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RAÍZA


Série de
Cristina Ravela

Episódio 19 de 20
PENÚLTIMO EPISÓDIO DA PRIMEIRA TEMPORADA


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FADE IN
CENA 1  L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Close na boate ao longe. Ouvimos passos e a cena vai virando mostrando que alguém chega com pressa à calçada. São pés de mulher.
A cena sobe devagar revelando Raíza, num vestido preto, alças pretas transparentes e um laço na cintura cuja cauda vai até o joelho.
Porém, seus cabelos contrastam com sua roupa. Desalinhada, de maquiagem borrada e uma tensão no rosto, a garota olha a boate e corre para entrar.
L.A HOUSE [INT.]
Dcr estranha sua chegada.
DCR: Pensei que não viesse mais...
A garota observa as pessoas, o ambiente e tudo pareciam normais. O rapaz traja uma camisa cinza de gola e calça jeans.
DCR (cont.): Nossa Raíza! Quem você andou beijando que não te deu tempo nem de você se retocar?
Ela esboça raiva, mas ele não nota. A conduz até o toillete.
DCR: Vá, antes que o Cael te veja assim.
TOILLETE...
Raíza entra relutante. Vira-se pro espelho e vê seu braço marcado pelas mãos de alguém.
Close no braço.
A porta se abre e Rafaela entra apressada.
Ela percebe Raíza esconder o braço com outra mão.
RAFAELA: Amiga! Quem te fez isso?
Raíza não diz nada. Fica aquela expectativa de que alguém entraria ali ou que Rafaela desistisse da pergunta. Mas não adianta.
RAFAELA: Então, Raíza? Pode confiar em mim. Quem te fez isso?
RAÍZA (em OFF): Hum, confiar...Seria a última coisa que eu faria...
Ouvimos um estrondo, Raíza e Rafaela se abaixam com o impacto e a lâmpada acima do espelho se quebra. Em seguida, gritos soam pelo banheiro.
RAFAELA: Meu Deus! O que foi isso?
RAÍZA: Não sei, vamos sair daqui, rápido!
Elas saem, depressa.
TOILLETE [EXT.]
VOZ: CORREM! CORREM!
O fogo vai tomando pouco a pouco o lugar.
As pessoas correm, gritam, amontoam-se na entrada. Um globo de luz explode.
RAÍZA: Vai, Rafaela! Corre!
Rafaela se junta ao pessoal. Raíza se distancia.
RAÍZA: ARI! DCR!
Um grupo acaba empurrando-a e ela vai pra fora da boate.
L.A HOUSE [EXT.]
Em meio aos gritos e ao fogo que se alastra, Raíza vai se afastando até chegar ao beco. De longe, Raíza olha o beco, apreensiva.
L.A HOUSE – CASSINO [INT.]
Os clientes, alterados, saem correndo e, entre eles está Josué.
Raíza observa, invisível.
RAÍZA (murmura): Então é aqui que meu tio vem quase todas as noites?
Ouve-se mais um estrondo, Raíza olha pra cima e o pedaço do teto desaba sobre a roleta.
Pelo buraco que se abre, Raíza vê Dcr passar. A garota se volta, olhando para o teto quando este desaba.
Dcr cai de uma altura de 3 metros nos braços da amiga. Ele se olha, muito assustado e aparentemente suspenso no ar.
[1º plano]
Ele arregala os olhos, extasiado.
CAEL (V.O): TIREM A GENTE DAQUI! ESTAMOS PRESOS!
Ouve o grito de algumas pessoas dando a entender que foram pegos pelo fogo ou que algo desabou sobre eles.
RAÍZA: CAEEEEL!
De costas para a janela de vidro, Cael olha na direção de onde veio o grito e é envolvido pelas chamas.
Corta...
Raíza e Dcr, que nem imagina quem o segura, olham assustados para cima.
Parte do teto do cassino desaba por completo sobre ela e Dcr...
FADE OUT


1X19 PESADELO

FADE IN
CENA 2  APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT./MANHÃ]
Ouve-se um ruído estranho. Ari acorda, olha pro lado, Raíza não está em sua cama. Espicha pra mesa de cabeceira.
O relógio marca cinco horas.
Ela levanta, põe os pés no chão e se assusta com o que vê.
Raíza está num canto encolhida ao lado da mesa. Olhos forçadamente fechados, mãos voltadas pra cima, sobre as pernas.
Ari toca seus ombros, devagar. Raíza abre os olhos, lacrimejados, levanta o rosto e vê Ari, assustada.
RAÍZA: Ari? (sorriso nervoso) Ari...Tira ele daqui...Eu não tô conseguindo e essas pedras podem matá-lo...
ARI (murmura): Pedras? Que pedras? Acho que você sonhou.
RAÍZA: Ari, me ajuda...Você não tá vendo a boate pegar fogo?...
Ari mostra-se penalizada com sua afirmação. Raíza nota, olha para suas mãos vazias.
ARI: Você tá muito apertada aí. Vem, levanta.
Ari a ajuda se levantar.
RAÍZA (aturdida): Não...Cadê ele? (pausa) Ele sumiu! Foi esmagado! E eu não pude evitar, não pude evitar!
Ari a sacode.
ARI: Raíza! Raíza! (Raíza está transtornada) Você sonhou, tá ouvindo? Você sonhou! Olha! Você tá em seu quarto.
Raíza começa a enxergar o quarto e uma expressão de alívio se arremete em seu rosto. Ela fecha os olhos, contém o choro.
ARI: O que tá havendo, Raíza? Que sonhos são esses que parecem tão reais?
Raíza não tem resposta.
CORTA PARA
CENA 3  MANSÃO – SALA DE JANTAR [INT./MANHÃ]
Numa mesa longa, em uma das pontas está Cael. Do seu lado, Valentina e na outra ponta, Lara.
Sobre a mesa, bolo de laranja e chocolate, geléia de framboesa, torradas, sucos e café. Uma variedade que pouco se vê na casa de Raíza e que ali sobra.
Cael leva à boca uma torrada.
CAEL: Pena meu pai não estar aqui com a gente, não?
LARA: O seu padrasto (ênfase) tem negócios a resolver...Provavelmente você pouco o virá.
CAEL: Esqueci que a presença dele lhe incomoda (alfineta)... Já provou desta geléia, mãe? (ele passa a geléia na torrada)
Lara fita-o sem que ele veja. Valentina nota.
VALENTINA (disfarça): Seria bom que o meu sogro viesse porque... (ela toca a mão de Cael) Hoje é aniversário de 8 anos da boate e isso é muito importante pro Cael.
Este esboça um sorriso.
LARA: Ah eu esqueci de dar os parabéns...Para um grande empreendimento...Não seria o caso de você dar de presente para a boate um nome novo?
CAEL: Tantos anos e a senhora ainda se perturba com isso? Não se esqueça que o nome foi sugestão do Marco, hein. Ele passou tanto tempo em Los Angeles que quis fazer essa homenagem...
LARA (segura seu copo): Aquilo nem de longe parece com Los Angeles...(Ela toma um gole)
CAEL (toma o suco): Já vai começar com suas implicâncias?
LARA (desconversa): O Marco estará lá na festa?
CAEL: Se ele quiser aparecer...É só apresentar o convite.
LARA (altera): Ele é parte do que essa casa noturna é hoje! Como pode exigir que ele entre de convite?
CAEL: Ele não é trabalhador da casa...(serenamente) E ele sabe como as coisas funcionam.
Lara bate o copo sobre a mesa.
LARA: Ele é seu irmão!
CAEL: Pensei que não fizesse questão de lembrar disso.
LARA: Você se esquece que ele te ajudou a erguer aquela joça!
CAEL: E quase ajudou que ela fosse à falência...
Lara se levanta e joga o guardanapo sobre a mesa. Valentina se mostra apreensiva.
LARA: Onde estão as provas? Você fala, fala, mas não diz nada! E ele já disse que foi tudo um mau entendido.
CAEL: O que ele disser pra senhora é lei, não?
Ela aponta o dedo com ar de quem tem certeza do que pensa.
LARA: Você tem inveja do seu irmão, isso sim...Ele agora está lá, num verdadeiro empreendimento exercendo bem a profissão dele.
Cael se enfeza. Joga o guardanapo sobre a mesa, assustando a namorada e se levanta, imediatamente.
CAEL: Eu não vou ficar aqui tentando convencê-la de que eu também tenho um empreendimento e que um dia, um dia! A casa noturna se tornará um grande empreendimento também.
LARA: Isso se ela não for pelos ares antes!
Clima. Lara sai, enfurecida. Valentina está assustada e Cael, aborrecido.
CORTA PARA
CENA 4  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APTº 403- COZINHA [INT.]
Na mesa de café da manhã, há apenas uma cesta de pães, o café, servido em copos comuns e não em xícaras, e pães de fôrma também.
Bruno está sentado numa das pontas da mesa quadrada e pequena. Josué, na outra ponta; Raíza, de frente para Ari e ao seu lado, João Batista. Raíza abocanha o pedaço do pão e olha para o tio, meio de canto. Ari a observa.
RAÍZA (em OFF): Quer dizer que ele deu pra frequentar cassinos...E a beber...O que será que o motivou a isso?...
JOSUÉ: O que é, Raíza? (incomodado) Quer falar alguma coisa? É a minha barba que tá por fazer, é? (ele toca o próprio rosto)
Raíza acorda de seus pensamentos.
RAÍZA: O senhor vai vir direto pra cá quando sair do colégio?
Josué e os demais se entreolham. Ele gagueja, não encara a sobrinha e toma o gole do café antes de responder.
JOSUÉ: Por quê? Por que a pergunta?
RAÍZA: É que o senhor tem chegado tarde, ‘né’...
Ari abaixa a cabeça. João bate com o copo na mesa.
JOÃO: E o que você tem a ver com isso, Raíza? Era só o que faltava ele ter que te dar satisfação, ‘né’?
RAÍZA: Eu perguntei pro meu tio, tá?
JOSUÉ: Eu acho que sou bem grandinho e...(bate uma curiosidade sinistra) A não ser que você tenha um bom motivo pra querer saber...
INSERT – pernas de Ari
Ari cutuca a perna na amiga pra chamar sua atenção.
VOLTA À CENA
RAÍZA: Eu me preocupo contigo, tio... A gente nunca sabe o que pode acontecer...(olhar de cúmplice) Não é?
JOÃO: O que é, Raíza? (tom provocativo) teve algum pesadelo?
Raíza faz cara de dúvida.
RAÍZA (tom intrigante): Quem sabe?
JOÃO: Eu acho (termina de comer e se levanta) que suas atenções não estão mais voltadas aqui pra casa...Há muito tempo...
RAÍZA: Se você se refere...
BRUNO: Será que podemos tomar o café em paz?
Silêncio.
RAÍZA: Pra mim já deu.
Ela se levanta e sai da cozinha.
BRUNO (para Josué): Você devia tá agradecido por ela se preocupar com você...Ela se preocupa com você...
Josué faz aquela cara de quem acaba de receber uma luz divina.
Ari toma o café, de olho nos dois.
CORTA PARA
CENA 5  APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Raíza se ajeita diante do espelho, meio nervosa, meio aborrecida.
ARI: Você não pode tá levando a sério esses seus sonhos, ‘né’?
RAÍZA: Não é a primeira vez que isso acontece, Ari. Lembra que foi assim que te encontrei na clínica?
Ari está sentada na cama dela.
ARI: É isso que me deixa encucada. Mais parece premonição...
Raíza a olha pelo reflexo do espelho.
RAÍZA: Eu não sei, eu não sei...(muda de assunto) Você viu a cara do meu tio? Sinal de que esconde algo.
ARI: É, eu achei que você fosse pedir pra ele não ir ao cassino hoje...
Raíza veste short jeans.
RAÍZA: Se ele fosse morrer, (ela veste uma frente-única) morreria de burro que é...
ARI: Credo! (ela senta na cama / pausa) Mas...Será que é medo?
RAÍZA: Não.(Abre a porta do guarda-roupa e pega um gloss) O nome disso é João Batista. (Passa o gloss)Parece que tudo que ele fala agora vira lei.
ARI: Acho que ele ficou assim desde que você não o salvou daquele ataque.
RAÍZA: Que nada! (ela torna a guardar o gloss)Aquilo só foi a gota d’água. Ele tá assim há muito tempo...Ele pensa que eu esqueci de quando, por causa dele, eu caí dessa sacada e fui atropelada aqui em frente.
ARI: Você acha que...
RAÍZA: Desconfiado? Olha, eu não sei por quê, mas sinto que ele não pode saber da verdade... tchau, amiga!
ARI: O que pretende fazer?
Raíza apanha a bolsa sobre a cama.
RAÍZA: Descobrir se o meu sonho tem fundamento.
Ari se levanta e se coloca na frente dela.
ARI: Ai, Raíza. Você por acaso vai contar pro Cael o que sonhou?
RAÍZA: Não, mesmo por que eu nem saberia como contar. Eu vou tentar impedir que Dcr vá à festa.
ARI: Nesse caso, a Rafaela também, ‘né’?
Raíza se volta com ar indeciso. Meneia a cabeça sem muita firmeza.
SALA...
Raíza abre a porta, sai e a porta prende. Josué a intercepta no corredor, com ar de preocupado.
JOSUÉ: Você perguntou se eu viria pra casa por quê? Viu alguma coisa? Foi ao futuro?
A garota esboça um tênue sorriso por entre os lábios.
RAÍZA: Por que será que de uma hora pra outra o senhor passou a acreditar que vejo o futuro?
JOSUÉ: Viu ou não viu?
RAÍZA: Não, tio. Não vi nada...
FADE OUT
FADE IN
CENA 6  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Raíza atravessa o portão, apressada.
VOZ: Raíza!
Ela se volta e vê Cael saindo de seu novo carro, um Toyota preto. Ele traja camisa social azul e calça preta.
Aproxima, sorrindo. Há um envelope em suas mãos.
CAEL: Bom dia, Raíza!
RAÍZA: Bom dia...Aconteceu alguma coisa?
CAEL: Por quê? Tem que acontecer alguma coisa pra eu vir te ver?
A garota sorri, sem graça e dirige os olhos para o que ele tem em mãos.
CAEL: Eu sei que você deve ter estranhado eu não ter entregado os convites pela Ari, mas é que eu queria fazer isso pessoalmente.
A garota levanta as sobrancelhas fingindo que aquilo é novidade. Pega o envelope.
RAÍZA: Sabe, tem uma coisa que tô pra te perguntar há algumas semanas...
CAEL: Quer saber como um cara bacana como eu tem um cassino...Clandestino?
Raíza sorri, novamente sem graça.
CAEL: Não vou dizer que a idéia foi do meu irmão como se eu não soubesse o que estava fazendo; Isso seria dizer que fui influenciado. Mas confesso que eu queria ganhar dinheiro logo.
RAÍZA: Sonegando impostos?
CAEL: Há oito anos eu ainda era um pouco imaturo. Eu queria mostrar pra minha mãe que eu podia me dar bem e que eu não queria depender do meu pai, que ela fazia questão de chamar de ‘pai do Marco’.
RAÍZA: Você gosta dessa vida? Nunca pensou em mudar, já que o seu irmão nem trabalha mais contigo?
Ele olha pra cima, num olhar distante como se pensasse no futuro.
CAEL: Já...Mas não sei como...É tão difícil recomeçar, pensar em novas coisas quando já se tem algo pronto e dando certo...
RAÍZA: Pra você, ‘né’? E aquelas pessoas que vão lá beber, fumar e jogar até se acabar? Eles estão destruindo as próprias vidas enquanto você ganha dinheiro.
É a vez de Cael ficar sem graça.
CAEL: Talvez eu nunca tenha visto as coisas por esse lado.
RAÍZA (rebate): E por qual lado você via? De que eles não são obrigados a ir até lá? De que são todos maiores de idade e sabem o que tão fazendo?
CAEL (chateado): Isso foi uma crítica?
Raíza não consegue dizer nada. Cael está visivelmente aborrecido.
CAEL: Claro que foi. (pausa) Já sei que não posso contar com a sua presença na festa.
Ele dá as costas, ela tenta lhe dizer algo mais, mas o deixa partir.
Ao voltar-se, depara, na outra calçada, com Cipriano a olhando, sorrindo e com as mãos nos bolsos.
CORTA PARA
CENA 7  CARRO [INT.]
Cipriano dirige e observa o convite que Raíza tanto olha.
CIPRIANO: Brigaram?
RAÍZA: Hã? (ela guarda o convite na bolsa)
CIPRIANO: O Cael. Notei que ele saiu meio aborrecido.
RAÍZA: Não. Quero dizer, acho que não.
CIPRIANO: Se não quiser me contar...
Raíza reluta, vira o rosto pro lado da janela. Vira de novo.
RAÍZA: Você acha que todo dono de cassino sabe quem o frequenta?
Cipriano lhe dá uma olhada, torna a olhar pra frente.
CIPRIANO: Saber quem são todos que frequenta, acho difícil. Mas se for conhecido...
Raíza bufa. Olha pro seu lado da janela.
CIPRIANO: Você se incomoda por ele ser dono de cassino?
RAÍZA: Ele? Ele quem?
CIPRIANO: Ora, Raíza! O Cael.
RAÍZA: (A garota respira profundamente) Ah quando é com os outros a gente sempre acha ruim, mas...Quando é com um amigo nosso...A gente acha banal...
CIPRIANO: Até que essa coisa banal entra em nossa família, não é?
Raíza encara Cipriano.
RAÍZA: Você também sabe?
Ele se faz de desentendido.
CIPRIANO: Sobre?
RAÍZA: O meu tio que...Que deu pra jogar.
CIPRIANO: Eu me referia a você e o Cael estarem cada vez mais próximos, mas (finge)...O Josué agora é um jogador?
RAÍZA: Eu nem sei em que momento isso aconteceu...
Ele só olha pra frente, semblante tranquilo, jeito de quem fala por falar.
CIPRIANO: Talvez ele esteja se sentindo dividido...Entre você e seu primo, sabe...Sem saber quem é o certo e o errado.
RAÍZA: Nesse caso eu devo ser a errada...
CIPRIANO: Nunca! (tom expressivo) O seu primo acha que você tem obrigação em ajudá-lo só por que já ajudou o Marco. Seu tio sabe que as coisas não funcionam assim, mas ao mesmo tempo concorda quando ele te acusa de não estar por perto para ajudá-lo.
RAÍZA: Ai meu Pai Eterno do céu azul! O que fazer agora?
CIPRIANO: Nada. Enquanto o João existir seu tio vai continuar na dúvida de quem ele deve defender.
Raíza se mostra confusa. Talvez esperasse algum conselho ou...Aquilo fosse um conselho. Não entende muito bem.
RAÍZA (em OFF): Enquanto o João existir...
Ela repete pra si mesma aquela frase meio assustada e, ao mesmo tempo, com um prazer sinistro nos olhos.
FADE OUT
FADE IN
CENA 8  APTº 215 [EXT.]
Mãos de alguém na campainha. Toca.
A porta se abre e Daniel atende com um sorriso nos lábios.
DANIEL: Raíza? Entre!
Ela entra com as mãos dentro dos bolsos do short.
RAÍZA: Tudo bem?
DANIEL (fechando a porta): Bem, bem e você? Soube o que aconteceu com seu pai semana passada.
RAÍZA: Eu vou bem, ‘brigada’. Meu pai também, com a graça de nosso Pai celestial.
Ele ri.
DANIEL: Você fala tão engraçado...Mas senta. Ó o Dcr não está.
Ela senta e suspira.
RAÍZA: Ah, que pena.
DANIEL: Aconteceu alguma coisa? Você parece preocupada.
RAÍZA: Ahn...Não...(muda o assunto) Ele vai à festa na boate?
DANIEL (senta ao seu lado): E ele ia perder? (sorri) Ele até comentou que você havia dito não querer ir antes mesmo de receber os convites.
A garota está absorta.
DANIEL: Você teve algum pressentimento?
RAÍZA: NÃO! (responde receosa)
DANIEL: Ah, Por que eu tive. Quero dizer, eu sonhei...Bem, deixa pra lá você não deve tá interessada...
RAÍZA: Não, diga! O que sonhou?
DANIEL: Você jura que não vai ri? Por que eu contei pro ‘Dc’ e ele ignorou.
RAÍZA: Pode falar.
DANIEL: Bom, então...Sonhei que algum lugar pegava fogo...Vi meu filho na calçada e você saía correndo. Foi tão estranho e...Ao mesmo tempo vago. Pedi que ele não fosse à boate, mas você sabe como ele é, ‘né’?
Raíza está meio atordoada com aquele relato já que, no futuro o qual presenciou, Dcr não escapa da morte.
RAÍZA: Ele tinha que te dar mais ouvido...
CORTA PARA
Takes da cidade
CENA 9  RUAS DA CIDADE
De frente pra um edifício, Rafaela conversa de forma bastante suspeita, com um sujeito bem apanhado, camisa social branca listrada e calça igualmente social.
Ele carrega uma pasta preta e, ao longe, Raíza observa.
RAÍZA (em OFF): Ah, o professor dela...Vou lá falar com ela.
 Tenta atravessar a rua, mas espera um ônibus passar.
Sob seu ponto de vista ela vê aqueles dois se beijando. Num ímpeto, apanha o celular e filma a cena.
RAÍZA (em OFF): Só pra saber se é bom pegar os outros no flagra (sorri).
FADE OUT
FADE IN
CENA 10  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Raíza joga a bolsa sobre a cama, cansada, ar de decidida.
RAÍZA (em OFF): Seu eu contar o sonho do seu Daniel, vou dar muita bandeira. Duas pessoas não têm o mesmo sonho.
 Ari aparece da porta.
ARI: E aí? Falou com o Dcr?
RAÍZA (se volta): Tá decidido, Ari! (ela senta na cama e esfrega as mãos nos joelhos, nervosa) Eu não posso querer salvar a vida das pessoas de que gosto quando a vida de muita gente tá em jogo.
Ari agacha-se à sua frente e põe as mãos nas delas para conter sua ansiedade.
ARI: É como eu já havia falado...
RAÍZA (repete): Eu não sou a heroína do mundo; Não posso evitar tudo que tá predestinado a acontecer, ‘né’?
Raíza levanta-se, agora indecisa, põe as mãos nos bolsos.
RAÍZA: ‘Cê’ acredita que briguei com o Cael?
Ari levanta, surpresa.
ARI: E você conseguiu? Não me diga que você o acusou de não contar sobre o Josué?
 RAÍZA: Quase. Mas aí eu estraguei tudo com meus comentários.
Raíza se olha no espelho e Ari toca seus ombros. Vemos seu reflexo no espelho enquanto fala.
ARI: Uma pena viu. Por que eu fiquei pensando: Já que você tá encucada com isso por que não sugerir ao Cael uma vistoria na boate antes da festa?
RAÍZA: E você acha que ele já não mandou fazer isso? Não tem jeito, Ari! Não tem jeito!
Bate um silêncio.
ARI: Diga logo então que você teve um sonho daqueles! Um pesadelo! Ele não vai achar indiferente vindo de você.
Raíza se vira.
RAÍZA: ‘Cê’ pirou ‘né’, minha filha? Mais uma dessa e me internam!
Ari se cala. Raíza mostra-se arrependida.
RAÍZA: Ai Ari, é que não posso chegar assim e dizer: Cael, eu tive um sonho...Larga mão dessa festa que vai ser melhor pra todo mundo. Não posso!
ARI: É, é meio estranho mesmo...Você podia falar da vistoria então, é o jeito! Acho que vistoriar a casa uma hora antes de abrir garante uma noite sem sustos, mas...Como se agora vocês estão brigados?
RAÍZA: Acha que um pedido de desculpas resolve?
No corredor, João escuta atento. Vai até a rack do computador e apanha o telefone. Disca.
JOÃO: Sou eu...
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 11  COLÉGIO FRANÇA - SALA [INT./FIM DE TARDE]
Mãos de alguém batendo a caneta sobre o caderno. Raíza não dá atenção ao que o professor diz diante do quadro negro.
RAÍZA (em OFF): Se eu não for...Se eu não fizer nada, o sonho do seu Daniel não deixará de se realizar por causa disso...Mas também não posso ignorar o que vivenciei...
RAÍZA (soca a mesa): Que droga!
Todos a olham.
SECRETARIA [EXT.]
Raíza caminha de um lado e de outro. Alguém abre a porta.
RAÍZA: Ah, ahn...O professor Josué está aí?
MULHER: Ele já saiu faz tempo.
RAÍZA (murmura): Que pressa pra jogar, caraca!
CIPRIANO (O.S): Quer que eu te leve em casa?
RAÍZA: Aai! Que mania de me assustar!
CIPRIANO: Levando susto à toa, Raíza?
RAÍZA: Não...Ahn...Eu vou sozinha, ‘brigada’.
Cipriano, cismado, a vê sair muito apressada.
CIPRIANO (murmura): Até parece que ela sabe de alguma coisa...
CORTA PARA
CENA 12  MANSÃO [EXT.]
SALA [INT.]
Marco olha pela janela, aspecto estranho. Esfrega as mãos e as coloca nos bolsos da calça. Ouve-se passos.
CAEL (O.S): Pensei que fosse aparecer na boate...
Marco sorri, irritantemente.
MARCO: E eu pensei que você não me quisesse lá.
CAEL: Você está aqui...
Cael pega as chaves do carro sobre a mesa central.
MARCO: A minha mãe mora aqui.
CAEL: Claro! Deve ser meio desconfortável pra ela morar num apartamento. (pausa) Juízo.
Ele sai, mirando nele.
Marco vai até o...
ESCRITÓRIO...
Debruça na janela.
[POV de Marco]
O Toyota de Cael acelera e some na estrada.
Adiante, um ônibus no lado oposto pára. Raíza desce usando um vestido preto.
Marco sorri, malicioso.
CORTA PARA
CENA 13  MANSÃO – SALA [INT.]
Raíza entra, ansiosa, procurando por Cael. Olha para trás e dá com Marco na porta do escritório.
Ela traja um vestido preto, de alças pretas transparentes e com um laço na cintura cuja cauda vai até o joelho. Seus cabelos estão amarrados, com a mecha esticada em diagonal sobre a testa. Uma maquiagem leve completa o visual.
MARCO (sorri e observa seu vestido): Não foi com esse mesmo vestido que você foi à formatura de seu pai ano passado?
A garota não lhe olha nos olhos, atenta para a escada.
RAÍZA: Não...E se fosse? Qual o problema?
Marco sorri.
MARCO: A empregada disse que você queria falar com o Cael? Vem! Espere por ele no escritório.
A garota reluta, anda na frente dele e entra no...
ESCRITÓRIO...
Marco tranca a porta.
Raíza se volta estranhando a cena.
RAÍZA: Por que trancou a porta?
MARCO (guardando a chave no bolso da calça e sorrindo): Quero conversar com você...A sós.
A garota avança na maçaneta e ele a segura pelo braço. Raíza olha aquela mão a apertando. Desvencilha-se dele, assustada.
RAÍZA: Abra essa porta ou eu vou gritar!
MARCO: Você tem medo de quê? (ele se aproxima) Tem medo de ficar sozinha comigo?
Ela aperta seu rosto e o afasta à força de si. Ele aperta seus braços novamente.
MARCO: O que você quer falar com o Cael, hein? Está com pressa de quê?
RAÍZA: Aai! ‘cê’ tá me machucando!
Ele sacode seu braço, nervoso.
MARCO: Hein? (ele a encara com olhar vivo, fixos e perturbadores) Veio toda produzida pra ele...
RAÍZA: Me solta!
Ela tenta gritar, mas ele tapa sua boca.
MARCO: Eu acho que você vai precisar se arrumar de novo...
Ele esfrega a mão em sua boca, a descabela toda com as duas mãos debaixo dos gritos dela.
RAÍZA: PÁRA! ‘CÊ’ FICOU MALUCO?
Ela vai andando pro lado, se desprende e cai sentada na poltrona.
Raíza toca seus cabelos, desarrumados.
RAÍZA (sem acreditar): Por que ‘cê’ fez isso?
Marco a puxa pelo braço, abre o armário, próximo da janela e a joga lá dentro.
RAÍZA: Ei! Pára com isso! Pára!
 Ele tranca a porta e exibe um sorriso forçado, nervoso, de lábios trêmulos.
MARCO: Não adianta você gritar...Não se ouve nada do lado de fora.
Ele sai e tranca a outra porta.
SALA...
LARA (O.S): Ah! É você, Marco? Trancando o escritório?
MARCO (calmo): Ah...Mania minha...Esqueço que não moro mais aqui...
ESCRITÓRIO [INT.]
Raíza está ao pé da porta, atenta.
RAÍZA: Melhor esperar ele sair...
Anda até a janela.
[POV de Raíza]
Ela vê Marco caminhar. De repente, ele pára. Olha pra cima. Raíza desvia.
Torna a olhar com cuidado.
RAÍZA (em OFF): Caramba! A Ari!
Apanha a bolsa na mesa, retira o celular e disca.
APTº 403 – SALA [INT.]
Ari está ao celular, ao fundo, Cael e João conversam.
ARI: Raíza? Onde você tá? O Cael veio aqui te buscar...
RAÍZA (V.O): Ari...Eu...(ouve-se um bip)
INSERT – visor do celular
Aparece a mensagem ‘Bateria fraca’.
RAÍZA (murmura): Ameba de celular, viu! (pausa) O jeito é correr!
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 14  L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Raíza aponta na calçada, de frente.
Camilo e Marco conversam com ares suspeitos.
Raíza atravessa, espreita pelas paredes.
[ Episódio – cena 7 ]
MARCO: Tudo certo pra hoje? (sorri para quem entra).
CAMILO: Só ‘tô’ esperando o outro chefe chegar...
Marco olha o relógio.
MARCO: Ainda há tempo. Você sabe como fazer, não é?
CAMILO: Tá tudo no esquema. Primeiro irá começar na boate e em seguida o subsolo. Sendo assim, acho meio difícil o seu irmão querer pular a janela naquelas alturas no escritório...
MARCO: Me poupe dos detalhes; Eu só queria que respondesse sim ou não.
CAMILO: E aquele carinha lá? O da família da Raíza.
Marco faz cara de esnobe.
MARCO: Ele veio hoje de novo? (sorri indiferente) O que tem ele?
CAMILO: Não é melhor dá um jeito de despachá-lo?
MARCO: E por quê? Está com pena é?
CAMILO (cabisbaixo): É que...A moça salvou a minha vida e...
MARCO: ...Mas ainda isso?! Eu pensei que você já tivesse superado aquele dia.
CAMILO: Você sabe que pode poupar a vida dele, ‘né’?
MARCO: Os negócios estão acima da emoção, garoto.
CAMILO: Emoção, Marco? Você disse ‘emoção’?
Raíza ouve, estupefata.
Um carro se aproxima e a garota vê que é Cael quem está dirigindo.
MARCO: Ele não pode me ver aqui.
Marco sai e vem na direção de Raíza. Esta vira rapidamente num vão da parede, Marco passa e vai até seu carro. Raíza observa a placa e nota-se que ela lembra de tê-lo visto antes.
Raíza corre para frente da boate, mas não vê mais Cael.
Corta para L.A HOUSE [INT.]
Dcr estranha sua chegada, nada triunfal.
DCR: Pensei que não viesse mais...
A garota observa as pessoas, o ambiente e tudo pareciam normais. O rapaz traja uma camisa cinza de gola e calça jeans.
DCR (cont.): Nossa Raíza! Quem você andou beijando que não te deu tempo nem de você se retocar?
Ela esboça raiva, mas ele não nota. A conduz até o toillete.
DCR: Vá, antes que o Cael te veja assim.
TOILLETE...
Raíza entra relutante. Vira-se pro espelho e vê seu braço marcado pelas mãos de alguém.
Close no braço.
RAÍZA (em OFF): Tudo igual... Isso eu não pude evitar...
Ouve-se passos. A porta se abre e Rafaela entra, olha sem entender.
Não há ninguém no banheiro.
RAFAELA: Mas o Dcr me garantiu que ela estaria aqui...
CORTA PARA
CENA 15  L.A HOUSE – ESCRITÓRIO [EXT.]
[1º plano]
A cena entra pela porta fechada, pára. Raíza mira em um controle, tenta apanhá-lo, mas Camilo surge e o faz primeiro.
Raíza se mantém parada. Camilo abre a porta de correr e Raíza o segue, ainda invisível.
Existe outra escada de frente para aquela que dá ao cassino. Camilo desce e ao chegar lá embaixo, ele atravessa a porta. Raíza se surpreende.
L.A HOUSE – FUNDOS
Camilo tira a tampa do lixo, e de dentro retira uma caixa. Coloca no chão, abre e apanha um alicate. Quando levanta, Raíza está ao seu lado, mas ele não pode vê-la.
Camilo põe a mão no bolso, pega as luvas e as coloca nas mãos. Abre o sistema de energia na parede.
 RAÍZA (em OFF): Ele vai causar um curto-circuito! É isso que ele vai fazer!
Camilo direciona o alicate na caixa de luz.
Raíza dá um tapa na mão dele, ouve-se o som de choque e os dois são jogados para trás. A caixa de luz pega fogo.
O rapaz está inconsciente. A garota se levanta, devagar.
RAÍZA (murmura): Será que ele tá morto?
Ela vê o controle no bolso dele, arranca e corre.
L.A HOUSE [INT.]
As luzes piscam, as pessoas continuam a dançar.
Alguém toca os ombros de Raíza. Ela se volta, esbaforida.
RAFAELA: Nossa Raíza! Onde você ‘tava’? O Dc me disse...
Ouvimos um estrondo. As pessoas se abaixam com o impacto. Ouve-se gritos.
RAFAELA: Meu Deus! O que foi isso?
Um globo de luz explode, estilhaços atingem Raíza e Rafaela que caem pra trás.
VOZES: CORREM! CORREM!
RAÍZA: Vai, Rafaela! Corre!
Rafaela se junta ao pessoal que se amontoam na porta de saída.
O fogo começa a se espalhar. O controle de suas mãos cai e se perde naquela confusão.
Tenta caçar, mas é empurrada. A garota, então, se esforça e alcança uma cadeira. Pega e arremessa contra o vidro. Não adianta. Então ela tenta mais duas vezes e finalmente o vidro temperado se quebra.
Os seguranças arrastam Raíza para fora da boate.
L.A HOUSE [EXT.]
Ari corre na direção de Raíza.
ARI: Ai, Raíza! O Dcr! Ele ficou lá dentro!
RAFAELA (O.S): Gente! Gente! Cadê o Dcr?
Ari se distrai.
ARI: Eu não sei, eu tô aqui com a...(ela não vê mais a amiga) Raíza...
Corta para L.A HOUSE – CASSINO [INT.]
Os frequentadores estão alterados, ninguém sabe o que está havendo. Entre eles, Josué.
RAÍZA (em OFF): Eu já esperava por isso...
Ouve-se mais um estrondo, Raíza olha pra cima e o pedaço do teto desaba sobre a roleta. Um aglomerado de gente se forma na porta de saída.
Pelo buraco que se abre, Raíza vê Dcr passar. A garota se volta, olhando para o teto quando este desaba.
Dcr cai de uma altura de 3 metros nos braços da amiga. Ele se olha, muito assustado e aparentemente suspenso no ar.
[1º plano]
Com um olhar denotando medo, ele não diz nada.
Olha para cima e o fogo está se espalhando.
RAÍZA (em OFF): Será que eu consegui evitar o futuro?
L.A HOUSE - BECO [EXT.]
Raíza deixa Dcr no chão e se afasta.
[POV de Dcr]
Ele vê surgir a imagem de Raíza, nem consegue se levantar tamanho o susto.
Josué aproxima e agacha-se.
JOSUÉ: Você se machucou? Que cara é essa?
O rapaz está extasiado demais para responder.
L.A HOUSE – FRENTE [EXT.]
Raíza nota que a multidão volta a atenção para outra cena. Aproxima-se e vê Valentina caída na calçada com a cadeira bem próxima de sua barriga.
RAÍZA (murmura): Ai meu Deus! O que eu fiz?
Ela anda de costas, apressa e corre, desesperada.
FADE OUT
FADE IN
CENA 16  MANSÃO [EXT./NOITE]
A cena se aproxima de Raíza, sentada na calçada, mãos sobre os joelhos, desolada da vida.
RAÍZA (aflita): E se ela perder o bebê? E se ela morrer?...Como vou ficar?
Um carro pára rente a ela. Ouve-se a porta se abrir, passos na direção dela. Alguém a faz se levantar.
MARCO: Como foi que você saiu? Como foi que você saiu, hein?
RAÍZA: Me solta!
Ele ainda a puxa fazendo-a cair sobre seu peito. Os dois cruzam olhares e a garota, lacrimejando, o empurra, de repente.
RAÍZA: Não pensou que aquela droga de armário fosse fácil de abrir?
MARCO: Mas...
RAÍZA: Eu pulei a janela!
MARCO: E está chorando por quê? Não conseguiu salvar ninguém hoje?
Raíza o encara com raiva expressa em seus olhos. Sua aparência é de pura fadiga. Cabelos desgrenhados, maquiagem borrada e o vestido chamuscado pelo fogo.
RAÍZA: Você é um infeliz! Um dia você vai pedir pra ser salvo e não vai ter ninguém, ninguém! pra salvar um monte de merda que é você!
Marco fecha a mão, mas imóvel, contém a vontade de estapeá-la. Aquelas palavras soam tão fortes que aquele sorrisinho malicioso dele dá lugar a uma expressão de medo como nunca sentiu na vida.
FADE OUT
FADE IN
CENA 17  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Raíza caminha pelo meio-fio tentando ajeitar os cabelos, sem sucesso. Pára diante do edifício e não se mostra com muita vontade de entrar. Volta e leva um susto.
RAÍZA: Aai! Se quer me matar mata logo! Não fica me dando susto!
CIPRIANO: Desculpe. Mas é que vim ver como você estava. Você sumiu da boate desde que...
RAÍZA: Desde que...?
Ele finge preocupação.
CIPRIANO: Você sabe (pausa) A Valentina...
RAÍZA: O que tem ela? Fala logo, Cipriano!   (ela esboça um sorriso tenso) Ela não morreu não, ‘né’?
Cipriano faz suspense para atormentá-la mais.
CIPRIANO: Não...Mas a criança que ela esperava...
Raíza tapa a boca, espantada.
CIPRIANO: Eu estive no hospital agora pouco... E o Dcr quase foi levado pra lá também...
RAÍZA: O Dc? Ué, mas por quê?!
CIPRIANO: Parece que ele está em estado de choque...O que será que pode ter havido?...
Raíza dá as costas, receosa.
CORTA PARA
CENA 18   HOSPITAL [EXT.]
QUARTO [INT.]
Valentina, deitada na cama de hospital, abre os olhos. Diante dela, está Cael a olhando com um sorriso estremecido. Ela acarinha a barriga e se aflige.
VALENTINA: E o meu filho?...E o nosso filho, Cael? Ele tá bem, ‘né’? Ele tá bem?
Cael acaricia suas mãos e ela os afasta, de repente.
VALENTINA: Eu não gosto desse tipo de resposta.
CAEL: Calma, Valentina...
VALENTINA (altera): Como você pode me pedir calma? Um vândalo joga uma cadeira em cima de mim e você me pede calma?
CAEL: Valentina, as coisas não foram assim; Se o vidro não fosse quebrado, muita gente teria morrido.
VALENTINA (trinca os dentes, chora): O nosso filho morreu, Cael! (grita) Morreu! E você vem tentar me consolar por que um povinho sobreviveu? (ela bate com as mãos na cama) Parece que você não tá nem aí!
A enfermeira entra no quarto com uma ampola nas mãos.
ENFERMEIRA: Por favor, a paciente não pode se alterar. O estado dela é...
VALENTINA: DE PENA, EU SEI!  EU SEI QUE PERDI UMA CRIANÇA! NÃO VAI ME LEMBRAR DISSO TODA HORA, CARAMBA!
ENFERMEIRA (para Cael): Poderia nos dar licença? Ela precisa repousar.
Cael sai do quarto, fecha a porta e dá com Marco e Lara no corredor. Marco toca seu ombro.
MARCO: Não fica assim, meu irmão (finge, cinicamente). Outros virão...
Cael olha pro lado onde a mão de Marco pousa sobre seu ombro. O clima é certo.
CAEL (sorriso de desconsolado): Como fico feliz em receber seu apoio... ( ironiza, se voltando para a mãe) A senhora tá feliz também? Afinal, o meu grande empreendimento foi pelos ares.
LARA: Você não está achando que...
CAEL: Não...Claro que não (ele mira no irmão) Acho que a senhora ainda não chegou a esse ponto...
Marco tira a mão do ombro dele.
MARCO: Alguém mais saiu ferido?
CAEL: Poucos. Parece que o único que saiu pior dessa história, além do meu bolso (desconfiança) foi justamente o causador de tudo isso...
Cael espera ver a saliva do irmão escorrer pela goela abaixo antes de dizer o nome.
CAEL: Camilo.
MARCO: Camilo? Mas como?
CAEL: Ele foi encontrado nos fundos da boate, com luvas e algumas ferramentas...E desacordado. Segundo a polícia, ele levou um choque ao provocar o curto-circuito...
Marco suspira fingindo condolências.
MARCO: Camilo era tão jovem...Tinha um futuro pela frente e faz uma bobagem dessas...
CAEL: Camilo é jovem...Ainda.
MARCO: Ele...Ele está vivo?
CAEL: Em coma, Mas...O que me intriga é por que ele faria uma coisa dessas?
Marco mantém a calma a um ponto, como sempre, irritante.
MARCO: Será que ainda era por aquela vez em que ele foi acusado injustamente?
CAEL (desconfiado): Será?
CORTA PARA
CENA 19  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APTº 403 – QUARTO [INT.]
Raíza ajeita a roupa ao lado da cama. Ao fundo, Ari a observa de braços cruzados, ar criterioso.
ARI: Seu sonho, pelo jeito, se realizou.
RAÍZA: Ah...Ahn...Coincidência.
ARI: Você não acredita em coincidências, Raíza. (ela caminha e a contorna) Você acredita em fatos.
Raíza olha de canto, continua a ajeitar sua roupa.
RAÍZA: Na verdade nem se realizou; No sonho eu morria. Muita gente morria.
ARI (desconfiada): Ainda bem que você evitou, ‘né’?
Raíza a encara, disfarça, torna a dobrar a roupa.
RAÍZA: Não foi bem assim...
ARI: E como foi? Tô louca pra saber.
Raíza larga a roupa na cama, aborrecida.
RAÍZA: O que é, hein Ari? O que é que você quer saber?
ARI: Eu só quero que você me responda desde quando prevê o futuro.
Raíza se assusta.
ARI (cont.): É assim que você tem evitado certos acidentes?
Raíza não responde, surpresa.
CORTA PARA
CENA 20  APTº 403 – SALA [INT./MANHÃ]
Bruno abre a porta e dá com Dcr com sorriso estremecido.
DCR: Bom dia! A Raíza?
Vozes alteradas vêm do corredor.
JOSUÉ (O.S): Disseram que você que quebrou o vidro da boate...(tom acusador) E acabou atingindo a namorada de Cael...É verdade?
RAÍZA (O.S): Eu não quero ter que falar sobre isso...
JOSUÉ (O.S): Você tem idéia do que provocou? Aquela moça podia ter morrido! Já pensou se fosse o João?
Dcr e Bruno se entreolham.
DCR: Ahn...Não é assim sempre, ‘né’?
RAÍZA (O.S): Você não tá preocupado em como eu ficaria, ‘né’ tio? E sim, em como você ia encarar as pessoas como tio de uma assassina.
JOSUÉ (O.S): Não foi isso que eu quis dizer...
RAÍZA (O.S): Foi isso sim! Você nem perguntou se eu tô bem...Não tá nem aí, ‘né’? Se todos tivessem morrido ainda sim estariam me culpando. (ela surge no corredor) Como se eu tivesse obrigação de ajudar os outros!
Raíza depara-se com Dcr e Bruno ao pé da porta.
RAÍZA (sorri, temerosa): Dcr! Tudo bem com você?
Os dois se abraçam, Dcr a olha, admirado e feliz. Não sabe nem o que dizer.
Bruno faz um sinal para Josué e este, mesmo bronqueado, sai.
Raíza e Dcr andam até o sofá e ele senta. Raíza senta na mesa central de frente pra ele.
RAÍZA: Soube o que houve. Você tá bem? Não sofreu nada?
DCR (sorri, sem jeito): Estou vivo (pausa) O futuro não aconteceu.
Raíza, receosa, teme perguntar.
RAÍZA: O futuro?
DCR: É. Estava escrito que isso ia acontecer. Você sabe.
Ele a olha estranho e ela sorri, nervosa.
RAÍZA: Eu sei?
DCR: Meu pai não te contou? Ele sonhou que eu ia correr perigo e eu não dei ouvido.
RAÍZA: Ah! (risos de alívio) Claro, claro. Eu lembro...
DCR: Que bom que ele tinha certeza de que eu ia escapar, não é?
Raíza sorri para ele e depois nota a presença de Ari, de braços cruzados, à soleira do corredor. As duas se olham em cumplicidade.
FADE OUT
FADE IN
CENA 21  L.A HOUSE [EXT./MANHÃ]
Tocando: One – Simple Plan
Cael está sentado no meio-fio de frente para a boate queimada. A cena se aproxima e pára ao seu lado. Cael vira o rosto e só olha para os pés da pessoa.
CAEL: Veio contemplar o que sobrou do meu grande empreendimento?
Raíza senta ao seu lado meio que sem saber o que dizer.
RAÍZA: Do jeito que fala parece até que eu desejei isso...
CAEL: Foi o que me deu a entender ontem...(ele a encara) Agora eu não tenho mais nenhum negócio ilícito...
Raíza recebe aquilo como uma ofensa, mas se contém.
RAÍZA: Desculpe.
Ela levanta, faz que vai embora, mas Cael segura sua mão.
CAEL: Desculpe; Você não tem culpa de nada. Fique aqui.
Raíza reluta, porém o olhar dele parece que é o que a convence a ficar.
Ela senta, dobra os joelhos e os envolve com as mãos. Os dois olham para a boate.
RAÍZA: E o que pretende fazer agora?
Cael suspira.
CAEL: Vou seguir sua sugestão (ela olha para ele sem entender e ele sorri) Recomeçar.
Bate um silêncio.
CAEL: Ontem você queria falar comigo? A Ari me disse...
RAÍZA: Ah...É...Eu queria pedir desculpas por ontem cedo...Era isso.
CAEL: Você não me deve desculpas...Eu é que devo. Você não tem culpa pela má conduta de uns.
Ela sorri meio sem jeito. Ele também.
CAEL: Eu não quero que se sinta culpada por ontem...
RAÍZA (se adianta): Eu juro que eu não queria – eu – eu não tinha como saber...
CAEL: Ela está bem...A Valentina está bem...Mas não é dessa vez que serei pai.
Ele nota seu desalento e toca suas mãos que ela desprende das pernas deixando ser tocada por ele.
CAEL: Você fez o que era certo. Não tinha como prever o que ia acontecer.
RAÍZA (desconversa): E já sabe quem foi?
CAEL: Camilo é suspeito, mas enquanto ele estiver em coma...
RAÍZA: Em coma? (receosa) Ele pode morrer?
CAEL: Você parece preocupada.
Ela disfarça, desprende as mãos das dele.
RAÍZA: Peguei um certo temor de hospitais e...Saber que um conhecido está lá me dá arrepios.
Ele sorri, contempla a preocupação da moça, admirado. Em seguida, olha para baixo, desanimado. Exibe aquele sorriso de quem não está acreditando no que está vivendo.
CAEL: De repente, descubro que ninguém era o que eu pensava ser...Todas as pessoas em quem eu confiava ao meu redor...Ninguém existia.
Raíza levanta a mão e mexe os dedos, sorrindo.
RAÍZA: Olha eu ainda tô aqui.
Eles riem.
CAEL: Você sempre está aqui...(ele disfarça e olha para a boate) Prejuízo grande.
RAÍZA: Você só perdeu a boate; Imagine todas aquelas pessoas naquele estado (aponta para a boate).
CAEL: Você pode não gostar, mas cheguei numa conclusão.
Ela se mostra curiosa.
CAEL: Você não existe!
Os dois riem. Ele a envolve em um abraço ao mesmo tempo em que a cena vai virando e, ao longe, Marco observa a cena com um olhar sinistro...
A cena vai se afastando...
FADE TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO

 

Autora:

Cristina Ravela

Elenco:

Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)

Participação Especial:

Lara (Jane Saymour)
Camilo (Sérgio Marone)
Daniel (ZéCarlos Machado)

Trilha Sonora:

One – Simple Plan


Produção:

Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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