20 MANSÃO – CORREDOR [INT./NOITE]
Marco faz que vai subir a escada quando vê que a porta de correr da sala está aberta. Se aproxima e vê malas no chão da sala. Desce a pequena escada até elas, sem entender. Vê, então, Cael, muito sério, sentado na poltrona diante de um laptop na mesa central.
MARCO: Vai viajar, Cael?
CAEL: Eu não...Mas você vai.
Marco franze as sobrancelhas, abismado. Cael olha para o laptop com a proteção de tela ativada.
CAEL: Não quis te dar o trabalho de fazer suas malas. Tudo que é seu está aí. Se eu esqueci de algo mande alguém buscar porque aqui... (ele torna a olhar pro irmão) Você não pisa mais!
MARCO: Do que você está falando? O que te deu, homem?
Cael aperta uma tecla do laptop e um vídeo é exibido. Cael aperta ‘play’ e vira o laptop para o irmão. Assim que o vídeo é mostrado, Marco empalidece. É o vídeo em que mostra Raíza e Paulo discutindo no porão da casa dele.
CAEL: O problema, Marco, não é o que me deu, mas o que me fazem. (ele pausa o vídeo no rosto de Raíza).
MARCO: Cael! Você não vê? Esse homem está morto! Como que...
CAEL (se levanta): O que eu vejo é que você me enganou esse tempo todo! Quando lembro que por sua causa acusei o Camilo e duvidei da Raíza... (ele fecha as mãos) Me dá uma vontade de...(ele respira fundo) você queria eliminá-la...A Raíza! Justo quem, um dia, salvou tua vida!
MARCO: Então é isso? Você acreditou nesse vídeo porque quer acreditar que essa garota é inocente?
CAEL: Espera aí. Então foi você quem mandou aquelas fotos? Você queria incriminar a Raíza?
MARCO: Eu não disse isso, você está pondo palavras na minha boca.
CAEL: Você queria acabar com ela! Se não fosse por ela você estaria morto!
MARCO: Mania de se pegar a detalhes! E se ela não tivesse aparecido? Eu teria morrido, é isso?
CAEL: Mas o que importa é que ela apareceu!
MARCO(nervoso): E se? E se não tivesse aparecido? Eu teria morrido como se minha vida dependesse dela me salvar? Pára com isso! Até quando vai defendê-la? Acha que Deus permitiria que o futuro a pertencesse?
CAEL (falsa calma): Vai embora... (Cael se senta, ar cansado) Eu ainda tenho coisas a resolver.
Marco fecha o semblante. Apanha as malas, olha para o irmão e Cael desvia o olhar. Marco dá as costas.
Tocando: This Time Imperfect – AFI ->

Cael, de cara amarrada, o vê partir.
FUSÃO PARA
CENA 21 CASA DE VALENTINA [INT.]
A cena passeia por um corredor estreito, de pisos caramelo. As paredes são amarelas em um tom claro e há neles pequenos quadros de pintura colorida e em relevo.
A sala de jantar é pequena e bem iluminada. Há uma mesa redonda de tampa de vidro e acima dela, três ramos de flores vermelhas e um castiçal com duas velas apagadas. A cena vira devagar e mostra Valentina, sentada à mesa com os cotovelos sobre ele e as mãos sob o queixo, mexendo o dedo indicador, nervosamente no rosto.
FUSÃO PARA
CENA 22 APTº 403 – QUARTO [INT./NOITE]
O quarto está escuro, a pouca luz vem do corredor. Raíza está deitada na cama, com o braço esquerdo acima da cabeça.
Ouvimos o bater na porta. Raíza dá uma olhada e vê Ari à soleira da porta. Ela entra.
ARI: Não vem jantar?
RAÍZA: Tô sem fome.
Ari se abaixa e põe as mãos sobre a cama.
ARI: Ainda pensando no vídeo?
Raíza a olha de lado.
RAÍZA: (pausa) Ainda...
ARI: Você devia ter mostrado, viu. Já ‘tava’ com a faca e o queijo na mão.
RAÍZA: É que...Se eu mostro, Cael briga com o irmão por minha culpa. Por outro lado, provo a minha inocência. (pausa) Mas aí penso que o Cipriano tá certo (Ari esboça insatisfação ao ouvir aquele nome) Se eu acho que preciso provar alguma coisa vou ter que fazer isso sempre.
Bate um silêncio entre as duas.
RAÍZA: A verdade é que nem uma coisa e nem outra me deixa em paz.
ARI: Mas se você já detonou com o celular não tem por que ficar assim. Você já fez a sua escolha.
Raíza olha para ela com ar decidido, levanta e senta na cama.
RAÍZA: Quer saber? ‘Cê’ tem razão! Eu fiz o certo, sim! Se não vou passar a minha vida inteira provando ter dignidade e nunca saberei quando alguém, realmente confia em mim.
Ouve-se o som da campainha.
João chega da porta do quarto, de olhar aceso.
JOÃO: Raíza, é o Cael. Ele quer falar contigo.
Raíza e Ari se entreolham e Raíza aparenta um certo medo.
SALA...
Raíza e Cael se olham como se fosse a primeira vez.
CAEL: Vim pedir desculpas por hoje cedo e...Pelo Marco.
Raíza sorri timidamente.
RAÍZA: Não peça desculpas por ele. Você já fez isso outras vezes, lembra?
Os dois sorriem.
RAÍZA: Mas por que pede desculpas por ele? O que ele fez dessa vez?
Ele a olha, admirado.
CAEL: Ele mandou te matar!
Raíza não entende.
CAEL: Ele mandou o Paulo te matar...Em pensar que eu confiava nos dois...
RAÍZA (seu sorriso vai sumindo): Do que você tá falando?
CAEL: Eu assisti ao vídeo e fiquei horrorizado...
Raíza, confusa, não consegue dizer nada.
CAEL: O vídeo que você me mandou.
Raíza mira em João, desconfiada.
CAEL (cont.): Tenho até vergonha de olhar na sua cara...Agora percebo que eu estava enganado...
RAÍZA: O que foi que você disse? (tom sério e triste).
Ele olha sem graça para os outros.
RAÍZA (cont.): Você agora acredita em mim por causa... Do vídeo?
Os que estão na sala se entreolham.
CAEL: Não!...Não foi isso que eu quis dizer...
RAÍZA: Olha, seja como for, não fui eu que te mandou esse vídeo.
CAEL: Não?
RAÍZA: Não. Eu jamais faria algo pra causar briga na sua casa.
CAEL: Ele tenta acabar contigo e você ainda quer poupá-lo?
RAÍZA: Eu quase fui morta por causa disso (pausa / os dois se fitam). Por causa de um assunto que não me diz respeito.
Cael abaixa a cabeça, passa a mão pela nuca.
CAEL: Desculpe ter pensado mal de você (pausa) Alguém que salva a vida de um desconhecido não podia estar envolvida numa sujeira dessas...(pausa) Você se arrepende agora de tê-lo salvo um dia, não é?
Raíza olha pro seu pai, sentado no sofá. Torna a olhar para Cael.
RAÍZA (séria): Uma vez, uma pessoa me disse que salvar a vida de alguém é uma benção. Que não há razão no mundo que justifique deixar que alguém morra.
CAEL: Você e essa pessoa são admiráveis...Por isso fico te devendo mais essa...
RAÍZA: Não!
Os presentes se assustam e Cael não entende a negativa. A garota fricciona os lábios, olha para baixo e torna a encará-lo com cara de decidida.
RAÍZA: Você não me deve nada. A dívida não é sua. Além do mais, sou eu que te devo toda a ajuda...Pra dizer a verdade você tem toda a razão de desconfiar de mim; Você estendeu a mão pra uma desconhecida.
CAEL: E você salvou um desconhecido!
RAÍZA (alterada): Eu não quero ser lembrada a vida inteira que, um dia, salvei teu irmão! (calma) Se você vai usar esse discurso como motivo pra manter nossa amizade, não precisa mais.
João observa, estupefato. Josué está à soleira da cozinha, quieto.
Cael não sabe pra onde olhar direito. Recua o passo.
CAEL: Raíza...Eu...
RAÍZA: Boa noite, Cael.
Os dois se olham, mais uma vez, estranhamente. Cael dá as costas, põe a mão na maçaneta e pára. Parece que vai dizer algo, mas abre a porta e sai. Bruno se levanta e a fecha.
JOÃO (para Raíza): Eu não sei onde ‘cê’ ‘tava’ com a cabeça, viu? Não sei mesmo!
Raíza, confusa, observa Ari em pé no corredor.
CORTA PARA
ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./NOITE]
Cael anda rápido até o portão, pára e olha para trás. Em seguida, abre a porta do Toyota, entra e liga o carro.
Torna a olhar para o edifício.
CAEL: Eu sou um idiota...
O carro parte e, a cena vai subindo, acompanhando seu percurso até sumir na estrada.
FADE OUT
FIM DO EPISÓDIO

 

Autora:

Cristina Ravela

Elenco:
 

Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Dcr (Aaron Ashmore)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)

Participação Especial:
 
Paulo (Sidney Sampaio)
Helena (Thaís de Campos)

Trilha Sonora:

The Time Imperfect - AFI

Produção:

Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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