0:00 min       RAÍZA 3ª TEMPORADA     SÉRIE
0:20:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 3


Série de
Cristina Ravela

Episódio 01 de 17
"Roda da Fortuna"



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PRIMEIRO ATO

FADE IN

Vários jornais são jogados numa mesa com as seguintes notícias em destaque:

Ônibus entra na contramão e provoca acidente na Ponte Rio-Niterói – Motorista usava remédios controlados”

Acidente com dois carros na Ponte Rio-Niterói, deixa 6 mortos, e um sobrevivente”

Jovem que sofreu acidente respira com ajuda de aparelhos”

ÂNCORA DE UM TELEJORNAL: A polícia está investigando o caso, mas há a suspeita de sequestro relâmpago.

FADE OUT

FADE IN

CENA 1 COFFEE BREAK – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]

Legenda: Três meses depois

Um jornal preenche a tela com a notícia: “Um jovem que sofreu, recentemente, um atentado numa estação de trem, era rival de Danilo Rodrigues e acusado pela morte de sua esposa”.

VALENTINA (O.S): Hmmm, você agora não larga mais esses jornais hen.

O jornal é retirado da nossa frente.

Valentina, com cabelos em corte diferente e mechas maiores, se senta, toda sem modos.
Marco, com algumas cicatrizes no rosto, dobra o jornal e põe sobre a mesa.

MARCO: Mais uma dessa tal de Lila Machado. Qualquer dia ela descobre o que Danilo fez ou deixou de fazer na última reencarnação.

VALENTINA: Ignore. Ela só tá fazendo o papel dela de fofoqueira do mundo dos milionários. Que polícia vai dar ouvidos ao que ela escreve? É só mais uma frustrada bancando a jornalista investigativa. Tenho dó.

MARCO: Que seja. (Marco se levanta) Tenho coisas mais importantes para tratar.

VALENTINA: Vai visitar a Rainha louca?

Marco contorna a mesa e se aproxima de Valentina.

MARCO: Raíza não é louca. Eu, no lugar dela, teria feito quase a mesma coisa. Com um pouco mais de estratégia, claro.

VALENTINA: Então eu posso esperar que vai rolar uma vingancinha contra seu amado irmão, não?

Marco vai até a poltrona onde está sua maleta.

MARCO: Sabe que, a Raíza estar internada, vai me ajudar muito, em certo ponto. Tenho que admitir que o Josué deu um tiro de misericórdia em meus planos.

VALENTINA: Em pensar que até então a garota tinha que se preocupar com você.

Em Marco, incomodado. Ele apanha sua maleta.

MARCO: (disfarça) Eu não saí de cena, querida. E nem desisti de meus planos. (ele toca os ombros de Valentina, por trás) Rafaela já foi eliminada (em Valentina, inquieta), e Dcr será o próximo, assim que acordar do coma e nos disser onde ele deixou as provas contra mim.

VALENTINA: Melhor você tomar cuidado, Marco. Depois de ser alvo de investigação pela morte de Ari não acho legal o Danilo aparecer morto. Ainda mais com essa jornalista de quinta colocando ele como herói.

MARCO: Eu já esclareci que nada tive a ver com aquele assassinato. E quanto à jornalista, vamos ignorá-la, não é? (Em Valentina, incomodada) Afinal, ela não espera que heróis vivam para sempre.

Ouvimos o telefone tocar.
Marco atende.

MARCO: Sim? (tempo / irônico) Ah, claro...Que alegria imensa saber disso. Obrigado.

Marco desliga, olha para Valentina, e faz um suspense básico.

MARCO: (irônico) Acho que o nosso querido Danilo está com as horas contadas...

Em Valentina, forçando o sorriso.

CORTA PARA

CENA 2 FACHADA – HOSPITAL CENTRAL [MANHÃ]

Corta para o interior / Sala de espera

Expectativa em Diva e Helena diante do médico.

HELENA: (desejando o pior) Ele vai ficar com alguma sequela, doutor? A gente pode vê-lo agora?

MÉDICO: Ainda teremos que fazer alguns exames...
Cipriano espreita, sendo observado por Cael.

CAM atravessa os corredores rapidamente, enfermeiros e pessoas comuns passam por ali, até que a CAM para pelas costas de uma enfermeira. A enfermeira se volta; É Valentina, preocupada em não ser vista.

Valentina olha Dcr pelo vidro, que também a vê.

CORTA PARA

CENA 3 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]

Valentina entra usando uma máscara de médico.

VALENTINA: Olá bonitão. Bem-vindo à vida...

Dcr, de cabeça raspada, a encara, estagnado.

VALENTINA: (retira a máscara) Você ainda deve se lembrar de mim, então serei breve: (Valentina se aproxima da cama) Onde estão as provas contra o Marco que você e a Rafaela roubaram?

Dcr continua encarando-a, com medo.

VALENTINA: O que é? Não vai responder? Tem 3 meses que você tá enfurnado nessa cama, mas você pode ficar muito mais. E então?

Dcr faz que vai dizer algo, tem dificuldade.

VALENTINA: Fala logo, imbecil! Eu não tenho o dia todo.

DCR: Eu/ Eu não/ Eu não sei...

VALENTINA: Não se faça de desentendido, garoto. Se tu não disser pra mim, vai dizer pro Marco, e eu te garanto que será bem mais doloroso.

Dcr se agita, tenta levar o braço até uma campainha dependurada.
Valentina puxa sua mão com força, sem paciência. Cara a cara.

VALENTINA: (raiva) Pra quem acabou de acordar do coma você tá bem agitadinho. Anda! Não faça joguinhos comigo, responde direito!

Ouvimos um barulho, Valentina olha para a porta, assustada, e põe a máscara no rosto.
A porta é aberta e um médico, uma enfermeira e Cael, este também usando uma máscara, adentram.

MÉDICO: Acredito que ele irá evoluir bem...

Valentina abaixa a cabeça, disfarça.

CAEL: (para Dcr) Danilo, que bom te ver bem.

Cael toca sua mão, e Dcr tenta retirar, com medo e meio ofegante. Cael se assusta. Dcr olha a todos, sem entender.

CAEL: Danilo, tá tudo bem? Tá sentindo alguma coisa?

DCR: Quem/ Quem é você? (choque nos demais / se agita) Quem são vocês? (p) Quem são vocês?

Em Cael e Valentina surpresos.

A tela se fecha num baque.


RODA DA FORTUNA


SEGUNDO ATO


FADE IN

CENA 4 UTI - HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]

Dcr conversa com Cael e o médico. Uma enfermeira troca o soro.

DCR: Três meses? Eu to aqui tem três meses?

CAEL: Eu tenho certeza de que com o tempo você irá se lembrar de tudo. Qual é a sua última lembrança?

Dcr pensa um pouco.

DCR: Eu lembro que eu estava...Eu estava numa boate, isso. Lembro de ter visto fogo, de um assalto. Eu...Eu fui atacado...É isso? Eu fui atacado, é por isso que eu to aqui?

MÉDICO: Você está tendo lapsos de memória. (para Cael) A família já me contou de várias situações pelas quais seu amigo passou. (para Dcr) Você sofreu um acidente de carro durante uma perseguição.

DCR: Perseguição? O que aconteceu, Cael?

CAEL: Isso é o que a polícia quer descobrir, mas terá que esperar sua completa recuperação para pegar seu depoimento, já que...(Dcr espera, ansioso) Você foi o único sobrevivente.

Em Dcr, angustiado.

DCR: Você não...(olha para a enfermeira / torna a encarar Cael) Você não tá dizendo que...Tinha mais gente comigo?...É a Ari? (tensão / tenta se levantar) Cadê a Ari? Eu quero ver a Ari, me deixa ver a Ari!

A enfermeira e o médico o deitam novamente.

MÉDICO: Calma, ela não estava com você, calma! (Dcr respira ofegante)

DCR: Eu conheço esse olhar. Vocês tão mentindo pra mim. Onde ela tá?

CAEL: Se ela estivesse com você eu não poderia mentir por muito tempo, Danilo. O acidente foi notícia em todos os jornais e canais de TV. A imprensa está em cima.

DCR: (atordoado) Me traz ela aqui e eu vou acreditar em você.

Cael, o médico e a enfermeira se encaram, cúmplices.

CORTA PARA

CENA 5 CORREDOR – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]

Cael e o médico se afastam, Helena os interpela.

HELENA: Doutor, como tá o meu sobrinho? Ele vai ficar bem?

MÉDICO: Ele apresentou um quadro de memória seletiva/

HELENA: (corta) Ele tá com amnésia, é isso?

Cael nota seu interesse.

MÉDICO: Memória seletiva é uma amnésia parcial, onde o paciente oculta tudo que lhe foi trágico após algum trauma e, é capaz de esquecer de pessoas que de certa forma, estavam envolvidas com o trauma em questão. Podemos dizer que, temporariamente, ele viverá do passado.

Helena faz que entende, e Cael observa sua satisfação.

CORTA PARA

CENA 6 HOSPITAL CENTRAL [EXT. / MANHÃ]

João Batista saindo de um táxi.
Cipriano sai do hospital, tranquilamente, e os dois se encaram.

CIPRIANO: (deboche) Ainda acho estranho ver você de pé. Está difícil acostumar.

JOÃO: Graças a sua grande ideia de induzir a Raíza, me colocando naqueles trilhos, não? Incrível como você sempre consegue ferrá-la.

CIPRIANO: Vem cá, por acaso a sua imaginação aflorou depois do susto que você levou? (João não gosta) Não é bom fazer acusações, ainda mais depois de responder a um processo.

JOÃO: Eu já deixei claro pra polícia que a gravação que Raíza fez com a minha suposta confissão foi apenas uma brincadeira. E a polícia não vai acreditar numa louca, não é?

CIPRIANO: Que sorte você tem, hen? Mas as investigações sobre a morte de Ari não terminaram, não. A polícia já descobriu que havia uma terceira pessoa no local do crime. Basta uma pista e (faz um som de faísca) eles chegam ao assassino.

JOÃO: E o que eu tenho a ver com isso? A polícia já desconsiderou o depoimento da Raíza. To limpo.

CIPRIANO: Da Raíza sim, mas uma pessoa mais lúcida...

JOÃO: Eu não sei quem seria tão louca quanto ela a ponto de me acusar. Eu jamais mataria uma pessoa.

E João dá as costas.

CIPRIANO: A gente jamais cometeria algum crime, até que somos postos à prova.

João olha para trás, sério. Cipriano vai embora.

CORTA PARA

CENA 7 RECEPÇÃO – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]

João Batista vem com aquela cara de enfezado, mas logo disfarça quando avista Cael.

CAEL: Eu tenho notado que você nunca visita sua prima. Na verdade, nem mesmo o Josué.

JOÃO: (indignado) Você anda seguindo a gente, é isso? Se eu fosse você eu manteria a distância. To te dando uma dica, aproveita que é de graça.

João vai saindo.

CAEL: Vocês a está mantendo em cárcere privado, com nome diferente para que ela não receba a visita dos amigos, não é?

João volta, todo armado.

JOÃO: Que amigos, Cael? Uma já morreu, o outro fica nesse chove não molha neste hospital, o pai dela...(vacila) Ela não tem amigos, Cael.

Os dois se encaram, sustentando um ar de melancolia.

CAEL: Pelo menos contou sobre o pai dela?

JOÃO: Meu tio não quis contar tudo pra não atrapalhar a recuperação dela.

Cael disfarça um riso debochado, de quem não acredita.

CAEL: E vocês querem que ela se recupere?

JOÃO: (raiva) E se for o caso? Eu fui a vítima, ok? Até a coitada da Joana tá respondendo a um processo por negligência, e tudo por causa de quem? Por causa da Raíza. Você devia estar do meu lado. Nós dois não temos parentes tão amigáveis quanto gostaríamos ter.

CAEL: Deve ser por isso que você se uniu a Marco para me derrubar, não? (João engole a seco) Não caí na história de que ele estava ameaçando sua família. Ele tinha alguma informação sua, e você teve medo dele compartilhar com mais alguém.

JOÃO: Você deve conhecê-lo melhor do que eu. Sabe o quanto ele consegue ser persuasivo. Deve ser de família.

Cael se aproxima, toca o terror.

CAEL: Sim, conheço bem. E você percebeu que quando algo o atrapalha ele faz de tudo para descartar, não é?

Em João, calado. Cael sai de cena.

CORTA PARA

CENA 8 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]

Ouvimos sons de máquina. Nenhum enfermeiro, nem médico. Dcr está dormindo, faz movimentos involuntários com os dedos, quando, de repente, acorda. Mantém os olhos acesos, e num efeito digital, CAM adentra em seus olhos.

CENA 9 FLASHBACK

IGREJA [INT. / FIM DE TARDE]

A igreja está toda decorada, há poucos convidados.
Dcr está no altar, ajeitando a gravata de nervoso. Joana observa, igualmente tensa.

DCR: Eu sei que é clichê a noiva se atrasar, mas você não acha melhor ligar pra Raíza ou pro seu Bruno?

JOÃO (O.S): Eu já tentei, (João Batista aparece ao lado de Dcr com aquele sorrisinho besta) mas já pensou se a Ari desistiu?

FIM DO FLASHBACK

Nesse momento, a cena continua, mas de um modo diferente.

JOÃO: Já pensou se ela não vem? E se ela não vier? (Dcr estranha) Ela não virá, e você sabe disso.

Dcr se desespera.

DCR: De novo, não... De novo, não!

Dcr corre por entre os convidados, que se assustam, mas dão passagem.

Assim que SAI da IGREJA,

Dcr para rapidamente. Notamos que o cenário é outro e que Dcr se vê diante de um edifício, onde, no mesmo instante, Ari despenca de uma das salas. Dcr corre, desesperado, atravessa a estrada.

DCR: Não, eu não vou deixar isso acontecer de novo. ARI!

Mas não dá tempo; Ari despenca sobre o carro e rola para o chão.
Transtornado, Dcr dá um grito de horror.

FIM DA CENA EXTERNA

FUSÃO PARA

CENA 10 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]

O cenário, até então, o local onde Ari estava, toma formas do quarto de hospital.
Uma enfermeira encara a CAM, estranhando o seu estado catatônico.
Dcr desperta.

ENFERMEIRA: Pensei que estivesse dormindo de olhos abertos.

Dcr, ainda meio absorto, encara a realidade.
A tela se fecha num baque.

TERCEIRO ATO

FADE IN

CENA 11 FACHADA - HDM CONSTRUTORA [TARDE]

Corta para um dos corredores

A secretária digita algo no computador.
Marco sai por uma porta, sorri sedutor para ela, que se constrange. Valentina surge no corredor, agitada.

VALENTINA: Marco, preciso falar contigo.

Marco espia a secretária, que só observa a cena.

MARCO: (para Valentina) Algum problema no café, querida?

Valentina saca a cara de curiosa da secretária.

VALENTINA: Algo que só você pode decidir o que fazer.

Marco faz que entende.

CORTA PARA

CENA 12 ESCRITÓRIO – HDM CONSTRUTORA [INT. / TARDE]

Marco adentra a sala e, Valentina logo atrás, fecha a porta.

MARCO: Você realmente não podia ter me esperado chegar no café?

VALENTINA: É que a coisa é grave.

Marco contorna a mesa e senta na cadeira.

VALENTINA: Danilo perdeu a memória.

Marco se surpreende.

MARCO: Não pode ser...(pensa) Apaga de uma vez.

VALENTINA (assustada): Não! Tá maluco?

MARCO: Não tenho paciência para memórias fracas. Se ele perdeu a memória, que perca a vida também.

Valentina quase soca a mesa de nervoso.

VALENTINA: Eu não sou assassina, Marco! E também ele é a única pessoa que pode saber onde estão as provas contra você.

Marco, mão apoiada no rosto, debocha enquanto ela fala.

VALENTINA: O que foi? Tá rindo do quê?

MARCO: De você. Você é tão engraçada... Acha mesmo que eu ia mandar matá-lo? (Em Valentina, sem graça) Preciso dele bem vivo, já que a outra traidora resolveu dar o ar da graça no inferno.

Valentina se inquieta, disfarça.

VALENTINA: E o que você pretende fazer?

MARCO: Esse trauma deve ser temporário. Essas coisas que acontecem quando se acorda do coma.

VALENTINA: (debochada) E você já esteve em coma, Marco?

MARCO: Nem todo mundo é igual a você, minha querida. Eu leio jornais.

VALENTINA: Ah, é, esqueci da sua tara por jornais ultimamente...

Marco ajeita uma papelada, enquanto encara Valentina com ar de dEboche.

MARCO: De qualquer maneira, é bom ficar atenta. Essas perdas de memória pós coma nem sempre são completas, e, muitas vezes, são retroativas. Ainda não sabemos do que, e de quem ele se lembra.

Em Valentina, chateada.

CORTA PARA

CENA 13 CORREDOR - HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]

CAM segue João Batista e Josué caminhando, enquanto conversam.

JOSUÉ: O médico disse alguma coisa sobre a perda de memória do Danilo? Ele não se lembra de nada mesmo?

JOÃO: Só da família e da Ari.

JOSUÉ (curioso): Pelo visto ele vai voltar com as investigações, não é? (sarcasmo) Aposto como ficará radiante em saber que Víctor Leme ganhará liberdade condicional.

JOÃO: Duvido que ele vá se importar...

JOSUÉ: Por quê? O que você sabe?

JOÃO: Danilo não se lembra que Ari morreu.

Josué para, surpreso. João faz o mesmo e os dois ficam diante da porta do quarto 406.

JOSUÉ: Ele acha que Ari tá viva? Em que época exatamente ele parou?

JOÃO (solta os ombros): Acho que muito antes de se casar com ela, ou...Talvez do momento em que os dois casariam. Não sei.

JOSUÉ: Quer dizer que ele esqueceu da Raíza...

JOÃO: Falando nisso, o Cael anda seguindo a gente. Acha mesmo conveniente não contar pra ninguém onde ela está?

JOSUÉ: (fingido) E deixar que contem sobre o pai dela?

Josué abre a porta. João vem atrás e adentra ao

QUARTO 406.

JOSUÉ: Acho que não vai fazer bem ela saber do pai agora...

Em clima de suspense, a cena nos revela Bruno dormindo, com um tubo de soro.

CORTA PARA

CENA 14 FACHADA - HOSPITAL CENTRAL [MANHÃ DO DIA SEGUINTE]

Corta para o interior do QUARTO 501

Dcr, dormindo, torna a fazer alguns movimentos com as mãos de forma estranha. Acorda subitamente e ofegante, mas logo respira aliviado. Ao olhar para os lados se assusta com a presença de uma moça negra, olhos verdes, sentada numa poltrona. Ela traja uma camisa branca de manga ¾, saia de couro preta e um sapato de bico fino.

DCR: (defensiva) Quem é você? O que quer aqui?

A moça se levanta, calmamente.

MOÇA: Parece que você teve um pesadelo. (dá a mão) Meu nome é Dalila. Doutora Dalila Moura.

Dcr cumprimenta, receoso.

DCR: Veio dizer que eu to de alta? Porque eu acho que eu já passei muito tempo aqui.

DALILA: (sorri) Não. Eu sou psicóloga do hospital. (hesita) Fui chamada para lhe ajudar a recuperar a memória, pois os médicos acreditam que o seu esquecimento é psicológico, não tem nada a ver com o acidente.

DCR: O que significa que logo logo irei recuperá-la sem ajuda de psicólogo. Não gosto de psicólogo, não me leve a mal. Não lido bem com isso.

DALILA: Quanto mais cedo você exercitar a memória, mais cedo você a recupera totalmente.

DCR: Não quero lembrar...Acho que eu to bem assim.

DALILA: Ok...Talvez então, você queira conversar sobre seus pesadelos...

DCR (assustado): Que pesadelos?

DALILA: Toda pessoa que acorda de um coma pode adquirir uma espécie de...Experiência, sabe?

DCR: (finge / incomodado) Não, não sei.

Dalila toca sua mão. Dcr só observa.

DALILA: Meu tio passou por isso. Ele despertou de um coma de seis meses e, foi algo...(esboça tristeza) ...Foi algo perturbador.

DCR: Ahn...Ele enlouqueceu?

DALILA: Você não ia acreditar...

DCR: Eu não acredito que perdi a série Foley Boys, mas enfim, perdi.

Dalila ri.

DALILA: (olha ao redor) Eu vou confiar a você uma coisa que meu tio, até o último dia de vida dele só revelou a mim. (p) Meu tio passou a ter visões.

Em Dcr, estupefato.

DALILA: (joga) Não é fácil lidar com um dom quando ninguém acredita em você, não é?

Dcr, abismado, olha curioso para a bela garota.

CORTA PARA

Uma rua qualquer, foco em uma lanchonete.

CENA 15 LANCHONETE [INT. / MANHÃ]

Um pequeno movimento, bem organizado, bonito, pessoas no balcão, outras sentadas.

HOMEM#1: Não acredito que você mandou essa, Lila? Ok que a história dele é fantástica, tem mil pessoas envolvidas, mas ele é só mais um milionário nas estatísticas. Surpresa seria se ele fosse pobre e pedissem resgate.

O cara, moreno, barba por fazer, está sentado. Ele traja uma camisa azul listrada, calça jeans, e sustenta óculos de aros pretos.

HOMEM#1: Essa tua mania de buscar realismo em suas histórias ainda te garante um processo, escuta. Pelo menos seu plano arriscado deu certo?

LILA (O.S): Você ainda acha que eu jogo pra perder, Roger? (CAM revela Dalila, a falsa doutora) Ele falou pouco, mas já dá pra garantir uma matéria pro jornal e pro novo livro.

ROGER: (balança a cabeça negativamente / ri) Você não presta.

Close no sorriso sacana de Lila.

CORTA PARA

CENA 16 COFFEE BREAK – ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]

Mãos masculinas brincam com um estojo preto, rodopiando por entre os dedos.
A porta é aberta e Valentina surge, curiosa.

VALENTINA: E aí?

Marco para de brincar com o estojo e a entrega.

VALENTINA: O que é? Presentinho pra mim?

Valentina abre e se surpreende ao ver uma seringa.

MARCO: Sabe aquela velha história de “recordar é viver”?

Fecha em Valentina, apreensiva.


QUARTO ATO


FADE IN

CENA 17 QUARTO 501 - HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]

O corte é feito diretamente nas pernas de Dcr sobre a cama. A mão usando luvas cirúrgicas brinca nos dedos de Dcr e vai passeando por toda a extensão. Até que, ao chegar na cintura, Dcr segura subitamente na mão misteriosa e abre os olhos.

DCR: (tenso) Você de novo.

A enfermeira abaixa a máscara cirúrgica e revela ser Valentina.

VALENTINA: (maliciosa) Senti saudades.

SONOPLASTIA: Suspense

CORTA PARA

CENA 18 TÉRREO - HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]

Cael adentra pela porta de vidro causando olhares nas enfermeiras. Cael segue até o balcão.

ATENDENTE: Ah senhor Bedlin, o doutor Carrilo já está a sua espera.

Cael sorri.

CORTA PARA

CENA 19 QUARTO 501 - HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]

A cena começa numa luta entre Dcr e Valentina.

Dcr segura no braço de Valentina onde está uma seringa e os dois fazem força contra.

VALENTINA: Não vai doer nada, garoto! É só uma injeçãozinha pra você voltar a se lembrar.

DCR: Eu decido se quero me lembrar ou não!

E Dcr dá uma pernada na barriga de Valentina fazendo-a ir para trás.
Dcr se levanta, cambaleia e derruba alguns objetos sobre o criado mudo. Valentina tenta lhe pegar pelas costas...

VALENTINA: Vem cá, eu ainda não terminei com você!

...E Valentina é surpreendida quando Dcr se volta e lhe acerta um tapa de esquerda. Valentina não cede fácil e pega Dcr pelo braço, o arremessa contra um frigobar fazendo o garoto bater com a cabeça.

Assim que Dcr cai no chão, ainda consciente...

O AMBIENTE SE TORNA SUJO E MAL ILUMINADO. O cenário é o mesmo de quando Dcr foi jogado num galpão no 2x20.

GALPÃO [INT. / NOITE]

Helena, encapuzada, acende o isqueiro deixando Ari nervosa.

ARI: O que vai fazer?

MARCO: Isso vai depender de você.

ARI (entrando em desespero): Por favor, Marco, você não é tão ruim assim...

DCR (O.S): Ele É ruim!

Todos olham para Dcr deitado no chão úmido, perto de caixas de papelão.
Dcr se levanta, Marco está tenso.
Rapidamente, Dcr joga uma caixa contra a carrasca e esta se distrai. Tempo suficiente para Dcr pegar Marco pelo colarinho e o arremessar contra as outras caixas.

Ari domina Helena, lhe acerta um soco bem dado derrubando a vilã.
Nisso, Dcr segura na mão da amada e os dois tentam fugir.

MARCO: PEGUEM ELES!

GALPÃO [EXT. / NOITE]

Ari e Dcr correm freneticamente.

DCR: CORRE! CORRE!

Ouve-se um TIRO.

Ari começa a se cansar e Dcr tenta segurá-la, mas os dois caem.

DCR: (abraçado a ela) Não, Ari, não faça isso de novo.

Dcr observa sua mão suja de sangue. Ari está ferida nas costas.

ARI: Eu vou ficar bem, eu vou ficar bem...

DCR: Não, não!

Dcr olha para Marco e seus capangas.

MARCO: Eu não queria ter feito isso. Você me obrigou.

Dcr acaricia o rosto de Ari, que o encara, já morta.

DCR: Ari, não...Eu preciso que você esteja aqui...

FUSÃO PARA

QUARTO 501 - HOSPITAL CENTRAL

Dcr VOLTA A SI, deitado no chão, vai abrindo os olhos.

DCR: Eu não quero te perder de novo, Ari...

E Dcr se vê diante de uma Valentina atordoada, atenta a sua última frase e com a seringa a postos, dando a entender que injetou no pescoço de Dcr.

VALENTINA: Você não esqueceu dela.

E Valentina se afasta, enquanto Dcr tenta se levantar, preocupado.

VALENTINA: Só dela que você se lembra...Só dela...

Valentina abre a porta do quarto, sai, mas não a fecha.
Fecha em Dcr, abatido.

FADE IN

CENA 20 HOSPITAL CENTRAL – FACHADA [NOITE]

Corta para o interior da CAFETERIA

Mão feminina mexe a colher numa xícara de café.
Valentina continua mexendo, absorta.

CAEL (O.S): Marco precisa contratar pessoas diferentes para servir de mensageiro (Valentina ignora / Cael se senta a sua frente). Mas faz o tipo dele ser cara de pau mesmo.

VALENTINA: Cael...Se você perdesse parcialmente a memória, de quem você acha que se lembraria?

CAEL: Como? Ficou impressionada com o que aconteceu com o Danilo?

VALENTINA: Me responda. De quem você acha que se lembraria?

Cael a observa com olhar de lamento, realmente preocupada. Ele segura um celular sobre a mesa onde há a foto de Raíza.

CAEL: Não sei...Talvez de alguém que eu amasse muito, alguém por quem me sentisse culpado por não ter feito nada para ajudar de verdade.

VALENTINA: E o que é amar pra você? Certamente é algo que você nunca fez por mim, não é?

Cael a olha, pensativo.

CAEL: Quando você sentir medo de perder alguém e perceber que sua vida só tem sentido ao lado dela... (pausa / em Valentina, quieta) Quem sabe você não descubra?

E Cael se levanta, indo embora.
Valentina mescla tristeza e raiva, e torna a mexer a colher na xícara.
Marco surge, curioso, e se senta.

MARCO: O que ele queria com você? Ele te viu no quarto do Danilo?

VALENTINA (ignora): Marco, alguma vez você teve medo de me perder?

Marco acha graça, sem entender.

MARCO: Que pergunta/

VALENTINA: Responda. Já teve medo de me perder?

MARCO: Ora, querida, você sempre está aqui, não?

VALENTINA: Entendi.

E ela sai, chateada.

Marco observa, sem nada entender.

CORTA PARA

CENA 21 QUARTO 501 – HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]

Diva está sentada na beirada da cama diante de Dcr. Helena observa, entojada.
O médico, uma enfermeira e Cael estão em pé como a esperarem alguma coisa.

DCR: Eu sonho com ela...Sonho que ela morreu nos meus braços. (olha para Cael) Falem a verdade. (sofrido) Ela não tá bem, não é?

DIVA: Filho...(se esforça) Eu...Eu realmente queria esperar que você recordasse...

HELENA: Fala logo, Diva! Que agonia.

Cael e o médico se entreolham.
Dcr já lacrimeja, esboça sofrimento antes da resposta.
Diva olha para o médico. O médico faz que sim.

DIVA (segurando nas mãos de Dcr): Olha, Danilo, no dia do seu casamento...

Ela continua a falar, mas não ouvimos.

====== TOCANDO: Late Goodbye – Poets Of The Fall ======

A CAM vai se afastando, enquanto Dcr começa a chorar, e é abraçado pela Diva.

Cael abaixa a cabeça, compadecido. A enfermeira chora, comovida. O médico permanece frio e, Helena, revira os olhos.

FUSÃO PARA

CENA 22 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / NOITE]

Uma foto é jogada ao chão, rasgada em três pedaços, cada uma contendo a imagem de Dcr, Raíza e Ari.
Ouvimos mais fotos sendo rasgadas e jogadas no chão.

Josué está diante de uma penteadeira desarrumada, com porta-retratos revirados. Sua imagem refletida no espelho é de uma pessoa esboçando vitória. Até que Josué pega uma foto de Bruno ao lado de Raíza, e fica olhando como a admirar.

De repente, rasga, dividindo a imagem.

JOSUÉ: Em breve...

Os pedaços caem...

CAM busca João Batista escorado no CORREDOR, desconfiado.

FUSÃO PARA

CENA 23 REDAÇÃO [INT. / MANHÃ]

Movimentação normal com pessoas trabalhando diante do computador, conversando, discutindo sobre as matérias.
Lila vem apressada até uma mesa e pega sua bolsa cinza tipo carteiro. Imediatamente, Lila vê um jornal sobre sua mesa e apanha, de olhos vidrados.

[POV de Lila]

O efeito borboleta na vida de um jovem milionário”.

Lila abre o jornal, afoita, e para na coluna “Lila Machado no Jet-set”.

LILA (lendo): “Após acordar do coma, Danilo Rodrigues, que sofreu um grave acidente na ponte Rio-Niterói está de volta à vida, mas apresentou um quadro de amnésia bastante curioso. Segundo o próprio paciente seus pesadelos são tão reais que ele tem a sensação de poder mudar o que acredita que já passou. É o nosso Ashton Kutcher da vida real, meninas?”.

Lila sorri, vibrante.

FUSÃO PARA

CENA 24 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]

Legenda: Dias depois

A música continua.
[Efeito câmera lenta)

Chove pouco. Ouvimos o sino tocar.

Há uma pequena movimentação. Dcr, trajando terno preto e capa protetora, segura uma rosa branca, enquanto caminha para perto de um túmulo. Cael e Diva seguem logo atrás com um guarda-chuva. Helena, de óculos escuros, chateada da vida, vem mais afastada, igualmente protegida por um guarda-chuva.

Dcr observa o túmulo. Todos os outros se afastam.
Dcr se põe de joelhos e deposita a rosa no jazigo, mantendo a mão sobre o mesmo. Ele olha atentamente para a lápide, fecha os olhos e derrama uma lágrima.

Ao longe, se esgueirando, está Lila Machado e seu parceiro, Roger, tirando fotos.

CORTA PARA

CENA 25 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / MANHÃ]

Em Josué juntando todas as fotos rasgadas e jogando num saco preto.

CORTA PARA

CENA 26 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]

Dcr se levanta, ergue a cabeça, de olhos fechados, e se deixa molhar pela chuva.

CENA 27 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / MANHÃ]

Josué pega o saco preto fechado e caminha até a porta. Para e olha para o quarto.
As paredes não têm mais quadros, cômodas vazias.
Josué olha como se tivesse completado uma missão, e sai de cena.

FUSÃO PARA

CENA 28 CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE [INT. / MANHÃ]

[Continua o efeito câmera lenta]

Há um extenso corredor, com paredes brancas e algumas portas.
Ouvimos o som irritante da ambulância ao longe e de uma tv ligada. Em seguida, ouvimos uma música sendo cantarolada de maneira maternal.

Nana neném, que a cuca vem pegar
Papai foi pra roça; Mamãe foi passear...“

CAM acompanha as pernas femininas que saem por uma porta. Ouvimos repetidas vezes a canção de ninar que vai aumentando na medida em que os passos se aproximam.
Assim que alcança a curva, uma mulher, de vestido floral, está sentada, ninando uma boneca. A mulher olha para a CAM e segura a boneca com afinco.

[Fim do efeito]
CORTA PARA

CENA 29 JARDIM - CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE [INT. / TARDE]

O CENÁRIO nos remete ao episódio 1x10, cheio de árvores num extenso jardim.

Uma garota loira está sentada num dos bancos, e assim que olha para a nossa direção, fixa o olhar, e se levanta rapidamente.
À medida que ela se aproxima, reconhecemos ser Érica, (a garota do episódio 1x11).

ÉRICA: (olhar perturbado) Mais um dia aqui. Eu não te disse que ninguém viria te buscar?

Lentamente, nos é revelado Raíza, abatida, de cabelos curtos, trajando uma blusa branca, meio larga.

ÉRICA (O.S): Você não acredita.

Super close em Raíza, receosa.

FADE TO BLACK

FIM

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