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A VISITANTE 



Filme de
Rafael Oliveira

Escrito por
Cristina Ravela
Rafael Oliveira




TEASER


CENA 01 - EXT. BR 040 - TARDE:
A roda dianteira de um Ranger 2002, cabine simples, em alta velocidade. Vagarosamente, a fachada do veículo vai surgindo. Junto dela, o par de faróis acentuados, grossos, revela-se ao contexto da lataria cinza e brilhosa.
CLOSE no para-brisa revela um HOMEM. Sua imagem não é nítida, visto o reflexo das nuvens. Entretanto, percebe-se a barba rala, pouco cabelo e cor branca.
HOMEM (V.O.): Não era tarde demais para viver minha vida. O trabalho que tenho que entregar não vai durar muito tempo. É questão de horas, para colocar a cabeça no lugar e entregar minha carta de aprovação. (suspira) É... Parece que as coisas voltarão ao seu devido lugar. Na verdade, elas têm que voltar. Ninguém sofre a vida inteira, ninguém tem problemas a vida inteira. E eu sinto que está próximo, o momento em que vou deitar sem pensamentos para trás. São reflexos, eu sei, de tudo o que já fiz. Mas tenho certeza que nenhum reflexo será maior que a minha própria capacidade de seguir em frente. Mesmo que isso não passe de mais um sonho.
CORTA pra extensão da pista, onde o carro afasta-se cada vez mais de nosso POV. Ficamos com a admirável vista: montanhas, verdes, planícies e planaltos.
EXPANDE EM SÉRIE DE PLANOS:
A) O Ranger passa por uma rodovia, erguendo as folhas secas do asfalto.
CLOSE numa placa próxima: BEM VINDOS A JUIZ DE FORA.
B) O olhar confiante do homem, agora melhor visto pela janela lateral, atenta-se à estrada.
FIM DOS PLANOS.
CENA 02 - EXT. CASA DOS LIMA - NOITE:
O carro estaciona em frente. O homem fecha a janela, sai com uma mala e tranca a porta.
Para por alguns segundos e observa o muro cinza da fachada da casa, ladeado por gramas verdes e arames farpados no topo.
Vai ao portão e toca o interfone.
CORTE DESCONTÍNUO para o portão, sendo aberto por um SENHOR de cabelos brancos e ralos, óculos, 50 e poucos anos.
Abraçam-se de olhos fechados.
SENHOR: Eu tava com saudades, filho.
HOMEM: Eu também, pai.
O abraço desfaz-se.
SENHOR: Vem, vamos entrar.
FADE OUT.
FIM DO TEASER
ATO I


FADE IN:
CENA 03 - INT. CASA DOS LIMA/COPA - NOITE:
ABRE num lustre de cristal. Abaixo dele, na mesa de jantar, os homens da cena anterior jantam. O lugar é requintado e anexo à cozinha da casa.
HOMEM: É estranho, tá aqui de novo.
SENHOR: Não gosta da casa?
HOMEM: Não é isso...
Ele pega a jarra de suco e enche seu copo. Bebe.
SENHOR: Eu também senti. É por causa dela, né?
HOMEM: Você sabe, mais do que ninguém, o quanto essa casa era importante pra mamãe. Quando a gente se mudou, ela fez questão de não vender. Mas o que eu mais acho estranho é ver essa vizinhança, essa casa, tudo com outros olhos.
SENHOR: Olhos mais maduros? (pausa) Você cresceu, Rodrigo.
RODRIGO: À força, você quer dizer.
SENHOR: Que seja. (sorri) É bom ter um pedacinho da sua mãe perto de mim.
Ele pega na mão de Rodrigo.
RODRIGO: Eu queria tanto que não fosse desse jeito. Agora, nesse momento, poderia estar tudo diferente. Eu queria tanto me arrepender a tempo e abraçar mais a mamãe. Beijar, dizer tudo o que eu sinto.
SENHOR: Eu tenho certeza que ela sabia de tudo isso, Rodrigo. Não adianta você sofrer agora. Não tem porquê. (pausa) É estranho falar isso, né? É claro que tem porquê. Ela não tá mais aqui.
RODRIGO: Pai, escuta. (ele pressiona a mão do pai) Essa dor, esse... Esse sofrimento, isso não vai durar pra sempre. Isso vai passar! Eu sei, eu te entendo, sei que tem dias que parece que tudo vai desabar na nossa frente, mas a gente tem quer erguer a cabeça! Em?!
SENHOR (abaixa a cabeça): Rodrigo, você/
RODRIGO: Ei, seu Roger! Não vai dizer que eu não tenho razão, não!
Roger levanta a cabeça, encara-o.
RODRIGO (sorri): Não parece não, mas eu tenho um filho pra criar, também. Eu tenho uma vida pela frente. E não vai achando que a sua acabou, porque não acabou, não. Eu to aqui, não to? Não to junto com você? Eu não vim pra cá pra ficar chorando do teu lado, eu vim pra cá pra poder te ajudar a superar essa barra mais rápido, ouviu?
ROGER: Tá, tá certo. (pausa) Me fala do Mateus, como ele tá?
RODRIGO: Ah, deve tá bem.
ROGER: Como assim, Rodrigo? “Deve tá bem”? Há quanto tempo você não vê seu filho?
RODRIGO (sem graça): Ah, pai, tem os afazeres da faculdade, né?
Roger permanece firme, encarando-o.
ROGER: Fala, Rodrigo.
RODRIGO: Tá. Tá bom. Dois meses, mas/
ROGER (corta): Dois meses? Você tá sem ver o teu filho dois meses, Rodrigo? É isso que você chama de responsabilidade?
RODRIGO: Pai, olha só, se põe no meu lugar. Eu faço faculdade, eu to terminando o último período, eu tenho um trabalho importante pra entregar. Você não continua depositando o dinheiro que a mamãe depositava pra Lavínia? Então, qual o problema?
ROGER (irritado): Que imaturidade! Meu Deus, que imaturidade, Rodrigo. Pelo amor de Deus, você não vê que o teu filho vai crescer sem saber nem quem é direito o pai dele? Você quer o quê, que num trabalho escolar ele diga que o pai dele existe, é um puta psiquiatra, mas que nunca mais voltou na casa dele, pra vê-lo? É isso, Rodrigo? Eu te criei pra assumir as burradas que você tiver na vida, não pra ser um covarde!/
RODRIGO (agressivo): Pai, por favor, não vem com ladainha. Se eu sou o que sou hoje, devo isso a você e a mamãe. Me mimaram demais, sim! Foi preciso ela morrer, pra cair minha ficha, entendeu?
Roger sente o impacto da fala do filho. Eles se encaram. Rodrigo termina de beber seu suco.
ROGER: Realmente, te criamos da pior forma possível. Você não tem responsabilidade nenhuma. Eu espero, realmente, que uma luz caia sobre você e mude a sua mentalidade, ou você vai levar muita porrada da vida, Rodrigo.
Roger, com os olhos cheios de lágrimas, levanta e sai da copa. Rodrigo acompanha a saída do pai. Lágrimas brotam dos olhos. Ele limpa-as. Bate na mesa.
RODRIGO: Merda!
Ele levanta da mesa, apressado.
CENA 04 - INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE ROGER - NOITE:
À vista da janela, uma forte chuva cai do lado de fora.
Roger chora, sentado sobre sua cama, de costas para a porta de entrada. Ele acaricia um porta-retratos, com a foto de uma MULHER (cabelos loiros, curtos, 40 e poucos anos).
PLANO GERAL do quarto – amplo, com mobília sofisticada. A porta está entreaberta. Rodrigo está ali, de pé, encarando o pai. Ele entra.
RODRIGO: Pai?
Roger olha pra trás, vê Rodrigo. Ele seca as lágrimas e devolve o porta-retratos à mesa de cabeceira. Encara o filho.
RODRIGO: Me desculpa. O que eu te falei/ (t) O que eu te falei, não se fala pra nenhum pai. Você e a mamãe... Vocês me criaram com tanto amor; sempre me deram tudo. Você e a mamãe vão ser, pra sempre, as pessoas mais importantes da minha vida e eu... (seca as lágrimas) É... Eu vou ligar pra Lavínia, vou procurar saber do Mateus. Em tudo o que você disse, você tá coberto de razão. Eu sou um irresponsável, imaturo e entendo que preciso crescer muito, ainda. Mas... Por favor, eu já perdi a mamãe, eu não quero perder você.
Roger, lágrimas nos olhos, vai ao filho com os braços abertos. Ambos choram, enquanto se abraçam.
RODRIGO: Me perdoa, tá, coroa?
ROGER: Você não vai perder. Eu vou tá aqui, sempre, ouviu? E... (pausa) Eu tenho certeza que a sua mãe também.
Rodrigo assente.
CENA 05 - INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – NOITE:
Local na penumbra, iluminado apenas pela luz que vem da janela. Apesar disso, percebe-se um quarto pequeno, cama de solteiro, mobília boa, conservada, apesar do tempo. A porta é aberta e o feixe de luz adentra junto de Rodrigo. Este bate a porta, senta na cama. Saca, do bolso da calça, o celular e aperta uma tecla.
SURGE A IMAGEM DE UMA MULHER (27 anos, morena clara, longos cabelos pretos, olhos castanhos).
Os dedos de Rodrigo hesitam; olha para o seu computador. Vacila o olhar.
CORTE DESCONTÍNUO:
Rodrigo já se encontra diante do computador, concentrado. Vários sites saltam na tela, artigos extensos.
NA TELA:
Palavras sendo digitadas, como: “Demônios que assombram os sonhos”, “Paralisia do sono”, “A incógnita dos sonhos”... Cliques em “favoritos”, várias abas abertas. Até que, no canto inferior direito, aparece um chat, no qual há a foto de um homem de nome Carlos. Rodrigo expande a tela.
CARLOS (chat): Olá, Rodrigo! Aqui é melhor para discutirmos. Como vai?
Rodrigo digita rápido.
RODRIGO (chat): Boa noite, Carlos. Já estou verificando os artigos e iniciando as pesquisas. Estou quase pirando, pra dizer a verdade! Kkkkkk.
CARLOS (chat): Vá com calma, rapaz. Não precisa se aprofundar tanto...
RODRIGO (chat): Mas o TCC deve abordar o assunto no todo, não?
CARLOS (chat): O tema que você escolheu é, por si só, profundo...
Rodrigo coça a nuca, demonstra dúvida. Torna a digitar.
RODRIGO (chat): Você, como sempre, reticente. Não me cause arrepios, Carlos. To num quarto escuro, quase meia-noite! Sério.
Carlos demora a responder. Rodrigo se distrai. Clica em uma aba, lê, atento, um determinado trecho.
RODRIGO (a ler): Segundo lendas antigas, o principal objetivo dos delírios de uma quimera noturna é sugar toda a energia vital de quem a tem. (pausa) Nada interessante... Hum... (volta a ler) Existem sonhos que se apropriam de todo o ser; existem aqueles... (tempo) aqueles que, simplesmente, parecem não existir. E, realmente, são uma fantasia noturna.
Rodrigo, olhos esbugalhados, rola a tela com o mouse e depara-se com uma ilustração horripilante: uma mulher macabra, sentada sobre um homem, na cama. Na expressão de horror em Rodrigo.
É quando ele clica em outra aba e volta ao CHAT. INSERT: “Carlos saiu do bate-papo”. Rodrigo olha a tela, em branco. De repente, o SOM de uma nova mensagem soa. CLOSE em Rodrigo; pupilas dilatam-se; SUPER CLOSE na tela:
CARLOS (chat): Desculpe, Rodrigo. Tenho que ir. Quanto ao trabalho, tenho certeza que você irá conseguir. Não será como outros, que usaram o mesmo tema, mas, infelizmente, nunca conseguiram pôr o ponto final.
CLOSE em Rodrigo, tenso. Mas a tensão desfaz-se: ele solta um riso, debochando.
RODRIGO: Até parece que esse Carlos é do crime...
CORTE DESCONTÍNUO:
Rodrigo coça os olhos, demonstra cansaço. Respira fundo, estica o braço sobre o móvel e repousa a cabeça em cima dele. Dorme.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 06 - EXT. CASA DOS LIMA – MANHÃ:
Diretamente em mãos masculinas, tocando a água da piscina. OUVIMOS uma conversaria. As mãos são de Rodrigo, que levanta do chão e vê um rapaz aproximando-se, sorridente. Esse é magro e baixo, de cabelos pretos e lisos, olhos escuros e roupas despojadas.
RAPAZ: Meu grande, parceiro! (dão-se as mãos/abraçam) Quanto tempo. Como foi de viagem?
RODRIGO: Lúcio! Meu camarada! Foi cansativa, mas o pior tá por vir.
Lúcio não entende.
RODRIGO: TCC.
Ambos riem.
RODRIGO: E você? E a tua mãe? (ele procura, mas não a encontra) Cadê ela?
Lúcio não sabe dizer.
CORTA RÁPIDO:
CENA 07 - INT. CASA DOS LIMA – MANHÃ:
CAM vai invadindo os CORREDORES: chão de taco, brilhante; paredes brancas, sem quadros. VOZES no interior de algum cômodo.
MULHER (O.S): Eu, realmente, sinto muito por tudo que aconteceu, Roger.
ROGER (O.S): Ela era uma mulher incrível.
MULHER (O.S): Queria poder fazer algo por você...
Revela-se, então, Rodrigo, saindo de uma porta e entrando no corredor. Ouve tudo, sem entender, e segue andando. Enquanto isso, já OUVIMOS GEMIDOS de prazer. Os gemidos se intensificam a medida em que Rodrigo se aproxima de uma porta entreaberta.
Pelo seu PONTO DE VISTA, uma mulher, alta, magra, cabelos como os de Lúcio, olhos castanhos e pouca maquiagem, está de costas, nua, cavalgando em cima de Roger, também nu. Ela segura as mãos de Roger para que ele aperte sua cintura. Até que Rodrigo abre a porta. Ambos olham, para ele, como se nada fosse.
MULHER (sorri): Seu pai precisa de mim.
Ela geme alto e/
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 08 - INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – NOITE:
Rodrigo acorda, sobressaltado, diante do computador. Levanta-se, meio zonzo, horrorizado. Segue em direção à porta.
CENA 09 - INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE ROGER – NOITE:
Roger dormindo, tranquilamente. E sozinho. Em segundo plano, Rodrigo espia da porta, mais calmo. Fecha a porta.
Em Roger.
CENA 10 – INT. CASA DOS LIMA/SALA – NOITE:
Rodrigo vai até a janela, coberta por uma persiana. Abre e dá com uma baita chuva. Quando faz que vai retornar, o interfone TOCA.
RODRIGO: Que horas são?
O rapaz vai até o interfone, situado entre a sala e a cozinha. Ele mal abre a boca/
GAROTA (O.S): Por favor, preciso de ajuda! Eu to perdida e não tenho grana pro ônibus. Abre aí...
Rodrigo esboça dúvida, quase desliga, quando/
GAROTA (O.S): Por favor, não desligue! Quase me pegaram aqui, por favor!
Em Rodrigo, assentindo.
CORTE DESCONTÍNUO:
CENA 11 - EXT. CASA DOS LIMA/SALA – NOITE:
Rodrigo atravessa o quintal munido de um guarda-chuva preto. Abre o portão e lá está uma GAROTA, toda ensopada, de longos cabelos e trajando um vestido rosa floral.
Encaram-se.
CORTA PARA:
CENA 12 - INT. CASA DOS LIMA/SALA – NOITE:
A garota já se secando com uma toalha. Agora é possível ver que ela é bonita, tem olhos grandes e claros, cabelos longos e ruivos; de pele branca, muito branca.
RODRIGO: Seus pais devem estar preocupados. Quer que eu ligue...?
GAROTA: Não! Na verdade, moro com minha tia, enquanto meus pais decidem suas divergências.
RODRIGO: Ah, me desculpe. Ahn... O que aconteceu pra você estar a essa hora na rua? Voltava do trabalho ou/
GAROTA#1: Eu acho que, primeiro, eu devia me apresentar, né? (estende a mão) Samanta.
Rodrigo faz o mesmo.
RODRIGO: Sou Rodrigo.
SAMANTA: Eu sei.
RODRIGO: Sabe?
SAMANTA: Eu moro perto do colégio onde você estudava. Eu sempre te via de bicicleta. (sorri, sem graça) Você sempre cercado de muitos amigos. E garotas.
Rodrigo devolve o sorriso. A garota o encara, admirada.
RODRIGO (disfarça): Bem, você quer tomar alguma coisa? Um chá, talvez um leite quente?
Em Samanta, emocionada.
CORTE DESCONTÍNUO:
Rodrigo e Samanta, na COZINHA, rindo, já no meio de um bate papo. A garota tomando um copo de leite.
RODRIGO: E foi isso. Fiz muita besteira, acabei me tornando pai muito cedo, enquanto aqueles meus amigos tiveram carreiras sólidas.
SAMANTA: Eu acho que você não deve se culpar por ter se divertido. Às vezes, nos prendemos aos afazeres, contando que um dia vamos aproveitar tudo o quanto conquistamos. Mas aí... Aí a gente morre antes dos trinta.
Rodrigo estremece, bate no móvel de madeira três vezes.
RODRIGO: Vira essa boca pra lá, porque eu tenho trinta, ok?
Ambos riem.
RODRIGO: Você deve ter uns vinte anos, não?
SAMANTA: Vinte e dois.
A garota sorri, envergonhada. Rodrigo percebe. Olha para o
RELÓGIO DA PAREDE, marcando uma da manhã.
RODRIGO: Acho que a chuva já cessou. Quer que eu te leve em casa?
Samanta coloca o copo na pia.
SAMANTHA: Não precisa. Já me ajudou muito. Ah, será que, antes, eu posso ir ao banheiro?
CORTE DESCONTÍNUO PRA SALA:
Rodrigo aguarda; olha pela janela. Já não chove mais. Quando volta o olhar,
SAMANTA ENCARANDO-O.
Rodrigo disfarça o susto, sorri.
SAMANTA: Muito obrigada.
RODRIGO: Que isso! Quando precisar, já sabe onde eu moro.
E ele segue até a porta.
Ambos SAEM da casa/
Rodrigo abre o portão; Samanta sai encarando-o. Dá um sorriso disfarçado. Ele espia a garota ganhar distância. Fecha o portão.
CORTA PARA:
CENA 13 - INT. CASA DOS LIMA – NOITE:
Rodrigo corta a sala, quase passa pela cozinha, mas algo chama sua atenção. Ao olhar para o
RELÓGIO DA PAREDE,
ele marca, ainda, 1h da manhã. Rodrigo continua a encará-lo. CAM se aproxima dos ponteiros, que ecoam um BARULHO, mas não se movem.
VOLTA em Rodrigo, coça os olhos, não acredita. Sai dali e segue até o
BANHEIRO
Abre a bica, joga água no rosto. Quando olha para o espelho, SUSTO: lá está o rosto sombrio de SAMANTA. Seus pelos do braço eriçam; ele, muito nervoso. Um BARULHO estridente vem do ralo da pia. Rodrigo distrai, assustado. Quando encara o espelho, o rosto de Samanta não está mais lá.
Rodrigo esfrega a mão no rosto; ri de nervoso, incrédulo. SAI do banheiro, fecha a porta.
Encontra Roger indo à cozinha. Aborda, trêmulo.
RODRIGO: Pai! Pai, o senhor ouviu isso?
ROGER: Isso o quê?
RODRIGO: O barulho no banheiro. Foi estridente, não é possível que não tenha escutado.
ROGER: Não ouvi nada.
RODRIGO: Também não deve nem saber que abriguei uma garota aqui, por causa da chuva, né?
Roger põe a mão no peito, preocupado.
ROGER: Você abriu a porta pra uma estranha? Não é possível, garoto! Como você faz uma coisa dessas?!
RODRIGO: Pai, juro que fiquei preocupado. Ela disse que quase foi atacada.
ROGER: E eu dormindo. Meu Deus!
Roger adentra a
COZINHA
Rodrigo atrás, insistente. Roger abre a geladeira, apanha uma garrafa d'água.
RODRIGO: Pai, aconteceu uma coisa estranha. Eu tava conversando com ela, era uma da manhã, aí a levei até o portão, mas quando voltei o relógio ainda tava marcando a mesma hora. Não tá acreditando, né? Veja!
Ele aponta para o
RELÓGIO DA PAREDE, que, agora, marca uma e meia.
VOLTA EM RODRIGO, chocado. Roger já bebe a água.
ROGER: Você passou a noite naquele computador, não foi? (ignorando-o) Filho, vai dormir.
RODRIGO: Não, pai, o que vi foi verdade, venha!
Rodrigo SAI, abre a porta do
BANHEIRO
E encontra tudo normal. Nenhum barulho.
Roger bem atrás, bebendo água. Toca no ombro do filho.
ROGER: Você tá paranoico, em? (ri) O que tinha aí? A loira do banheiro?
E sai rindo. Rodrigo ainda fica ali, sem entender.
CORTA PARA:
CENA 14 - INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – NOITE:
Rodrigo jogando-se sobre a cama. Coloca a mão na testa, pensativo. Um APITO chama sua atenção. Ele levanta, vai até o notebook, ainda ligado, e dá uma checada.
Diretamente na PÁGINA de uma rede social, há uma solicitação de amizade por parte de Samanta Rodrigues. A foto é a mesma da garota que Rodrigo abrigou.
Rodrigo estranha.
Abre a página do Google, digita “Visita na madrugada, relógio parando”. Vários links sugestivos. Rodrigo clica no seguinte link “Susto na madrugada: Não deixe ela entrar”.
Em Rodrigo, atento, lendo um artigo.
RODRIGO (V.O.): Eu confesso que nunca me imaginei numa cena de exorcismo, mas era algo assim. (ele respira fundo/continua) Minha mãe, católica fervorosa, chamou o padre da cidade e ele atendeu. Relatei que, numa certa madrugada, deixei uma garota entrar, porque ela disse que tava fugindo de um ataque. (CLOSE em Rodrigo) Eu a encontrei escondida na saída de emergência do prédio. Nunca, na vida, eu teria feito isso, mas, sei lá, fiz. A gente conversou normalmente, mas quando ela foi embora... (ele diminui o ritmo; engole a seco/continua) Notei algo estranho no relógio. Os ponteiros não mexiam, faziam o barulho normal, mas não mexiam. Eu comecei a ouvir barulhos estranhos, algo meio sombrio, até gritos abafados. Ninguém acreditava em mim. Ninguém tinha visto a garota. Pensei que eu fosse pirar. Então o padre teve a certeza: eu recebi a visita de um demônio.
CLOSE RÁPIDO em Rodrigo. Nesse instante, mais um APITO.
NA TELA, ele clica numa aba e volta para a rede social. Samanta acaba de enviar uma mensagem no chat.
SAMANTA (no chat): Cheguei bem, Rodrigo!
FORTE SUSPENSE.
Na cara de pânico de Rodrigo, até que ele fecha o notebook.
FADE OUT.
FIM DO ATO I
ATO II
FADE IN:
CENA 15 - EXT. CASA DOS LIMA – DIA: 
O dia cinzento; o canto dos pássaros. 
CENA 16 - INT. CASA DOS LIMA/SALA DE JANTAR – DIA: 
Rodrigo com um copo de suco em mãos, pensativo. 
Roger dá uma mordida no pão francês. 
ABRE e revela ambos, sentados frente a frente. 
ROGER: Porque você tá em outro mundo, em?
RODRIGO: O que aconteceu ontem, pai/
ROGER: Não acredito que você tá paranoico com isso, Rodrigo. (tempo) Na verdade, eu acho que tudo isso é sintoma da tua faculdade. Estudar psicologia exige um psicólogo. Não quer procurar um tratamento?
RODRIGO: Você acha melhor?
Roger encara-o por alguns segundos e solta uma risada irônica.
ROGER: Não seja tolo, Rodrigo! (gole no café) Você tá bem. Estudos diários, pesquisas intensas e preso o dia inteiro naquele maldito computador que tá te deixando assim. Para um pouco. Nem parece que a gente tem uma piscina em casa, uma área de lazer!
CLOSE em Rodrigo.
INSERIR FLASHBACK – Rodrigo relembra Lúcio e a mãe dele com Roger.
VOLTA À CENA.
Levanta rapidamente, enérgico e vai até a janela. Roger se levanta e vai até o filho.
ROGER: Eu sei que isso pode ser a tua mãe... A falta que ela faz.
RODRIGO: Não, pai/
ROGER: Sim, Rodrigo. Você não desabafou. Não chorou. Você calou, até agora. Será que não tá no momento de você gritar, de você extravasar tudo o que tá aí dentro? Eu entendo que você se martirize por dentro, lembrando dos piores momentos com ela, mas eu sinto que o amor que existe aí dentro extrapola quaisquer lembranças, meu filho/
RODRIGO (nervoso): Não, pai! Não! Tá longe disso. Tá longe de qualquer coisa com a mamãe. É uma coisa estranha. Algo meu. Interno. Eu não consigo mais viver sem pensar que... Que eu to dentro de um pesadelo. Por exemplo, agora. É, nesse momento! Eu to achando que... Que eu vou acordar. (pausa; enérgico) Que, na verdade, eu to dormindo.  To sonhando. To pensando em você. Na mamãe. Na nossa conversa. Mas isso tudo pode ser uma simples alucinação, pai.
Roger encara-o, preocupado. Tempo.
ROGER: Eu... Eu acho melhor você... Você procurar o Saulo. Ele é de confiança, tratou da sua mãe durante muito tempo. Eu não sou médico, sempre detestei a área e nunca te apoiei. Sempre sonhando em te colocar do meu lado na engenharia, mas eu... Eu ainda acho que isso seja resultado do teu esforço pra terminar o curso/
RODRIGO (corta-o): Não é. Tá bom? Eu to falando que não é. Isso é muito maior que eu. Eu não preciso de um psicólogo. Eu preciso de algo muito maior que isso.
Rodrigo sai andando.
ROGER: Rodrigo, volta aqui. Aonde você vai?
Rodrigo volta-se pra ele.
RODRIGO: Eu não sei, pai. Mas eu preciso resolver isso. (pausa) O estranho é que tudo começou com aquela menina...
ROGER: Que menina?
RODRIGO: A que me pediu ajuda ontem, pai. Ela... Ela disse que me conhecia; que me via passando todo dia, quando a gente morava aqui. Ela... Ela é diferente.
ROGER: Eu sempre te falei. Você nunca me escutou. Essas amizades/
RODRIGO: Não tem amizade, pai. Eu nem a conheço.
ROGER (por cima): Esse é o problema, Rodrigo!
RODRIGO: O problema é a minha vida mudar depois de ela entrar nessa casa, pai. E eu... Eu não consigo acreditar que isso não seja uma coisa sobrenatural/
ROGER: Rodrigo, essa história está indo longe demais!/
RODRIGO (insight): Não tá, não! Eu já sei! O quadro que a mamãe pintou! É ela! É essa menina! Cadê esse quadro?
ROGER (corta-o): A gente vendeu, Rodrigo. Você esqueceu? Mas... O quadro? Aquela menina/
RODRIGO: Ruiva, olhos pretos, dócil. Não era assim que a mamãe descrevia? É ela, pai. A mamãe pintava a menina, a Samanta!
CLOSE em Roger.
ROGER: Não pode ser, Rodrigo!
RODRIGO: Por que não?
Roger, abalado.
ROGER: É que... Sua mãe nem conhecia essa tal garota.
RODRIGO: É o que eu e você achamos, pai. A mamãe nunca teve uma doença comprovada. Só alucinações. (tempo) Pai, (mãos à cabeça) nada disso pode ser normal. Eu tenho que ver. Eu tenho que ver isso...
ROGER: Rodrigo/
Rodrigo vai em direção à SALA.
ROGER: Rodrigo, volta aqui!
A porta é batida, na sala. Roger olha pro chão, preocupado.
ROGER (sussurrando): Não pode ser! Não pode ser!
CENA 17 - INT. CASA DOS LIMA/SÓTÃO – DIA:
Lugar escuro. De repente, uma portinha, no chão, abre-se e vemos Roger, sobre o degrau de uma escada. Ele ENTRA, fecha a portinha e liga as luzes. Deparamo-nos com um lugar poeirento, com caixas e móveis puídos. Ele olha pros lados e vai até uma das mobílias. Abre a gaveta e pega um diário. Olha-o com temor e abre-o, finalmente.
CENA 18 – INT. IGREJA – DIA:
ABRE na cruz de Jesus Cristo, presa à parede. Vemos um PADRE sobre o altar, discursando.
PADRE: A maior ventura do homem é, sobretudo, viver. A maior força do homem é lutar contra as potestades e contra o mal que reina na terra. A sociedade clama por paz, por verdade, por justiça. Mas o que mais reina em seu seio é a vontade de transgredir e de passar por cima de todos os limites impostos pelos homens sábios.
Rodrigo ENTRA na Igreja e anda pelos cantos, procurando lugar. Muitas pessoas sentadas, assistindo à homilia.
PADRE: Eu gostaria de convocar, nesta Congregação, a vontade de fazer algo bom para nossos próximos, de forma tal como fazermos como aqueles que estão colados em nós. Vamos erguer a sociedade para que possamos fazer dela um refúgio das forças que se levantam todos os dias em cima de nós. As potestades são muitas, muitas... Um número bem maior do que pode imaginar. Um número bem maior do que o número de pessoas dispostas a se levantar contra elas. Reerguer é a palavra chave.
CORTE DESCONTÍNUO.
A missa acabou. Os membros SAEM da Igreja.
O padre cumprimenta duas pessoas, que logo SAEM e Rodrigo aproxima-se.
PADRE: Pois não, jovem?
RODRIGO: Não tá me reconhecendo, padre Honório?
Padre Honório observa-o por alguns instantes. Abre um sorriso.
PADRE: Claro. Rodrigo.
Ele abraça Rodrigo.
PADRE: Como vai, querido?
RODRIGO: Vou indo...
PADRE: Eu sei o quanto é difícil estar em paz nesses momentos, mas é preciso deixar que a alma descanse. Foi a vontade de Deus, Rodrigo, você precisa se conformar...
RODRIGO: Eu e meu pai estamos enfrentando bastante barreiras, mas sairemos dessa logo, logo, padre.
PADRE: É bastante confortante, Rodrigo, saber que você tem a seu pai. Eu fui muito amigo da sua mãe, sei que sabe. E lembro-me das diversas vezes que conversamos sobre você. Cresceu. Quando acaba a faculdade?
RODRIGO: Vou entregar o trabalho de conclusão em breve. Tá quase acabando.
PADRE: Que bom!
RODRIGO: Padre, eu não vim aqui relembrar os velhos tempos ou me confessar. Eu vim pedir ajuda.
O padre estranha.
PADRE: O que houve? Fale.
RODRIGO: Há algo muito estranho. Minha vida, padre... A minha vida está bastante conturbada, depois que eu voltei do Rio de Janeiro.
PADRE: Vem... Vamos entrar. Conversemos lá dentro.
O padre vai em direção ao interior do altar e Rodrigo segue-o.
CENA 19 – INT. IGREJA/SALA – DIA:
O padre senta-se e Rodrigo senta numa cadeira, à frente.
PADRE: Pode falar, Rodrigo. Estou à sua disposição.
RODRIGO: Na verdade, padre, eu não tenho muito o que falar, porque... Eu não consigo entender o que tem ocorrido. Tudo começou ontem, quando eu recebi uma visita em casa. Uma menina que me conhecia, embora eu nunca tenha visto ela por aqui, quando a gente ainda morava naquela casa. Depois disso, tudo parece ter mudado. Sonhos estranhos, relógio parando... Barulhos, coisas que eu sinto que não são normais, padre. Sobrenaturais, talvez, mas eu também não consigo descrever com bastante certeza... Eu não consigo entender nada disso! Tá tudo muito confuso! A minha cabeça gira...
Rodrigo começa a chorar. O padre levanta, vai até um bebedouro e enche um copo com água. Entrega a Rodrigo, que bebe.
PADRE: Fica calmo, Rodrigo.
RODRIGO: Eu só quero uma explicação, padre. Se eu não consigo pensar sobre, talvez Deus possa me explicar.
PADRE: Ele vai, Rodrigo. Mas eu preciso que você se acalme.
RODRIGO (respira fundo): Tá bom. Eu to mais calmo.
PADRE: Ótimo. Eu quero que você entenda que isso pode ser resultado da morte da sua mãe.
RODRIGO: O meu pai me falou o mesmo.
PADRE: E, talvez, ele esteja, realmente, com a razão, Rodrigo. A sua mãe morreu. É trágico, mas é a realidade. Você tem que entender e libertar-se disso. Só Jesus Cristo pode salvar você e a sua alma. Por isso, Rodrigo, é importante que você deixe a sua mãe seguir os passos dela ou, simplesmente, seguir os seus, porque se você prendê-la, nada irá pra frente, Rodrigo. Veja bem, estamos tratando de um caso estritamente espiritual, Rodrigo e, por isso, só o espiritual pode te curar.
RODRIGO: Então... Então tudo isso está ocorrendo por causa de mim mesmo, e não pela menina que foi na minha casa?
PADRE (sorri): Não, Rodrigo. De jeito nenhum. Você tem que viver normalmente. Isso vai passar. A sua mãe, quando jovem, sentia as mesmas coisas. Me lembro. Só que o dela era por causa de um gato. Um presente que sua avó deu, que, simplesmente, desapareceu!
RODRIGO: Mas o que eu preciso fazer pra me livrar dessas alucinações, padre?
PADRE: Você precisa viver normalmente e tentar, ao máximo, se aproximar de Cristo, pois só ele pode salvar você, Rodrigo.
Rodrigo encara-o.
RODRIGO: Eu nunca fui de vir muito em Igreja, mas estou disposto, se for pra essas alucinações acabarem.
PADRE: Sim. Eu gostaria de pedir para que você fique longe dessa menina, que você disse que foi à sua casa, Rodrigo.
RODRIGO: Mas... Por quê?
PADRE: Existem coisas que seres humanos normais, como você, não entendem, Rodrigo. Mas eu sou um ser iluminado, que entende muito mais do reino espiritual. Confie em mim e não abra a porta pra essa menina. (sério) Nunca mais!
CLOSE em Rodrigo, encabulado.
CENA 20 – INT. CASA DOS LIMA – DIA:
Rodrigo ENTRA e bate a porta.
RODRIGO: Pai?
Sem resposta, sobe as escadas.
CENA 21 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – DIA:


Rodrigo ENTRA e já vai ligando o notebook. Senta-se na cama e põe o objeto à sua frente. Seus olhos vibram na tela, mas, de repente, desviam o olhar.
PADRE (V.O.): Existem coisas que seres humanos normais, como você, não entendem, Rodrigo. Mas eu sou um ser iluminado, que entende muito mais do reino espiritual. Confie em mim e não abra a porta pra essa menina. (sério) Nunca mais!
Rodrigo põe o notebook pro lado e SAI do quarto.
CENA 22 – INT. CASA DOS LIMA/SÓTÃO – DIA:
Rodrigo ENTRA no sótão vagarosamente. Olha pros lados, pensativo.
INSERT – Um quadro está preso à parede, coberto com um pano marrom.
VOLTA À CENA.
Rodrigo percebe o quadro e vai até ele. CLOSE em Rodrigo. Quando tira o pano, suspense! Vê um quadro floral. Ele respira fundo, frustrado.
CENA 23 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – DIA:
O notebook apitando. Quando Rodrigo ENTRA, dirige-se ao aparelho.
Há três mensagens de Carlos.
CARLOS (chat): Tá aí, Rodrigo? Precisamos conversar.
CARLOS (chat): Cadê você?
CARLOS (chat): É urgente!!!
Quando Rodrigo começa a digitar, o monitor apaga. CLOSE em Rodrigo. Aperta em alguns botões.
RODRIGO: Essa não! Essa não! Que droga!!!
Ele tenta ligar mais uma vez, impaciente.
CENA 24 – EXT. LAGO – DIA:
Um extenso lago, meio ao dia apático.
CORTA pra margem, aonde um carro preto está estacionado. De repente, um carro mais velho aproxima-se pela rua estreita e estaciona ao lado daquele. Eis que Roger sai de dentro do carro preto e o padre do carro mais velho.
ROGER: Faz tanto tempo que a gente não se vê. Como vai, padre?
PADRE: Preocupado, Roger.
ROGER: Imagino que sim. Pra ter me ligado... O que aconteceu?
PADRE: Parece que, agora que a Elisa está, finalmente, descansando, em paz, as potestades resolveram atacar uma nova vítima. O seu filho.
ROGER: Como sabe disso, Honório?
PADRE: O Rodrigo me procurou, Roger. Ele está assustado, surpreso.
ROGER (respira fundo): Eu tentei convencer de que ele tá errado.
PADRE: Eu fiz o mesmo. Acho que ele, fielmente, acreditou que tudo é uma simples resposta de seu cérebro. Mas não vai durar muito tempo para as agressões continuarem, Roger. Temos que fazer alguma coisa.
ROGER: Você me convenceu de que a Elisa tinha seus problemas, Honório, mas eu acredito que com o meu filho não será a mesma coisa.
PADRE: Na época da Elisa, eu sabia que o pior viria a acontecer. Mas com o Rodrigo... Com ele é diferente. (pausa) Eu suponho que tudo seja uma questão genealógica, Roger. Rodrigo tem que ser o próximo alvo...
Roger vira-se para o lago.
ROGER: Por que a minha família, em? (agressivo) Por que será que essas malditas potestades têm que destruir a minha vida, padre?
PADRE (tom): Não vai adiantar alterar-se, Roger. É preciso que você conscientize dentro de si mesmo uma mudança e ajude seu filho para tal.
ROGER: Eu pensei nessa cidade... E se essa cidade for o grande problema? Talvez, mudemos daqui e tudo acabe!
PADRE: Não. Essas forças são maiores que qualquer lugar. Elas têm um novo alvo e não vão sossegar enquanto não acabarem com ele. O Rodrigo terá que lutar pela vida, Roger.
ROGER (respira fundo): Isso não pode ser real!
PADRE: Você duvidou e não acreditou em mim da primeira vez, com a Elisa. Aconteceu tudo o que você viu, Roger. Será que, dessa vez, você pode confiar no que estou dizendo? Pelo seu filho!
ROGER: Mas eu quero saber; dessa vez eu quero saber o que minha família tem, o porquê dela ser perseguida?!
PADRE: Eu sinto muito, mas você não pode saber. Isso/
ROGER (corta-o; exaltado): Como não? Estamos num mundo real, não num paralelo, padre. É cada vez mais difícil acreditar que é algo sobrenatural! Sempre foi uma doença, pra mim!
PADRE: É um caso particular, Roger. Há demônios nos sonhos do Rodrigo e nós precisamos fazê-lo liberto. Você poderia entender a gravidade da situação? Nós estamos lidando com seres invisíveis. Com seres que, por natureza, são lindos, como a maçã, no Éden, mas que, por fora, são os monstros mais assustadores!
ROGER: Padre...
Roger respira fundo e vira-se.
ROGER: Eu não sei se consigo levar tudo isso a sério.
PADRE: Não precisa tanto esforço, Roger. Basta saber que a vida do Rodrigo está em jogo, como a da Elisa. (pausa) Não me espantaria se o próximo a ser perseguido fosse você. (pausa) Pensar em si mesmo é um bom motivo para levar tudo isso a sério?
ROGER (virando-se): Está me chamando de egoísta?
PADRE: Estou dizendo que você não é maduro o suficiente para ter uma família, muito menos lutar por ela. E, acredite, falo como amigo.
Ambos dão-se as costas, pensando.
PADRE: Mas uma vida, talvez, valha muito pra você. O Rodrigo pode estar morto a qualquer momento e ele depende de nós.
CLOSE em Roger.
CORTA PARA:
CENA 25 – EXT. CASA DOS LIMA – NOITE:
Rodrigo estaciona o carro na alameda e sai do veículo. Saca as chaves do bolso e ENTRA pelo portão.
CENA 26 – INT. CASA DOS LIMA/SALA DE JANTAR – NOITE:
Roger arrumando a mesa.
RODRIGO (O.S.): Pai?
Rodrigo ENTRA.
RODRIGO: Ah, você tá aí.
ROGER: Eu já tava preocupado... Você passou o dia todo fora.
RODRIGO: Eu tive aqui, mas não te vi.
ROGER: É, tive que resolver algumas coisas. Nada de mais.
RODRIGO: Eu queria conversar com você sobre hoje. Principalmente, sobre a nossa conversa, de manhã.
INSERT - Roger põe um conjunto de jantar a mais à mesa.
VOLTA À CENA.
ROGER: É que a gente tem visita, Rodrigo.
RODRIGO: Visita? Quem?
ROGER: Tá no seu quarto, te esperando. Eu espero que ela não fique por muito tempo.
CORTA PARA:
CENA 27 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – NOITE:
POV de alguém, olhando a rua através da janela.
VOLTA À CENA.
Rodrigo ENTRA no quarto.
RODRIGO: Você, aqui?!
Samanta está à frente dele, braços cruzados.
SAMANTA: Fiz bem em vir?
RODRIGO (sorriso amarelo): Não esperava que viesse.
SAMANTA: Por que, não? Você agora é mais que um amigo pra mim.
Rodrigo encara-a, confuso.
SAMANTA: É, claro, você me salvou daquela chuva! (ri) É meu anjo da guarda, agora.
RODRIGO: Não, quê isso... Não foi nada. Eu faria por qualquer um.
SAMANTA: Fez por mim.
Samanta sorri e senta-se na cama de Rodrigo, que, nitidamente, desaprova.
RODRIGO: É... Então... Só isso?
SAMANTA: Você tá me mandando ir embora?
RODRIGO (respira fundo): Não, claro que não. Me desculpa. É que meu pai tava colocando mais um prato na mesa. Vai ficar pra jantar com a gente?
SAMANTA: Não sei. Se você quiser, é claro, fico.
RODRIGO (virando-se): Fique. Vai ser bom.
Samanta levanta-se; pega sua bolsa.
SAMANTA: Isso foi um erro... Eu vim aqui pra desabafar com você, porque achei que eu, finalmente, tinha encontrado um amigo. Me desculpa por invadir sua vida, Rodrigo.
Ela começa a chorar e vai saindo. Rodrigo segura em um dos braços dela.
RODRIGO: Espera, Samanta.
Subitamente, Samanta retorna, encara-o e abraça-o.
SAMANTA: Desculpa, mas a minha mãe descobriu um tumor, Rodrigo. Um tumor no cérebro. Tem dias de vida. Eu to perdida. Eu não quero ficar com o meu pai, eu não vou aguentar viver sem ela!
Rodrigo engole a seco. Desfazem o abraço.
SAMANTA: Eu... Eu não queria te forçar a uma amizade.
RODRIGO (acanhado): Não, Samanta, não é...
SAMANTA (corta-o): É! Claro que é! Eu sou nova, mais nova que você, mas sei perceber, bem, quando to atrapalhando.
RODRIGO: Não, você não tá. É que eu tive alguns momentos difíceis. Acho que aprendi a encarar o mundo real da forma que ele é, entende? E não da forma que a minha mente cria. Assunto de psicologia... (sorri) Talvez, não entenda.
SAMANTA (sorri; enxuga as lágrimas): É bom, saber que eu posso contar com você, porque... (respira fundo) Eu te amo, Rodrigo.
E Samanta dá um beijo repentino nele. Rodrigo afasta-se, rápido. Pisca os olhos freneticamente.
SAMANTA: Desculpa/
RODRIGO: Eu... Eu não tava esperando.
SAMANTA: É que, desde ontem, eu sinto isso. Eu sinto que eu estou cada vez mais próxima de você, mesmo que em pensamento... Rodrigo, tá tendo algo dentro de mim, que me leva pra você. E... E... Nesse momento difícil, da minha mãe, eu acho que só a nossa aproximação pode me dar forças para continuar.
Rodrigo anda pelo quarto, nervoso.
RODRIGO: Samanta, eu... Eu nem sei o que te dizer. Eu... Eu tenho um filho, sabe? Eu tenho histórias que você nunca saberá, eu to... Eu to nessa cidade pra esfriar a cabeça com tudo o que aconteceu com a minha mãe, pra tocar meu trabalho, minha faculdade.
Samanta vira-se pro nada, constrangida.
SAMANTA: Eu sei, eu sei, Rodrigo. Eu sei disso. Eu não quero atrapalhar sua vida, mas eu to gostando de você e o que tá tendo entre nós tá sendo maior que tudo. Por mais que você não acredite, há algo entre mim e você. Acredita, Rodrigo. Acredita em mim!
RODRIGO: Samanta, eu... Eu acredito, mas não quero me envolver. Somos amigos. Eu to do seu lado pro que der e vier; pras coisas que acontecerem com você e com a sua mãe, mas eu preciso que você entenda que eu não quero namoro, pelo menos... pelo menos por enquanto.
SAMANTA: Eu... Eu entendo, Rodrigo. Eu fui estúpida, me atirei pra cima de você sem nem perguntar, argumentar. Fui uma burra!
Rodrigo segura nos braços dela.
RODRIGO: Ei, espera. Amiga minha não se chama de burra, se acha a pior pessoa do mundo, porque se enganou. (sorri) Você tem que levantar a cabeça e seguir sua vida, menina!
SAMANTA: Eu vou! Eu vou, Rodrigo! A minha mãe vai se separar do meu pai. Vai ser difícil, porque a gente é uma família, mas ela vai tomar coragem pra se separar e seguir com o tratamento. Tudo vai melhorar!
RODRIGO: Isso aí! Todo apoio à sua mãe, agora, é pouco, Samanta.
SAMANTA: Você promete que vai me deixar ficar do seu lado? Porque quando eu entrei por aquela porta, como uma simples visitante, Rodrigo, eu prometi pra mim mesma, quando saí, que ia estar com você!
RODRIGO: Como amigos. (sorri) Eu... Eu to gostando de você, também, Samanta. É que a vida, os tropeços, tudo parece fantasiar coisas que, literalmente, não existem. Mas eu vou aprender a conviver com isso.
SAMANTA: Alguma coisa grave?
RODRIGO: Não. Apenas delírios.
Samanta ri.
RODRIGO: Vamos jantar?
CENA 28 – INT. CASA DOS LIMA/SALA DE JANTAR – NOITE:
Roger põe uma assadeira de vidro sobre a mesa. Rodrigo chega com Samanta.
RODRIGO: A Samanta vai jantar conosco, pai.
Roger encara-a e SAI pra cozinha. Rodrigo olha pra Samanta por alguns segundos e segue o pai.
CENA 29 – INT. CASA DOS LIMA/COZINHA – NOITE:
Roger joga um pano de prato em cima da mesa e apoia-se na pia, respirando fundo. Rodrigo ENTRA.
RODRIGO: Pai, o que deu em você?
ROGER (firme): Vai jantar com ela, Rodrigo.
RODRIGO: Eu quero entender a sua reação. A Samanta ficou com vergonha, poxa.
ROGER: Não é nada. Volta pra lá.
RODRIGO: Me fala pai. (sussurra) É por hoje de manhã? A Samanta não tem nada com isso. Ela é uma menina boa, que quer uma amizade e alguma coisa que a faça ser mais feliz! Só isso! Custa dar uma chance? (pausa) Eu passei o dia inteiro bem. O único motivo para as minhas loucuras sou eu mesmo. Eu!
ROGER (estoura): Não é, Rodrigo! Não é você!
Close em Rodrigo. CORTA RÁPIDO PARA
SALA DE JANTAR
Samanta assustada. VOLTA PARA A
COZINHA
ROGER: Você não vai entender, mas escuta o que teu pai tá falando: fica longe dessa menina, Rodrigo!
RODRIGO: Agora você quer me dar lição de moral?
ROGER (exaltado): Cadê o Mateus, o seu filho? Você nem liga pra ele, Rodrigo. Você está se metendo em furada, do lado dessa menina e eu não vou tolerar que ela fique aqui, dentro da minha casa! E, desde já, aviso: toda essa mudança na sua vida, você deve a ela, Rodrigo.
Roger SAI, avoado, e Rodrigo eleva às mãos à cabeça.
CENA 30 – INT. CASA DOS LIMA/SALA DE JANTAR – NOITE:
Rodrigo retorna.
SAMANTA: É melhor eu ir embora, Rodrigo. Eu não vou ficar na casa do seu pai, sem que ele me queira aqui.
RODRIGO: Não! Fica! Meu pai só tá um pouco indisposto. (pausa) Eu quero que você fique. (sorri) Hein?
====================[INSERIR SONOPLASTIA]==================
Samanta sorri. Rodrigo arrasta a cadeira e ela senta-se, aos risos. Ele também senta-se e eles se servem.
CENA 31 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – NOITE:
Rodrigo diante do computador.
Ele abre o histórico. Vai nos registros; em: “APAGAR TUDO” – aperta o botão. A página é esvaziada.
CLOSE dele. A CÂMERA afasta-se e vaza pela janela.
Dá um PLANO GERAL da casa. Fim da sonoplastia.
CENA 32 – EXT. CASA DOS LIMA – MANHÃ:
Sem camisa e com bermudas, Roger aspira a piscina.
CENA 33 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – MANHÃ:
Rodrigo abre os olhos. Esfrega-os com os dedos e respira fundo.
RODRIGO (V.O.): Tudo se resolveu, Rodrigo. Está tudo bem.
E ele levanta-se.
CENA 34 – INT. CASA DOS LIMA/CORREDOR – MANHÃ:
Rodrigo SAI do banheiro, vestindo bermuda e regata e repara a porta do porão meio aberta. Roger ENTRA no corredor.
ROGER: Bom dia! Tá um dia lindo! Limpei a piscina...
RODRIGO (ignora): Pai, você esteve no porão?
Roger, que ia entrando no QUARTO, retorna.
ROGER: Estive.
RODRIGO: A gente não combinou de não entrar mais lá?
ROGER: É que... (pensativo) Tava tentando achar um limpa piscinas. Achei que estivesse lá, mas não encontrei.
RODRIGO: Você... Você não vasculhou nada da mamãe, né?
Roger pensa um pouco para continuar.
ROGER: Não.
Rodrigo suspira.
RODRIGO: Certo.
CENA 35 – INT. CASA DOS LIMA/PISCINA – MANHÃ:
Um rapaz MERGULHA. Trata-se de Rodrigo, que nada calmamente. CLOSE em sua feição serena, até que
= FLASHBACK = =
Adiante, vem uma MULHER (mesmas características de sua mãe) nadando em sua direção. A mulher toca as mãos de Rodrigo (agora, um menino de 10 anos) e ambos sorriem, brincam, nadam um atrás do outro.
= = FIM DO FLASHBACK = =
É quando Rodrigo DESPERTA e prepara-se para emergir,
Mas bate contra uma PAREDE INVISÍVEL!
Ele insiste, e acaba machucando a cabeça. Sem entender, tenta nadar para o lado, mas a parede invisível o cerca. Insiste do outro, mas não adianta. Rodrigo BATE, aflito.
NO EXTERIOR DA PISCINA, Roger está deitado numa espreguiçadeira, bebendo um suco. Não ouve e não nota nada.
VOLTA EM RODRIGO
Desesperado, BATENDO, inutilmente contra a redoma de vidro em que se encontra. Já perdendo o ar, eis que a imagem de uma GAROTA (branca, cabelos longos e pretos), nua e muito sensual surge ao seu lado, sorrindo.
Rodrigo, tenta fazer algum gesto para pedir ajuda, mas a garota ignora. OUVIMOS uma voz feminina, misturada a ECOS.
VOZES FEMININAS: Você não deveria me esnobar. (T) Eu sou muito mal. (T) Você não vai se ver livre de mim. (T) Vou perseguir você e a sua mente. (T) Sou o demônio da sua vida.
A garota ATRAVESSA a redoma e acaricia o peito de Rodrigo.
= = SONOPLASTIA: Sensual, inclui vozes opacas, sussurros = =
Este, já perdendo as forças; a garota o encara, sedutora e vai abaixando-se em direção a sua calça. Volta em Rodrigo fechando os olhos, quase desfalecendo e
CENA 36 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – MANHÃ:
= = FIM DA SONOPLASTIA = =
RODRIGO ACORDA REPENTINAMENTE, todo suado. Respira fundo, mão no peito.
RODRIGO: O que foi isso? (T) Eu tava sonhando? O que está acontecendo comigo?
VOZ DE MENINA: Psiu!
Rodrigo olha para o computador, achando que vem dalí.
VOZ DE MENINA: Você tem que perder sua alma.
Rodrigo olha por todos os lados, treme as mãos, até que salta da cama e SAI correndo, desesperado.
CENA 37 – INT. CASA DOS LIMA/SALA – MANHÃ:
Rodrigo quase cai da escada, e para, estarrecido, ao ver algo no chão. PAPEIS espalhados pelo local. Papeis com o seu nome; outros, com o nome de sua mãe, Elisa. Num PLANO GERAL, vemos que a sala está TOMADA pelos papéis.
Em forte suspense, a CAM encontra o rosto perturbado de Rodrigo, de olhar vidrado, respiração ofegante.
SMASH TO BLACK.


FIM DO ATO II
ATO III
FADE IN:
CENA 38 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – MANHÃ:
ÂNGULO ALTO – Rodrigo, sobre uma escada,de frente para a CAM, ajeita uma câmera de segurança, presa à parede. Em seu olhar inquieto, perturbado. Ao fundo, Roger ENTRA.
PLANO GERAL – e ele vê papéis jogados sobre a cama; câmeras instaladas nas extremidades do quarto. Espanta.
ROGER: Mas o que é isso, Rodrigo? Essas câmeras são aquelas da sua mãe, que tava no sótão?
Rodrigo, meio lunático, mexe nos fios da filmadora.
RODRIGO: Aham. Ela tava certa, pai. (sussurra) Eles querem nos pegar...Mas comigo não. (fala normal) Isso... Isso deve ajudar a espantar de vez.
Sorri, estranhamente.
ROGER (desconfia / disfarça): Filho... para quê isso? Eu não to entendendo. Entrou algum ladrão aqui? Tem alguma coisa, Rodrigo, que eu não esteja saindo?
Rodrigo desce as escadas e anda de um lado para o outro, agitado.
RODRIGO: Pai, elas querem acabar comigo, entende? Eu me sinto cercado!
ROGER (impaciente): Rodrigo...
Rodrigo apanha algumas folhas da cama e revela a Roger.
RODRIGO: Deixaram isso aqui pra mim! Pai! É um sinal!
Roger pega um papel observa o nome de Elisa, repetidamente escirto.
ROGER: Filho... Talvez... Olha, talvez seja o caso d’eu chamar um psiquiatra, em? A faculdade está te deixando confuso/
RODRIGO (corta-o e sacode o mesmo papel): Não! Você não enxerga! Pai, isso aqui é real! Isso é real! Você não vê? Em?
ROGER: Rodrigo, ontem você estava na mesa da cozinha... Escrevendo em um caderno. Eu não vi, mas será que/
RODRIGO: Tá achando que enlouqueci, pai, é isso?
ROGER: Não, filho...
RODRIGO: Você nunca acreditou na mamãe, mas eu acreditei. E eu to vivendo isso. (sussurra) Pode tá aqui, agora; não sei pai. (olha pros lados) É uma voz...
ROGER: Rodrigo, você precisa de um médico!
RODRIGO: Isso é real, pai! Eu não to ficando maluco! Eu não escrevi nada disso! (joga as folhas no chão, raivoso) Eu não escrevi nada, caramba!
Rodrigo não se controla e cai no choro. Roger o abraça, penalizado.
RODRIGO (sobre o ombro do pai): Eu não quero terminar como a minha mãe, não quero, pai...
Roger afaga sua cabeça, muito preocupado.
ROGER: Calma, Rodrigo. Não é como a sua mãe. Eu vivi com ela. É diferente, com você. Eu vou chamar o psiquiatra. Vai ficar tudo bem.
No rosto assombrado de Rodrigo, até que
CORTA IMEDIATAMENTE PARA:
Rodrigo, aos GRITOS, sendo amarrado numa camisa de força por dois enfermeiros. Roger, aos prantos, com a mão na boca, observa a cena ao lado de Lúcio.
RODRIGO: Pai! Eu não consigo me mexer, pai! Elas me pegaram, eu vou morrer... Eu vou morrer!
CORTE DESCONTÍNUO:
CENA 39 – EXT. CASA DOS LIMA – MANHÃ:
Os enfermeiros já empurrando Rodrigo para entrar na ambulância. Ele esperneando, olhando para o pai, que apenas lamenta. Finalmente, é posto dentro do veículo, cujas portas fecham-se. Rodrigo aparece da janela, aos berros.
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 40 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – MANHÃ:
Volta em Rodrigo, sobre o ombro do pai, apavorado com a própria paranoia.
ROGER: Vai ficar tudo bem, filho. Confia em mim. Espere aqui que eu vou ligar pro doutor, tá?
Rodrigo faz que sim, de olhar arregalado, incerto sobre tal decisão.
Roger SAI.
Imediatamente, Rodrigo apanha seu notebook, pensa rápido. Olha para os lados, abre a janela, sobe na cômoda – derruba algumas coisas - e SALTA para o telhado.
CENA 41 – EXT. CASA DOS LIMA – MANHÃ:
Rodrigo corre, com o notebook nas mãos. Desce as
ESCADAS


Espreita-se pelas paredes, parecendo um fugitivo e chega ao
JARDIM
Observa os arredores, mas não vê ninguém. Senta-se no gramado, ajeita o notebook sobre as pernas. Abre-o.
Na TELA, ele tenta conectar-se à rede social, mas um ÍCONE vermelho, no rodapé, denuncia que não há sinal.
RODRIGO: Droga!
Rodrigo procura em seus bolsos alguma coisa.
RODRIGO: Meu celular... Que droga!
Ele fecha o computador e levanta-se para SAIR.
CENA 42 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – MANHÃ:
Roger, entrando com o celular em mãos...
ROGER: Filho, eu já marquei com o doutor e... (ele nota a ausência dele) Rodrigo?
Ele vê a cômoda bagunçada e a janela toda aberta.
ROGER: Ah, não! Rodrigo!
Roger vai até a janela. Dá um soco na cômoda e saca o celular, discando e levando aos ouvidos. Vai SAINDO do quarto.
ROGER: Padre, eu preciso de ajuda.
CENA 43 – INT. LAN-HOUSE – MANHÃ:
Notas de dinheiro e moedas sendo dispostas sobre o balcão. Rodrigo abre a carteira, puxa moedinhas da calça; tudo sob o olhar da ATENDENTE, estranhando tal comportamento.
Local bem movimentado, estreito, dividido entre uma lanchonete, logo na entrada, com o caixa e computadores.
RODRIGO: Duas horas, por favor.
A atendente sorri, sem graça. Devolve parte do dinheiro.
ATENDENTE: São 3 reais a hora.
Rodrigo nem liga. Apanha o dinheiro.
CORTE DESCONTÍNUO:
Rodrigo está sentado, diante do computador. Digita rápido.
A PÁGINA NÃO CARREGA.
PLANO DETALHE – na tecla F5, várias vezes.
A PÁGINA NÃO CARREGA DE JEITO NENHUM.
Rodrigo BATE na mesa e se levanta. As pessoas assustam-se.
OUVIMOS risos femininos. Rodrigo para, perplexo.
VOZ DE MENINA: (risos) Psiu...Vou perseguir você e a sua mente.
RODRIGO: (olha para trás) Quem disse isso?
VOZ DE MENINA: Sou o demônio da sua vida! Você tem que perder sua alma!
Uma mão feminina TOCA seu ombro, Rodrigo volta-se, em transe. Dá de cara com Samanta.
SAMANTA: (calma) Você tem que perder sua alma, Rodrigo.
RODRIGO: NÃO! Eu não tenho por que perder nada! (ele aperta o pescoço dela) Eu não vou perder nada! SAI DA MINHA VIDA! SAI!
Close em seu rosto, atormentado.
As pessoas aproximam-se de Rodrigo, que segura a atendente, pelo pescoço.
HOMEM#1: Chama a polícia, rápido!
A atendente empurra Rodrigo, com o rosto vermelho.
ATENDENTE: Seu maluco! Você me machucou!
Rodrigo se atordoa mais ainda, esquiva-se. TODOS encarando-o, reprovando a atitude. Rodrigo caminha pra trás, em direção à porta de saída.
HOMEM#1: Segura ele!
E Rodrigo SAI correndo.
CENA 44 – EXT. IGREJA – ANOITECER:
O padre vem em direção às portas. Prepara-se para fechá-la, quando MÃOS MASCULINAS impedem.
PADRE: Rodrigo?!
Rodrigo está ofegante, desalinhado; dá medo de olhar.
CENA 45 – INT. IGREJA – ANOITECER:
As mãos do padre prendem o teço. Rodrigo ao lado. Estão sentados num dos bancos, meio a Igreja escura.
PADRE: E então? O que te trouxe aqui?
CLOSE em Rodrigo.
RODRIGO: Eu... Eu tenho dúvidas...
PADRE: Dúvidas? É sobre o que já conversamos, Rodrigo?
RODRIGO: Padre...
Rodrigo respira fundo, desvia o olhar. Reata.
RODRIGO: Eu tenho certeza que eu... (trêmulo) Que eu estou vivendo com um demônio!
E Rodrigo segura às mãos dele, tenso. Lágrimas.
RODRIGO (alto): Um demônio!
PADRE: Rodrigo/
RODRIGO (corta-o): Tudo mudou depois que eu abri aquela maldita porta, tudo mudou... Eu ouço vozes, tenho pesadelos, coisas estranhos. (descontrolado) Eu preciso... Eu preciso de um exorcismo, padre! Eu estou desesperado! Aquela menina, a Samanta, ela é um demônio, um demônio que quer fazer da minha vida um inferno, padre... É, é isso! Um inferno/
PADRE: Pare, Rodrigo! Por favor, não fale isso na casa de Deus! Eu não mexo com essas coisas. O demônio só entra em nós quando damos liberdade. E, pra ele sair, é preciso muita força de vontade, Rodrigo. Só você pode libertá-lo.
RODRIGO: Eu não tenho forças, Padre... Eu...
Rodrigo chora.
PADRE (segura as mãos dele): Tudo começa com você, filho...
RODRIGO: Padre... O senhor quase curou minha mãe. O que ela tinha? Em? Eu... Eu e o papai nunca entendemos as loucuras da mamãe, mas... Mas eu entendo, padre. Eu entendo, agora!
PADRE: Calma, Rodrigo, você tem que se acalmar. Está tudo bem. Aqui, eles não entram.
RODRIGO (espantado): Eles?
CLOSE em Rodrigo. CORTA no padre, sério.
CORTA PARA FLASHBACK:
CENA 46 – EXT. IGREJA – DIA:
No TOPO DA IGREJA, o sino toca.
Em direção a PORTA DA IGREJA, Elisa vem correndo. Grita por socorro, olha a todo tempo pra trás.
POV DE ELISA – vê dois homens, andando, calmos, seguindo-a. Ela berra por socorro. Eis que o padre abre a porta da Igreja, ligeiro.
PADRE: Rápido, Elisa! Rápido!
VOLTA À CENA.
Elisa ENTRA na Igreja. O Padre bate a porta.
O ENTORNO DA IGREJA está vazio. Eis, porém, que, de repente, um HOMEM, olhos vermelhos, roupas negras, surge na tela. Dá um sorrisinho e segue, em direção à uma das janelas da Igreja. Ouvimos os berros de Elisa, lá de dentro.
PADRE (O.S.): Endemo locati ali, maderno hiri el!
Num BERRO de Elisa...
CENA 47 – INT. IGREJA/SALA – ANOITECER:
Surge no rosto de Rodrigo, deitado numa cama, de olhos fechados. ABRE e revela o Padre; ele molha um pano numa água, contida numa bacia. Aproxima-se com o pano encharcado e põe na testa de Rodrigo. Este abre os olhos.
RODRIGO: Pra quê isso, padre?
PADRE: Tratamentos além da espiritualidade, Rodrigo. Você precisa estar mais calmo.
RODRIGO: Você não me falou sobre minha mãe, sobre tudo o que está acontecendo comigo... É segredo?
POV DE RODRIGO – Sua visão vai ficando turva.
RODRIGO: Eu não to... Vendo...
Visão vai escurecendo, até fechar completamente.
VOLTA À CENA.
O Padre encara-o.
CENA 48 – EXT. IGREJA – ANOITECER:
A sandália velha do Padre levanta a poeira do chão, quando se revela na SACADA da Igreja.
Ele mira as imediações do lugar e retira, de dentro de sua bata, uma cruz de ferro vermelha. O padre fecha os olhos; inicia uma oração em latim.
VOZ ESTRIDENTE (O.S.): O que você quer? O que tem para me oferecer, filho da luz?
O padre continua com suas falas; balança a cruz; carrega, aparentemente, uma espiritualidade forte e uma energia bem pesada. Sua voz oscila entre o alto e o baixo; bate a cruz contra o ar, como se estivesse acertando alguém.
De repente, uma mão masculina alcança seu ombro. O padre abre os olhos.
VOZ DEMONÍACA (O.S.): Eu vim assim que você me chamou, padre!
O padre respira fundo, gira a cabeça lentamente, a ver quem é: depara-se com Carlos. Sua cruz vai girando, em direção a ele, quando ouvimos um forte barulho de vidro quebrando, no interior da Igreja. O padre encara Carlos, assustado, e dá passos para trás, ENTRANDO na Igreja de costas, lentamente. Quando Carlos pisa para entrar...
PADRE: Você não é bem-vindo nesse lugar, espírito Incubus! Você fez da vida de Elisa um verdadeiro inferno! Vá embora! Vá, agora! Uma autoridade manda você, mas há uma autoridade muito maior aqui. (olhos fechados) Ora, exorcite est, radicem mali!
CARLOS (voz grave): Não saio!
SAMANTA (V.O.): Quem impedirá, (voz demoníaca) padre?
E o padre se vira; dá de cara com Samanta, com a maca de Rodrigo, desmaiado, diante de si. O padre vê-se no meio dela e de Carlos. Olha pra ambos.
SAMANTA (voz demoníaca): Nós queremos o fim de tudo isso. Dê-nos o que é nosso! O que veio de nosso lar, o que nos pertence, padre!
O padre, então, retira uma cruz de dentro de sua bata e joga-a no chão.
PADRE (voz demoníaca/com legenda do latim): In nomine Iesu sanat et liberat a daemonibus ostendantur, quia vicit omnes dimittam eos!
No nome de Jesus, que salva e cura os demônios, pois já venceu todos eles, eu liberto-os!”
No embate.
Eis que, então, os olhos de Samanta vão tornando-se vermelhos e miram Rodrigo. Carlos olha para o padre com um olhar fechado.
SAMANTA: A alma é minha! Desde sempre.
Samanta, então, começa a olhar Rodrigo fixamente. O padre reage, cata a cruz do chão e aponta para ela; começa a rezar. Carlos afastado, observando.
Troca de olhares.
CENA 49 – INT. LUGAR MISTERIOSO:
Música sensual e lugar enfumaçado, com mulheres nuas, em vários poles dance; esfregando-se neles.
Rodrigo sentado numa das cadeiras, fixo em Samanta, em um dos postes, rebolando até o chão e esfregando-se enquanto mira-o. Olhares encontram-se. Samanta desce do palco, enfim, e, nua, senta-se no colo de Rodrigo, que começa a abrir o zíper da calça.
PADRE (O.S.): Não vá, Rodrigo! Resista! Resista, Rodrigo, Rodrigo! Resista!
SAMANTA: Você sabe o que faz, Rodrigo. Um dia, sua mãe se entregou e veio você; a sua alma tem que vir comigo, Rodrigo. Vamos, me ame, Rodrigo... Me dê um pouco de prazer...
De repente, Samanta encara-o com um rosto assustado.
CLOSE em Rodrigo, que arregala os olhos, também.
Quando a CAM vira novamente, com o intuito de revelar Samanta, não a encontramos.
CENA 50 – INT. IGREJA/SALA – ANOITECER:
POV DO PADRE – Sua visão toma foco aos poucos.
ROGER (O.S.): Eu não aguento mais essa vida, Rodrigo. Perseguidos...
VOLTA À CENA.
Roger e Rodrigo observam o Padre, deitado numa maca. Rodrigo muito pálido.
RODRIGO: Eu não me lembro de nada, pai...
ROGER: É como a sua mãe.
RODRIGO: O que eu tenho? Eu não consigo achar uma saída, uma cura...
ROGER: Só o padre, Rodrigo. Só ele poderá te dizer isso. Eu nunca entendi da sua mãe. Até que a perdi.
O padre abre totalmente os olhos, enfim.
As mãos dele movem-se, lentamente, e vão de encontro às de Rodrigo. Seguram-se nelas.
PADRE: Eu tenho... (tosse forte) Eu tenho uma saída, Rodrigo. Eu sei como.
Rodrigo e Roger encaram-se.
PADRE: Vamos queimar essa menina. Vamos queimar esse demônio!
FADE OUT.


FIM DO ATO III
ATO FINAL
FADE IN:
CENA 51 – EXT. IGREJA – NOITE:
Uma luz fraquinha. O badalar do sino.
CENA 52 – INT. IGREJA/SALA – ANOITECER:
O padre sentado na maca. Roger e Rodrigo em poltronas.
PADRE: A Elisa não tinha nenhuma chance, Rodrigo.
RODRIGO: A minha mãe tinha crises muito piores, padre. Talvez isso tudo seja uma crise psicológica. Eu estudei psicologia. Existem parâmetros religiosos que são confundidos durante toda a vida/
PADRE: Você acha mesmo que isso é um caso de saúde, Rodrigo? Acha que resolve com medicamentos? É um caso espiritual! Um caso que está muito além de nós!
RODRIGO: Eu não sei, padre. O que é a Samanta? Em? Ela, talvez, seja uma ilusão/
PADRE: Pare de se enganar, Rodrigo. Você já sabe de todas as verdades. Deve aceitá-las!
Entre eles.
PADRE: Elisa começou com as crises cedo. Via um amigo, antigo, por todo lado.
ROGER: A sua mãe via coisas, Rodrigo. Ela não dormia. O caso dela só piorava. Passava noites e noites rezando. Ela temia algo que eu nunca soube o que realmente era.
RODRIGO: E porque me perseguir? Essa coisa matou a minha mãe!
PADRE: Uma herança, Rodrigo.
RODRIGO: Herança?
PADRE: Succubus, o demônio do sexo. Ele persegue suas vítimas, tenta abusos com elas e seus maiores desejos são conseguir transformar seus sonhos em um grande ato sexual.
Rodrigo, pasmo.
PADRE: Talvez seja a hora de você lutar, tal como sua mãe. Não me perdoei, quando a Elisa morreu e não conseguiu vencer, Rodrigo. (tempo) Talvez, nenhum de vocês dois saibam, mas o maior erro da Elisa foi não ter acordado do maior pesadelo da vida dela. A Elisa foi abusada por um demônio, Rodrigo.
O rosto de pavor de Roger.
PADRE: Você é fruto de um ato sexual com um demônio! (agressivo) Está além de mim. Não me cobre, Rodrigo!
RODRIGO: Não!
PADRE: Você é fruto do inferno!
RODRIGO (berra): Eu não aceito isso! Não é verdade! É mentira! É ilusão!
PADRE: É por isso que essa coisa persegue você! Você tem que aceitar!
ROGER (berra): Você não pode falar isso pro meu filho! Você não tem esse direito!
RODRIGO: Eu sinto muito, padre, mas eu não acredito em nenhuma palavra do que você diz.
PADRE: Então, por que veio me procurar?
Rodrigo encara-o por alguns instantes.
RODRIGO: Porque, pra mim, essa história não se transformaria em uma grande mentira. Eu não acredito em nada disso. Não acredito em demônios, em vozes, em perseguição. Não acredito que eu sou filho do diabo!
PADRE: Não pronuncie seu nome na cada de Deus.
RODRIGO: Dane-se, padre! Eu não acredito em nada. Eu quero ter paz. Se quer um motivo pra eu estar aqui, é isso: paz. Eu quero viver a minha vida, livre de qualquer coisa.
ROGER: Vamos embora, Rodrigo.
PADRE: Eu, apenas, contei a verdade, Rodrigo. Se ela é fantasiosa demais para seu ouvido, assim como foi para seu pai, então você pode ir embora. (pausa) Mas eu juro que não me sentirei culpado desta vez.
ROGER: Eu cogitei acreditar em sua história... Mas eu cheguei à conclusão de que ela é uma mentira. Uma mentira que só faz sentido para as suas loucuras. Vamos, Rodrigo.
Roger sai. Deixa a porta aberta.
RODRIGO: Vou procurar um médico. Deveria ter sido a minha primeira decisão. (tempo) Certamente, ele não me dirá que sou fruto de um ato sexual entre ser humano e espiritual. Você matou a minha mãe, padre. Você é o único causador da loucura que fez ela enlouquecer. Você.
Rodrigo vira-se, em direção a saída.
PADRE: Rodrigo.
Rodrigo vira-se.
PADRE: Já que nada disso faz sentido, então, talvez, viver uma vida mais íntegra, faça. Você pode ir. (tempo) Boa sorte.
Rodrigo SAI. O padre respira fundo e retira um crucifixo de dentro da bata.
PADRE: Fiz o que tu mandaste, Senhor. Eu cumpri teu mandamento. A verdade está posta.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 53 – EXT. JUIZ DE FORA – ANOITECER:
Amanhece na cidade.
CENA 54 – INT. CASA DOS LIMA/QUARTO DE RODRIGO – DIA:
Uma xícara de café é posta sobre a mesa.
Rodrigo concentrado em um notebook – diferente do seu. Roger aponta na porta.
ROGER: Funcionou?
RODRIGO: Sim.
ROGER: Ótimo. Queria ver com você sobre o médico.
RODRIGO: Pode marcar, pai. Eu vou. Eu vou me tratar e vou ficar curado.
Encaram-se.
ROGER: A maior doença da sua mãe foi a Igreja, Rodrigo. Eu tenho certeza disso.
SOM no computador anuncia alguma notificação. Em Rodrigo.
RODRIGO: Ué...
ROGER: Algum problema?
RODRIGO: O professor, meu tutor no trabalho... Ele pediu exoneração.
ROGER: Por quê? E o trabalho, como fica?
RODRIGO: Não sei...
No rosto confuso de Rodrigo.
CENA 55 – EXT. CASA DE SAMANTA – DIA:
Rodrigo pressiona a campainha. Olha pros lados, inquieto, enquanto espera. Sem resposta, toca novamente. O portão é aberto e uma mulher negra, baixa, lenço na cabeça, encara-o séria.
SENHORA: Pois não?
RODRIGO: Oi. É... Meu nome é Rodrigo, eu sou amigo da Samanta. Ela está?
SENHORA: Samanta?
RODRIGO: Sim. A gente não se vê há algum tempo. Eu queria/
SENHORA (corta): Há um bom tempo, né rapaz?
RODRIGO: Nem tanto. Ela está ou não?
SENHORA: Ela morreu tem quinze anos, e eu vou agradecer se isso não for uma brincadeira.
Espanto em Rodrigo. A mulher quase fecha a porta, mas Rodrigo segura.
RODRIGO: Como assim, ela morreu? Outro dia mesmo /
SENHORA: Ela foi atropelada quando voltava da escola. Agora, se me der licença.
Ela fecha o portão, repentina.
RODRIGO: Ei, espera!
Rodrigo bate no portão. Pressiona a campainha.
RODRIGO (alto): Ei!!!
Não tem resposta. Rodrigo pensa um pouco, confuso.
RODRIGO: Eu devo ter errado o endereço...Ou preciso intensificar os remédios. Que loucura…
Rodrigo deixa a tela.
CENA 56 – INT. CASA DE RODRIGO/SALA – DIA:
Rodrigo ENTRA e fecha a porta. Mete a mão numa caixa de madeira e pega correspondências. Ignora algumas, até que abre outra. Lê a carta, atento.
Roger vem descendo as escadas.
RODRIGO: Pai...
ROGER: De quem é a carta?
RODRIGO: É aniversário do Mateus. A Lavínia tá me chamando.
ROGER: Ela ainda te convida?
E Roger sai andando, em direção à cozinha.
CENA 57 – INT. CASA DE RODRIGO/COZINHA – DIA:
Roger lava a louça. Rodrigo perto, com as cartas em mãos.
RODRIGO: Não é que eu tenha esquecido o Mateus. A Lavínia sempre soube que eu estava passando por um momento difícil.
ROGER: E, agora, você resolveu abandonar sua desculpa pra esquecer seu filho? Eu sempre te apoiei, Rodrigo, mas não vou tapar o sol com a peneira. Sei que você não é o pai que deveria ser.
RODRIGO: Você não precisa jogar na minha cara, OK?
Rodrigo cata um copo e enche d’água.
RODRIGO: Eu sei bem dos meus erros.
ROGER: Então porque não tentar consertá-los, em, Rodrigo? Abandona o passado, vive a vida que você tá tendo a oportunidade de viver... O seu filho tá crescendo e quando você menos esperar, ele vai estar do seu tamanho. Só que, então, virando as costas pra você.
RODRIGO: Eu já disse que vou procurar o Mateus.
ROGER: Eu acho bom. (pausa) O médico está marcado para às quatro de hoje.
Roger vai saindo.
RODRIGO: Pai...
Retorna.
ROGER: Sim.
RODRIGO: Tem um problema que eu não falei.
ROGER: Samanta?
RODRIGO: Também. Ela não me atendeu. Tenho certeza que ela está em casa. Inventou uma desculpa.
ROGER: Esqueça essa menina, Rodrigo.
RODRIGO: Tem outra coisa.
Roger espera.
RODRIGO: Eu... Eu to preocupado. (suspira) Eu não dormi essa noite.
Roger encara-o.
RODRIGO: É, pai, eu to com medo. É isso que quer ouvir? Eu não quero voltar àquelas paranoias. Dormir, acordar num pesadelo e achar que aquilo é real!
Roger aproxima-se de Rodrigo e segura seus ombros.
ROGER: Não falte a consulta.
CENA 58 – INT. CASA DE RODRIGO/QUARTO DE ROGER – TARDE:
POV DE ROGER – Meio às persianas da janela fechada, vemos Rodrigo dar ré no carro e sair da garagem. Na rua, arranca e parte.
VOLTA À CENA.
Roger, sério.
CORTE DESCONTÍNUO:
CENA 59 – INT. CASA DE RODRIGO/SALA – TARDE:
O fogo da lareira acesa leva fumaça para dentro da sala.
Roger está no centro dela, com o diário da cena 17 em mãos. Ele encara o objeto e abre-o. Arranca as folhas, então, e vai jogando no fogo, que as consome. Joga uma por uma.
Na lareira.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 60 – EXT. RODOVIA – TARDE:
Em TRAVELLING, acompanhamos o carro de Rodrigo locomovendo-se pela pista. Ele dirige e Roger está no carona.
CORTA PARA:
MONTAGEM (SEM ÁUDIO):
A) Rodrigo brinca com MATEUS (cabelos pretos, ondulados, branco, 5 anos), joga-o para o alto, meio a um gramado extenso.
RODRIGO (V.O.): A maior sorte que eu tive foi as medicações darem certo. Eu já podia dormir e estava certo de que tudo não passou de um problema mental. Minha mãe, certamente, iludida pela própria Igreja, morreu por medo de algo que nunca, se quer, existiu.
B) Ambos pulam na piscina.
RODRIGO (V.O.): Meu maior remédio foi, certamente, meu filho. Lavínia tem se reaproximado e minha relação com meu pai está melhor. Ele não chora mais pela morte da mamãe. Meu trabalho terá atraso na entrega. Fui compensado pelo sumiço do Carlos.
C) LAVÍNIA (magra, cabelos pretos e ondulados, 27 anos), ri das situações de Mateus.
RODRIGO (V.O.): Nunca mais vi Samanta.
D) Roger mima o neto, enquanto Lavínia e Rodrigo olham-se.
RODRIGO (V.O.): Volto para Juiz de Fora amanhã e não me lembrarei de nada do que um dia me atormentou.
E) Rodrigo dirige, à calada da noite, pela rodovia. Assim que seu carro passa avoado, uma sombra negra surge no canto da CÂMERA.
FADE OUT.
FADE IN:
CENA 61 – INT. RODOVIA – NOITE:
Em Rodrigo dirigindo. Roger, ao lado, distraído. Até ver, pelo retrovisor
UMA SOMBRA NEGRA PASSAR ZAMPADA
Roger olha para o filho, repentinamente.
ROGER: Coisa estranha…
RODRIGO: O quê?
Roger torna a olhar pelo retrovisor, mas volta-se, mais aliviado.
ROGER: Bobagem. (T) Preparado para amanhã?
RODRIGO: Preparado e aliviado. Sabe, to me sentindo mais leve depois de retomar com a Lavínia e meu filho. Em pensar que perdemos tempo com aquele padre.
ROGER: Não vamos nos ater a isso. Vida que segue. Igreja nunca mais!
Rodrigo ri, levanta uma das mãos. Olha para o pai.
RODRIGO: Amém!
No riso de Roger, até dar lugar ao desespero.
ROGER: O QUE É ISSO?!
Rodrigo desespera-se.
POV DE RODRIGO – A sombra negra está diante do carro, de braços abertos. Não há mais tempo.
O som dos freios arranhando o asfalto,
o carro vai pra cima.
SUSPENSE máximo.
FADE TO BLACK
Respiração ofegante; OUVIMOS um coração bater.
FADE IN
CENA 62 – INT. LUGAR MISTERIOSO – NOITE:
Local esfumaçado. A fumaça vai sumindo, dando lugar a um ambiente inóspito, estreito e medonho; Paredes cinzas e mofadas; Pisos escuros; Uma lâmpada sustentada pela fiação, quase caindo. Há duas portas de ferro, uma de frente para a outra. Rodrigo entra em cena, assustado e ofegante.
RODRIGO: Pai? (T) Pai?
Rodrigo aproxima-se de uma das portas.
PLANO-DETALHE – A maçaneta abaixa, fazendo um barulho sinistro.
SUSTO.
A porta abre, mas uma nuvem branca atrapalha a visão do que há lá dentro. Rodrigo hesita, dá pra trás, mas acaba EMPURRADO.
CORTE DESCONTÍNUO:
Música sensual.
Rodrigo CAI sobre um piso molhado; Ao tentar se levantar, percebe a situação em que se encontra: Mulheres nuas, esfregando-se uma nas outras; gemendo de prazer; Luzes vermelhas, poles dance com mais mulheres. Uma zona de tentação.
OUVIMOS UM CORAÇÃO BATER CADA VEZ MAIS RÁPIDO
Ao fundo, atrás das mulheres, uma imensa labareda. Aos poucos, surgem Samanta e Carlos, trajando roupas negras; Mantém uma expressão demoníaca.
RODRIGO: Professor? Onde eu to?
CARLOS: Falei para ter cuidado em não aprofundar-se tanto no tema sonho, Rodrigo (risos). Ninguém nunca concluiu a pesquisa.
RISADAS MALÉFICAS.
Duas mulheres seguram Rodrigo, uma de cada lado. Rodrigo tenta desvencilhar-se. Samanta já aparece NUA; Desliza as mãos pelo corpo de Rodrigo.
SAMANTA: Você quer. Você me quer.
Rodrigo balança a cabeça negativamente, esbaforido. Tenta se soltar, mas quando a CAM se afasta, revela que as mulheres não o seguram mais, mas ele continua a se sacudir, como se preso ainda estivesse.
RODRIGO: Me solta...Eu não quero, eu não preciso de você.
SAMANTA: Você vai gostar. Não dói nada entregar sua alma, Rodrigo.
Samanta RASGA sua camisa; Lambe seu peito. Rodrigo fecha os olhos, de prazer.
Carlos observa, debochado.
PLANO-DETALHE - As mãos de Samanta deslizam até a calça de Rodrigo. Ela tenta abrir.
CAM vai pro rosto de Rodrigo, suado; Olhos fechados.
VÁRIAS IMAGENS saltam na tela, intercalando com o rosto de Rodrigo. São imagens de Lavínia, seu filho Mateus; O tempo que passou com eles, naquele dia; A felicidade estampada no rosto da criança.
PADRE (V.O): […] o maior erro da Elisa foi não ter acordado do maior pesadelo da vida dela. […] Você é fruto do inferno!
Rodrigo ABRE os olhos, no súbito.
RODRIGO: NÃO!
Rodrigo empurra Samanta, que mostra-se assustada.
RODRIGO: EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! EU NÃO PRECISO DE VOCÊ!
O rosto de Samanta ganha formas mais medonhas, seus olhos ficam vermelhos. Tanto ela, quanto Carlos são puxados na direção das labaredas.
OUVIMOS UM CORAÇÃO BATER FRENETICAMENTE
No GRITO de Samanta e Carlos, até serem sugados pelas labaredas. As chamas aumentam subitamente e vem na direção da tela, até que /
FADE TO BLACK
FIM DA SONOPLASTIA
SONOPLASTIA – SOM de um monitor cardíaco apitando; Sem sinais vitais.
FADE IN
Um DESFIBRILADOR invade a tela.
Rodrigo, inerte sobre uma cama de HOSPITAL, e com um corte na testa, recebe o choque no peito.
CENA 63 – INT. HOSPITAL / QUARTO – DIA SEGUINTE:
Os médicos usam o desfibrilador em Rodrigo. Três vezes. Um dos médicos encara o colega; faz expressão de vencido. O colega, então, faz um sinal com a cabeça para ele tentar novamente. O médico dá outro choque. Quase desistindo, quando o monitor cardíaco volta a marcar os sinais vitais. Os médicos sorriem.
CENA 64 – INT. HOSPITAL / QUARTO – DIA – HORAS DEPOIS:
Na porta, Roger acaba de cumprimentar um policial.
ROGER: Muito obrigado. Se precisar de mais depoimento, lá estaremos.
POLICIAL #1: Acho que não será preciso. Melhoras para o seu filho.
O policial SAI. Roger fecha a porta e vai até Rodrigo, acamado, mas visivelmente melhor. Roger põe as mãos na cintura; Respira fundo.
ROGER: Que bom que a polícia acreditou na nossa versão; Um animal na estrada. Nada como um clichê para nos salvar do hospício.
RODRIGO (sorriso amarelo): Eu não lembro de nada. O senhor não se feriu?
ROGER: Alguns arranhões. O carro terá que passar no mecânico; Tombou na estrada. (T) Odeio dizer isso, mas...Parece que o padre tinha razão.
RODRIGO: Foi horrível, pai. Um sonho perturbador. Aquele fogo parecia que ia me consumir. Eu quase morri!
ROGER: Não vamos pensar nisso, meu filho. Você venceu seus demônios. É hora de seguir em frente. Assim que você receber alta, poderemos partir para Juiz de Fora.
RODRIGO (surpreso): O senhor também?
ROGER: Se eu não for incomodar, claro.
RODRIGO: Não, não. Eu até ia sugerir isso mesmo. Quero a minha família o mais perto possível de mim.
Roger assente.
A porta abre, Lavínia entra com Mateus. O garoto corre até Rodrigo, animado, tenta subir na cama.
RODRIGO: Ô garoto! Seu pai não tá 100%, não.
MATEUS: Quando a gente vai brincar de novo?
RODRIGO: Quando eu sair daqui, meu filho. Nunca mais sairei de perto de você.
Lavínia observa a cena, sorrindo.
LAVÍNIA: Impressionante como mesmo tanto tempo afastado, Mateus tem esse carinho todo. Sempre entendeu a situação do pai…
ROGER: Amor de filho. Agora eles poderão recuperar o tempo perdido. Nunca é tarde, né?
LAVÍNIA (força o sorriso): É…
Lavínia encara a cena com estranho ar de repúdio.
FADE OUT
FADE IN
CENA 65 – EXT. CASA DOS LIMA – DIA:
LEGENDA: DIAS DEPOIS.
Roger ajuda a colocar as malas no carro. Mateus traz uma mala pequena, Roger logo se apronta para ajudá-lo.
ROGER (brinca): Que mala pesada, menino! Você é forte mesmo, em.
Mateus ri, todo bobo.
Rodrigo e Lavínia saem de dentro da casa, com poucas malas. Chegam ao portão. Em contrapartida, Lúcio e o padre aproximam-se.
LÚCIO: Pô, cara, vai nos deixar mesmo?
RODRIGO: Pois é, camarada. Vida nova. Fazer o TCC e ainda sofrer um acidente no percurso, foram demais pra mim (risos). Preciso mudar de ares.
LÚCIO: Desejo sorte e sucesso, cê sabe.
RODRIGO: Igualmente.
Ambos cumprimenta-se e dão um longo abraço. É a vez de Rodrigo encarar o padre. Fitam-se, por segundos.
PADRE: Eu orei muito por você, Rodrigo.
RODRIGO: Obrigado. Quero aproveitar para pedir desculpas. Fui grosso, quando o senhor só queria ajudar.
ROGER: Eu também. Quase morrermos, padre. E teríamos morrido brigados com o senhor.
PADRE: Não há nada para ser desculpado, meu amigo. O importante é que estão todos bem, longe das amarras do demônio.
Lúcio e Lavínia ouvem aquilo, sem entender.
LÚCIO: Amarras do demônio? Rodrigo tava endemoniado e ninguém me chama pra festa?
O padre espanta-se. Rodrigo e Roger riem.
RODRIGO: Nada disso, Lúcio! O padre tava se referindo aos obstáculos da minha vida (abraça Lavínia, puxa Mateus também). Ao tempo perdido. Cansaço, irresponsabilidade, descaso...São moradias do demônio, sabia não?
LÚCIO: O que eu sei é que você tá estranho.
Todos riem.
LAVÍNIA: Acho melhor irmos. Não quero chegar tarde na cidade.
Todos assentem. Roger, Rodrigo, Lavínia e Mateus entram no carro.
O carro parte. Lúcio e o padre acenam.
FADE OUT
FADE IN
CENA 66 – EXT. CIDADE – DIA:
LEGENDA: JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS
Tomadas aéreas - Destaque para o Museu Mariano Procópio; O Cine-Theatro Central; O Parque Municipal da Lajinha; A Catedral Metropolitana.
CENA 67 – INT. CASA DE RODRIGO E LAVÍNIA / QUARTO – DIA:
Em Rodrigo, dormindo na cama, sereno; Lavínia, ao lado, abraça-o; Beija seu pescoço. Rodrigo desperta.
LAVÍNIA: Hoje é um dia especial, garotão. Preparado?
Rodrigo se espreguiça e abraça Lavínia.
RODRIGO: Sempre. Quero sair desse pesadelo chamado TCC.
Risos.
LAVÍNIA: Vou pra sauna. Se quiser ir lá depois? É sempre bom esquentar o corpo antes de esquentar a cabeça. Entende?
RODRIGO: (brinca) Você quer sugar minhas energias antes do TCC? Não, não caio nessa cilada.
Lavínia força o sorriso; Assente.
LAVÍNIA: Tudo bem. Não vou demorar.
Os dois trocam um beijo rápido.
Em Rodrigo, semblante tranquilo.
CENA 68 – INT. CASA DE RODRIGO E LAVÍNIA / SAUNA – DIA:
Em meio a uma fumaça típica, Lavínia, de olhos fechados, encontra-se deitada em uma plataforma, envolvida por uma toalha no corpo e na cabeça.
O suor escorrendo de sua pele;
A fumaça aumenta.
Lavínia abre os olhos. Sorri.
POV DE LAVÍNIA – A fumaça vai esvaindo-se, aos poucos, até abrir espaço para Carlos, totalmente nu. O homem sorri, sedutoramente, a medida em que se aproxima.
PLANO-DETALHE – Sua mão desliza pelas pernas de Lavínia; Retira seu roupão.
FIM DO POV
CORTE DESCONTÍNUO:
Em Lavínia, fechando os olhos, enquanto geme de prazer; Morde os lábios.
CAM ganha distância. Carlos, em cima de Lavínia, faz movimentos bruscos. Gemidos intensificam-se; Lavínia aperta o corpo do homem e BERRA de prazer.
FADE OUT
FADE IN
CENA 69 – EXT. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA – DIA:
RODRIGO (V.O): Muitas pessoas podem se perguntar se sonho é produto de processos psicológicos mundanos ou tem origens particulares que não estão ao alcance da ciência profana. Estaria no sonho o nosso passado e o nosso futuro? Apenas sintomas de nossas vivências?
CENA 70 – INT. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA / AUDITÓRIO – DIA:
PLANO GERAL – Rodrigo está no palco, traja um belo terno cinza e segura uma papelada com certo afinco, diante de muitas pessoas, todas sentadas. Logo atrás dele, um enorme painel revela imagens assustadoras com uma figura masculina sobre uma mulher dormindo.
RODRIGO: Ou a satisfação de desejos reprimidos e reações contidas? Tudo depende do que fazemos de nossas vidas. A nossa mente pode abrigar diferentes sonhos, dos mais belos, até os mais aterrorizantes. Do que temos medo? Do que fugimos? Que mal estamos causando?
CAM encontra Lavínia e Roger, sentados e atentos ao que é dito.
RODRIGO: A análise do sonho só torna-se complexa quando demoramos a entender que ela é o reflexo de tudo o quanto desejamos ou evitamos. É demoníaco porque damos brecha. Seja pela nossa atitude moral ou física. Os demônios que nos atormentam durante nossa hora de descanso, são os que alimentamos quase a vida inteira. (T) É isso. Obrigado.
Muitos APLAUSOS, público levanta-se; Roger acena, eufórico.
ROGER: Aquele lá é meu filho, meu filho!
Rodrigo sorri, emocionado, já vai fechando a apostila quando algo chama sua atenção.
POV DE RODRIGO - No rodapé da capa, a seguinte inscrição: “EU AINDA ESTOU AQUI”
FIM DO POV
No rosto de Rodrigo, pálido. Em ritmo frenético, seu olhar procura alguém, no meio da plateia. Até encontrar uma moça, de óculos escuros, cabelos ruivos e amarrados; Trajando roupas negras. Ela abaixa os óculos e revela ser Samanta.
Fecha em Rodrigo, sem acreditar. OUVIMOS o coração bater forte, até
FADE TO BLACK


FIM



2 comentários:

  1. Perfeito. Amei demais. Além de muito bem escrito é uma atmosfera incrível. Adorei a história! Vamos produzir pra ontem hehe

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    1. Muito obrigada, Marcos! Certeza que se o Rafael estivesse aqui ficaria muito feliz também. Fora 9 meses para conceber o filme. Quem sabe um dia a história saia do papel, hen kkkkkkkkk Volte sempre para acompanhar as novidades do catálogo!

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