0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
0:45:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 07 de 14
"Apocalipse"



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 ATO DE ABERTURA

FADE IN

Fachada da Igreja Evangélica Mão Divina, iluminada / Noite

JOSUÉ (O.S): Ele é Deus e está abrindo suas asas sobre este templo. Não tem nada impossível para Ele porque Ele cumpre o impossível no meio de vós.

CENA 1 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Corta diretamente para o palco há certa distância, onde se encontra Josué, com a bíblia na não, todo bem alinhado e inflamado. Há dois homens engravatados de cada lado. Sônia por ali.

JOSUÉ: Preparai-vos! Porque Ele vai abater vosso adversário e exaltar a nossa igreja.

O público de pé, de olhos fechados e com as mãos erguidas até a altura do peito. Destaque para Dcr, Raíza, Lila e Roger num canto, que apenas estão de pé e de olhos bem abertos.

JOSUÉ (O.S): Humilhai-vos debaixo de Sua presença e assim Ele estará exaltando o Seu povo nesta noite!

Em outro ponto, João e Ana, bem entediados.

JOSUÉ: Agradeço a presença de todos e que todos possam ir na paz do Senhor.

POVO (em uníssono): AMÉM!

Josué coloca a bíblia sobre o púlpito e observa as pessoas se dispersando.

CORTA PARA

CENA 2 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]

Josué e Sônia saindo da igreja. Silêncio nos arredores.

SÔNIA: Quer ajuda para fechar a igreja, Josué?

JOSUÉ: Não, irmã, obrigado. Pode ir pra casa. Não vou demorar.

Sônia faz que sim e se afasta. Josué apanha do bolso do paletó um molho de chaves.

CAM se afasta e Josué passa a ser enquadrado no ponto de vista de alguém. O pastor se atrapalha e deixa o molho de chaves cair.

Câmera se aproxima rapidamente de Josué, enquanto ele se abaixa para pegar as chaves. Ele olha para CAM, tenta reagir, mas

RECEBE UM PORRETE NAS COSTAS

No GRITO de Josué, que cai desacordado no chão.

Uma pessoa, usando sobretudo e capuz negros, foge na escuridão. DESFOQUE para Josué, inconsciente na calçada.

CENA 3 BECO [INT. / NOITE]

A tal pessoa trajando roupas negras da cena anterior escora na parede, ofegante. Assim que levanta o capuz, revela ser Rafaela, que sorri, aliviada.

SMASH TO BLACK

FADE IN

CENA 4 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / MANHÃ]

Muita confusão, seguranças tentam impedir a entrada de jornalistas da concorrência. Muito ritmo.

SÉRIE DE PLANOS

  1. Imprensa tentando furar o bloqueio.

  2. Beatas revoltadas.

  3. Pessoas segurando cartazes com a inscrição: “Fora Nilo! Fora Raíza! Não precisamos de vocês como nossos heróis!”

  4. Outras pessoas carregam cartazes mais animadores: “Tamos Juntos, Nilo & Raíza! O cadafalso é para os inimigos!”

A atenção do povo muda para uma certa direção. Dcr e Raíza se aproximam, estarrecidos com a movimentação.

BEATA #1: Olha ela ali! (desdém) Vidente...Só pode ser possuída pelo demônio!

BEATA #2: Tá amarrado em nome de Jeová!

A imprensa vai pra cima dos heróis, deixando-os sem reação. Hans passa a frente dos colegas.

HANS: Danilo Rodrigues, o que tem a dizer sobre o atentado de ontem?

Dcr e Raíza, confusos.

HANS: É verdade que a Raíza previu o atentado e deixou que você executasse o serviço? 

RAÍZA: Do que você tá falando?

HANS: Ué! Não se fala em outra coisa nessa manhã; o pastor Josué acusa Danilo de tentar matá-lo ontem à noite.

CLOSE nos rostos de Dcr e Raíza, surpresos.

HANS (O.S / malicioso): Vocês têm um álibi?

Nos heróis, ainda chocados.

SMASH TO BLACK


FIM DO ATO DE ABERTURA


4x07

APOCALIPSE


PRIMEIRO ATO

FADE IN

CENA 5 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / MANHÃ]

Dcr espiando pela janela. Ele se volta, chateado.

DCR: Eles continuam lá embaixo. Mas que droga!

ROGER: Amigo, tá meio mundo querendo comer teu fígado e o rim da Raíza. Vocês se tornaram os vilões para uns e anti-heróis para outros.

RAÍZA: Eu não duvido que o próprio Josué tenha mandado alguém dar um golpe nele só pra acusar o Dcr. Estão todos de conluio.

LILA: E isso tudo começou depois da tentativa de assassinato contra o presidente. O que significa que/

DCR: Isso tá perto de acontecer de novo. O Cipriano só precisava acabar com a nossa reputação, nos tirar da reta, pra cumprir seu plano.

ROGER: Não, Nilo! Ainda não saímos do combate. Temos que dar a volta por cima.

LILA (instigante / pra Raíza): Você não previu nada que poderia/

RAÍZA (por cima): Lila, eu não prevejo a hora que eu quero, se fosse assim meu pai não teria morrido.

Clima.

LILA: Foi mal, mas é que...Em pensar que a teoria da Rafaela tava certa há anos.

RAÍZA: E você abriu mão de uma grande história porque queria um herói mais dentro da realidade. É...Taí seus dois heróis sendo massacrados pela mídia.

ROGER: Ok, ok! É a criadora e as criaturas tendo uma “DR” no meio de uma guerra? Temos que pensar como fazer para Josué retirar a queixa.

RAÍZA: Ou pensar num álibi...

Todos se entreolham até encarar Dcr, tenso.

LILA: Você não tava em casa ontem com a Raíza?

DCR: A polícia não aceitaria a Raíza como álibi, mas o presidente sim...

ROGER: O presidente? Mas o quê...

DCR: Ele esteve lá em casa pra dizer que nos apoia.

LILA: Não acredito...

RAÍZA: Só que ele não pode ser o nosso álibi; a visita dele não é de domínio público.

ROGER: E agora?

Na troca intensa de olhares.

CENA 6 CASA DO PASTOR EVERTON - SALA [INT. / MANHÃ]

Josué (com uma roupa comum, camisa branca de manga comprida e calça jeans), acaba de sair de um corredor e vê Sam por ali, receosa. 

SAM: Ah, bom dia, seu pastor. A Sônia foi à padaria, mas disse que eu podia entrar.

JOSUÉ: Claro, tudo bem. A casa é dela. Algum problema na igreja?

SAM: Não, ahn...Eu vim saber como o senhor está. Soube que foi atacado ontem à noite.

JOSUÉ (por cima): Pelo Danilo. Esse rapaz tá levando essa vingança pra um caminho sem volta.

SAM: É por isso que eu vim. O senhor o conhece há tanto tempo. Sabe tudo que ele já sofreu e por que sofreu. Tem certeza de que foi ele quem te atacou?

Josué a olha, admirado, a analisa de baixo a cima.

JOSUÉ: Você acha que eu levantaria falso testemunho?

SAM: Não, é que/

JOSUÉ: Acha que eu propago a bíblia para enganar o povo?

SAM: Eu não disse isso! Mas pensa: o senhor sabe que fez muita gente sofrer, mas teve uma segunda chance. Então na primeira hipótese de que o Danilo te atacou, o senhor o acusa, sabendo que ele pode ir pro cadafalso?

JOSUÉ: Escuta, menina, não sou eu quem determina as leis. Eu não posso mentir dizendo que me enganei se eu vi o Danilo. Sinto muito.

Josué dá as costas para a cozinha, mas Sam segura em seu braço.

SAM: Todo mundo erra, Pastor! O senhor já matou a esposa grávida dele, agora vai matá-lo também?

Josué se volta, semblante irritado, mas tenta ser paciente.

JOSUÉ: Eu já disse que não determino as leis, e não gosto que me lembrem do passado.

SAM: O senhor pode perdoá-lo e livrá-lo da morte, como a Sônia fez comigo.

JOSUÉ: Exatamente! Se você não tivesse atacado a igreja, hoje eu poderia perdoar o Danilo, mas a igreja ser complacente duas vezes? Isso a faria perder a credibilidade e a violência imperaria.

SAM (firme): A violência já impera! Se o cadafalso existisse há dois anos, o senhor não estaria aqui pra mentir em nome de Deus. Porque o Danilo não te atacou!

Clímax.

JOSUÉ: O que disse?

SAM: Se o senhor tivesse mudado, iria relevar a atitude de um cara que sofreu tanto na sua mão. (provoca / aumenta o tom de voz) O senhor é um psicopata, tem raiva porque o Danilo foi homem o suficiente pra te encarar. Se pudesse, o mataria com as próprias mãos, né? Fala a verdade! É ou não é?

Josué tem um ataque de fúria e agarra Sam pelo pescoço, assustando a garota.

JOSUÉ: Sim! Tu quer saber a verdade? Me daria imenso prazer vê-lo ser enforcado, (a sacode) sabia? Você acha que o Danilo tentaria me matar? Ele não tem capacidade pra isso porque tem um tal de brio. Chega a ser ofensivo ele ser comparado ao Coringa.

E Josué a larga bruscamente, fazendo-a bater de contra a parede. Um celular CAI da roupa de Sam, Josué desconfia e se agacha para pegar. Sam tenta impedir, mas é tarde. Pelo P.V. de Josué o celular está com o gravador ligado. 

VOLTA EM JOSUÉ

De olhar medonho.

JOSUÉ: Você tem sorte de não estarmos no alto de um prédio.

E Josué JOGA o celular no chão e PISA até quebrá-lo. Sam observa, tremendo de medo.
Josué apanha o celular e de surpresa acerta um TAPA na garota.

JOSUÉ: Valeu pela tentativa.

Josué esconde o celular quebrado no bolso da calça de Sam.

A porta é aberta, Sônia adentra com um saco de pães.

SÔNIA: Ainda aí, Sam? A igreja espera pelo seu serviço.

Sam encara Josué, este esboçando falsa serenidade.

CENA 7 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Clima agitado. Lila diante do computador, Raíza entregando uma papelada para Dcr, Emerson conferindo umas contas com Roger. Quando Emerson se despede dele, nem consegue sair; Policiais ADENTRAM causando espanto.

POLICIAL #1: Por favor, Danilo Rodrigues!

Dcr para o que está fazendo.

DCR: Sou eu.

POLICIAL #1: Eu sei. Você está preso sob a acusação de tentativa de homicídio contra o pastor Josué.

ZOOM-IN no rosto de Dcr até que

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 8 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / MANHÃ]

ZOOM-OUT de seu rosto. Dcr está entre policiais que o cercam para evitar o assédio. Raíza, Lila, Roger e Emerson logo atrás. MUITAS VAIAS se misturam entre outros GRITOS.

POVO: RAÍZA, FALSA VIDENTE! – FORA NILO! – TEM QUE PAGAR PELO O QUE FEZ! – NILO, NÓS TE APOIAMOS! – EU, NO SEU LUGAR, TERIA ENFIADO A FACA NAQUELE PASTOR DE MERDA!

Flashes de fotos sendo tiradas de Dcr.

Policiais abrem passagem e empurram Dcr até ele entrar num carro de polícia. Povo atrás, ensandecido.

A TELA SE FECHA


FIM DO PRIMEIRO ATO


SEGUNDO ATO

FADE IN

= = TOCANDO: Gimme Your Love – Morcheeba = =

Vista aérea da cidade, vários takes dos prédios, trânsito movimentado.

CENA 9 APTº DE RAFAELA – SALA [INT. / MANHÃ]

Rafaela dança sensualmente diante do aparelho de som. Solta os braços, ri e rodopia. Tony espia, confuso.

RAFAELA: E aí, Tony? O que achou da minha performance?

TONY: Qual delas? A tua dança ou ter dado um susto no pastor?

Rafaela DESLIGA o som e se apoia na rack.

RAFAELA: Perfeito, né? Parece que eu tava adivinhando que ele ia acusar o Danilo. (pensativa) A morte dele será uma comoção e tanto. Melhor eu preparar o meu discurso.

TONY: É isso mesmo que tu quer, princesa? Esse Nilo não era o teu amigo, quase de infância?

Rafaela fecha a cara.

RAFAELA: Ele me traiu. Qual é, hen? Tá batendo um sentimento?

Tony coça atrás da orelha, desvia o olhar.

TONY: Ah, sei lá, né? É quase como matarem o Clark Kent, o Batman, o Chuck Norris, essas “porra” toda.

RAFAELA: Chuck Norris? Você tá me zoando, Tony? (ela mira no celular dele) Deixa eu vê isso aqui.

Tony resiste, mas ela pega, dá uma olhada e se mostra chateada.

RAFAELA: Eu não acredito! Você também é fã do Nilo?

TONY: Ah, só na parte em que ele detona os inimigos dele.

Rafaela esmurra o peito de Tony com o celular.

RAFAELA: Os inimigos dele me inclui, tá lembrado? É bom que você se lembre que o Coringa é sempre a melhor carta do baralho. Me descartar é dar um tiro no próprio pé.

TONY (alarmado): Que isso...? Tô contigo e não abro. Até porque você me deve uma grana alta, né?

Rafaela dá as costas, coloca as mãos na rack, fazendo charme.

RAFAELA: Pensei que só eu bastasse.

Tony a pega pela cintura, beija seu pescoço.

TONY: Tu tá sabendo que eu não largo de ti mesmo com um “faz-me rir” no bolso, né? 

Rafaela faz que sim, esboçando prazer pelos beijos.

TONY: Escuta, será que vão lançar um livro sobre a Raíza? 

Rafaela fecha a cara e lhe acerta uma cotovelada no estômago. Tony urra de dor, para depois rir.

CENA 10 COFFEE BREAK [INT. / MANHÃ]

Local cheio, garçonetes servindo. Marco acaba de descer a escada, se preparando para sair. Valentina, debruçada no balcão, com um tablet.

VALENTINA: Marco! Marco! Espera!

MARCO: Qual é a fofoca do dia, my dear?

Valentina sai de trás do balcão e estende o tablet para ele.

VALENTINA: Olhe! O Danilo foi preso! Estão acusando ele de tentar matar o Josué.

Marco dá uma olhada, se chateia.

MARCO: E ainda chamam Raíza de psicopata por querer outro parente morto. 

VALENTINA: Pior que se não for da vontade do Cipriano, nenhum advogado livra o Danilo do cadafalso. É um crime contra a igreja!

Marco olha ao léu, pensativo.

MARCO: Cipriano é o próprio advogado.

Em Valentina, sem esperanças.

CENA 11 DELEGACIA - CELA [INT. / MANHÃ]

No CORREDOR, o carcereiro faz a ronda. CAM desliza para uma das CELAS onde estão seis detentos, incluindo Dcr. Alguns presos cochicham entre eles e Dcr se agarra nas grades, alheio a tudo. Destaque para um detento sentado num canto, só observando.

DETENTO #1: Mas olha se não é o herói Nilo.

DETENTO #2: Tentou matar o pastor, hen. Tu tem o meu respeito, camarada!

Risos.

DETENTO #1: Diz aí, não é tu que retrocede o tempo? Por que não volta e mata logo aquele miserável? (para os outros) Se vai pro cadafalso melhor ir com a alma lavada, né não?

Risos.

Dcr finge que não é com ele.

DETENTO #1: Ô irmão! (os outros riem / ele cutuca Dcr) Eu to falando contigo.

Dcr se volta, firme, para encará-lo.

DCR: Eu não sou herói, não retrocedo o tempo e nem sou assassino.

Os detentos ficam sérios e o detento #1 põe a mão no peito, tocado pelo o que ouviu, até que cai na gargalhada.

DETENTO #1: Igual a todos nós, irmão!

Mais risos.

VOZ MASCULINA: Ele tá vindo...

Todos olham para o homem que observava a cena, sentado num canto.

DETENTO #3: Ele tá vindo para expulsar o inimigo da terra...

DETENTO #2: Ih, tá delirando de novo. Achando que é o Messias.

O detento #3 se levanta rapidamente e avança em Dcr.

DETENTO #3: ELE TÁ VINDO PARA EXPULSAR O INIMIGO DA TERRA!

Mas os outros o contém.

DETENTO #1: Ninguém tá vindo, não, falso profeta.

Risadas.

DETENTO #3: Quando você menos esperar você morre! MORRE!

Em Dcr, assustado.

CENA 12 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / MANHÃ]

Sam limpa o portão, atenta e nitidamente trêmula. Uma BUZINA soa, Sam espia. 

Cael está ao volante de seu carro e Sam, cautelosa, se aproxima.

CAEL: A Sônia tá por aí? Te liguei e só dá caixa-postal.

SAM (nervosa): Esqueça a gravação; o santo pastor quebrou o celular e me agrediu.

CAEL: O quê? Então/

Sam apoia as mãos na janela do carro.

SAM: Ele não foi atacado pelo Danilo. Quer apostar quanto que o governo tá metido nisso?

CAEL: Não temos nenhuma prova, Sam! E você já se arriscou muito. Precisamos pensar em alguma coisa.

VOZ FEMININA: Samantha?

CÂMERA SUBJETIVA mostra Sam se afastando do carro, sobressaltada, sem saber o que dizer.

Sônia vem se aproximando, desconfiada.

SÔNIA: Algum problema aqui?

Cael abre a porta do carro e desce, com sorriso sedutor.

CAEL: Eu tava justamente perguntando a ela sobre você. Fiquei preocupado.

Cael chega bem perto de Sônia, faz que vai beijá-la na boca, mas ela hesita.

SÔNIA: Felizmente não aconteceu nada comigo. Mas agradeço a preocupação. O pastor está mais aliviado com a prisão do bandido.

SAM: Bandido?

CAEL: Sam...

SAM: Não, peraí! O cara salvou sua vida. Se ele atacou ou não ele não seria menos bandido do que o pastor.

SÔNIA (indignada): Mas como se atreve?

SAM: Por que pra você é mais fácil aceitar o Josué do que o Danilo? Porque o Danilo nunca sujou as mãos?

SÔNIA: Não sou obrigada a ouvir asneiras.

Sônia vai entrando na igreja, Cael atrás.

SAM: Pense bem em quem a senhora defende hoje pra não se arrepender amanhã!

Na cara de raiva de Sam.

CENA 13 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]

Sônia joga a bolsa com força na cadeira.

SÔNIA: Essa garota me tira do sério!

Cael toca em seus ombros, por trás. Sônia se mostra sem graça.

CAEL: Sônia, eu sei muito bem o porquê de você defender o Josué, mas isso não justifica essa sua animosidade com o Danilo. 

Sônia se volta, firme.

SÔNIA: Você não viu? O pastor acusa esse cara/

CAEL: Não to falando disso e você sabe bem. (Em Sônia, relutante) O pastor cometeu vários crimes...(faz a dúvida) Se arrependeu, ok, e você também, do que fez no passado. Mas e o Danilo? Qual foi o crime dele? Não aceitar que passou tanto tempo em busca de justiça pra agora vê-lo exaltado pelo povo?

SÔNIA: Você tá do lado dele, né?

Cael toca seu rosto com as duas mãos, deixando-a corada.

CAEL: Não se trata de estar do lado dele ou não. Se trata de justiça. Você acha que ele mataria o pastor agora, quando ele poderia ter feito isso há dois anos, sem correr o risco de ir pro cadafalso?

Sônia abaixa a cabeça, pensa um pouco, hesitante.

SÔNIA: Eu nunca gostei dele. Ainda mais agora sabendo que ele anda com aquela vidente das trevas. Que tipo de pessoa deixa o pai morrer?

CAEL: Que tipo de pessoa mata o próprio irmão?

Sônia se cala, constrangida.

CAEL: Parece que a questão aqui não é defender o pastor; é não apoiar esses heróis. Quando você tiver um motivo pra isso, sabe onde me procurar.

E Cael dá as costas, Sônia tenta dizer algo, mas desiste.

CENA 14 RESTAURANTE [INT. / MANHÃ]

PLANO GERAL

Ambiente requintado, mesas redondas com toalhas brancas e talheres finos sobre elas. Pessoas bem vestidas almoçando. Um garçom carrega um balde com champagne e atravessa a nossa frente. Logo encontramos Cipriano, sentado a uma das mesas, tomando água numa taça.

Aimée surge num lindo vestido de cetim azul, meio tensa.

AIMÉE: Cipriano?

Cipriano, prontamente, se levanta.

CIPRIANO: Minha querida!

E, cavalheiro, puxa a cadeira para a noiva se sentar.

AIMÉE: Obrigada.

Cipriano faz um sinal e um garçom se aproxima.

CIPRIANO: Por favor, o melhor champagne da casa.

O garçom faz que sim e se afasta. O governador se senta diante de uma Aimée temerosa.

AIMÉE: Estamos comemorando alguma coisa?

CIPRIANO: Todo dia é dia de comemorar ao seu lado, minha amada. Mas, de fato, hoje é muito mais especial.

E Cipriano coloca a mão por dentro do sobretudo e retira um porta jóia médio e preto. Depois desliza a caixa pela mesa para Aimée.

AIMEÉ: O que é isso?

CIPRIANO: Uma forma de me redimir.

Aimeé abre a caixa e se depara com

UM COLAR DE BRILHANTES.

CIPRIANO (cont.): Creio que nenhuma joia poderia cobrir o mal que fiz e temo pelo seu desprezo.

AIMEÉ: Do que está falando, Cipriano?

Cipriano toca suas mãos, falsamente carinhoso.

CIPRIANO: Do que fui capaz de fazer por ciúmes. Vou entender se você abandonar a mesa depois do que eu disser.

AIMEÉ: Tá me deixando nervosa.

CIPRIANO: Eu mandei matar Danilo Rodrigues. 

Em Aimeé, espantada.

AIMEÉ: Você? (T) Por minha causa, mas/

CIPRIANO (por cima): Admito que ele é um rival à minha altura. Não tem o meu cargo, mas é um homem encantador, justiceiro e ousado. Às vezes sou um pouco frio com você, não é, minha querida? (Aimeé, sem reação) Mas quero reparar o meu erro.

AIMEÉ: Vai livrá-lo da punição?

CIPRIANO: Isso que está me consumindo, porque matá-lo sob as minhas próprias leis me deixaria falsamente aliviado por não fazê-lo de outra forma, mas...Não puni-lo poderia provocar uma revolta entre o povo. 

Aimeé acaricia suas mãos, temerosa.

AIMEÉ: Pretende levá-lo ao cadafalso mesmo?

CIPRIANO: Quem aceitou a pena de morte foi o povo, Aimeé. Eu até poderia absolver o Danilo, mas eu sofreria represálias. Só conseguiria contrariar a lei e correr o risco de ser massacrado pelas igrejas, se eu estiver ao lado de minha esposa...

Aimeé faz que não entende. Cipriano aperta suas mãos, fervoroso, depois a olha sedutoramente.

AIMEÉ: Esposa?

CIPRIANO: Será que eu teria a honra de torná-la minha esposa antes do natal?

AIMEÉ (estremece um sorriso): Você me pegou de surpresa, eu/

CIPRIANO: Entendo, mas...Me sentirei mais seguro ao lado de uma esposa ao pronunciar a liberdade de Danilo.

O garçom chega com o champagne e dispõe duas taças sobre a mesa.

GARÇOM: Posso servir, senhor?

Cipriano encara Aimeé.

CIPRIANO: Eu acho que sim.

Enquanto o garçom serve a bebida, Aimeé se mostra pressionada.

CENA 15 DELEGACIA – CELAS [INT. / TARDE]

Dcr agachado, pensativo; os outros de conversa fiada, enquanto o detento #3 não tira o olho de Dcr. Este percebe, tenta desviar o olhar. BARULHO na grade.

O carcereiro está acompanhado de Marco.

CARCEREIRO: Dez minutos.

Ele SAI. Dcr se aproxima rapidamente, afoito.

DCR: Marco! E aí? Ninguém me fala nada. Esse carcereiro me olha torto toda vez que me vê.

MARCO: Não deve te achar bonito (Dcr faz cara de tédio). Já fez a oração do dia? Vai precisar.

DCR: Já voltou às boas com a Raíza? (Marco disfarça) É esperar muito que ela te conte algo que foi motivo de tanta briga, né?

MARCO: Você é mesmo um caso a ser estudado, hen. Está prestes a morrer e ainda se preocupa com a amiga heroína? 

DCR: Não queria deixá-la sozinha, Marco. Sinto que devo isso ao seu Bruno. Você sabe que ela não tem um histórico muito bom, né?

MARCO (sarcástico): Acha que ela cortará os pulsos?

DCR: To falando sério, Marco! (Marco força um sorriso, sem graça) Depois de mim, o Josué vai querer dizimá-la, como fez com o pai dela. Você a perseguiu tanto, não dê as costas agora.

MARCO: Eu só me afastei, meu querido. Não abandonei o jogo. Mas eu vim mesmo por conta de outro assunto: Emerson Martins. Por que mesmo você o aceitou no grupo?

DCR: Porque o pastor matou a irmã dele e achei que seria bom ter alguém como ele a nosso favor.

MARCO (murmura): E se eu te disser que ele mentiu? 

Dcr faz que não entende.

MARCO: E sendo assim, qual a razão dele odiar tanto o pastor?

DCR: Peraí! Isso é sério?

MARCO: Sério e preocupante, meu querido. A Valentina foi atrás do endereço da Vicky Amaral e/

DCR: Valentina? Eu acho que perdi alguma coisa.

MARCO: Ela já sabe de tudo e está ajudando. E eu confio mais nela do que nesse Emerson. Presta bem atenção: se esse sujeito inventou essa história para te comover, não deve ser para ficar perto do ídolo. 

DCR (murmura): Você acha que/

MARCO: Um herói não costuma ter só um inimigo.

Em Dcr, consternado.

CENA 16 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]

Em mãos masculinas manuseando contas de banco. É Emerson, nitidamente chateado.

EMERSON: Inaceitável! Inaceitável! O cara mata e é recebido pela igreja; o Nilo não faz nada e vai para o cadafalso.

ROGER: Calma, irmão! Ahn, foi mal, mas é que um minuto de conversa com aquele Josué e eu já me sinto num clima religioso.

EMERSON: Será que não havia nenhuma câmera na rua, sei lá, um desses cinegrafistas amadores?

Raíza aparece por trás de Roger, sorrateira.

RAÍZA: Câmera alguma funciona quando queremos, não é? 

EMERSON: Raíza...Não tive a oportunidade de perguntar como você está. Só se fala da vidente Raíza na cidade.

RAÍZA: As pessoas devem ter se cansado de falar do Dcr; precisam de uma nova distração.

Roger abraça Raíza, descontraído.

ROGER: Aqui é assim, Emerson. Tentam acabar com a nossa reputação, mas a gente sempre se mantém firme. (para Raíza) Não é, amiga?

Emerson e Raíza trocam olhares meio sinuosos.
Alexandre chega, agitado.

ALEXANDRE: Emerson, você ainda está aí? Preciso que pague essas contas ainda hoje.

EMERSON: Ah, sim, eu já estava de saída.

ALEXANDRE: E vê se desta vez você volta rápido. Já não basta chegar atrasado quase todos os dias, né?

EMERSON: Me desculpe, senhor. Mas tem sido difícil encontrar o remédio da minha mãe em alguma farmácia popular. Mesmo assim/

Roger segura a nuca de Emerson, comovido.

ROGER: Ah, sinto muito. (para Alexandre) Boss, releve. Ele tá preocupado com a mãezinha dele, né? (para Emerson) Da próxima você me chama, tá? Meu nome abre porta até de cemitério.

Todos riem.

ALEXANDRE: Deixa de bobagem e voltem a trabalhar. 

Roger se afasta, rindo. Raíza observa Emerson saindo pela porta principal.

CORTA PARA

CENA 17 REDAÇÃO CARIOCA NEWS – CORREDORES [INT. / TARDE]

Algumas pessoas transitam, o elevador fechado emite um SOM. Portas se abrem e Emerson SAI de lá, apressado. Logo atrás, na ESCADARIA, Raíza está atenta nele.

CENA 18 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / TARDE]

Raíza avança sobre a calçada e vê Emerson entrando num táxi na ESQUINA. Mal se prepara para ir atrás, quando/

VOZ MASCULINA: Raíza!

Raíza se volta e dá de cara com Marco, de olhar saudoso.

RAÍZA: Marco! (olha para trás e não vê mais o Emerson) O que veio fazer aqui?

MARCO (sonso): Eu estava só passando. E você? Adivinhou que eu viria e veio correndo?

RAÍZA (aborrecida): Você me atrapalhou, sabia?

MARCO: Desculpe, eu só vim compartilhar uma notícia. Estive com o Danilo.

RAÍZA: E como é que ele tá?

MARCO: Preso.

Em Raíza, séria, cara de besta.

RAÍZA: É sério isso? Tirou o dia pra me aborrecer?

Marco rindo.

MARCO: Desculpe. É que como não somos mais noivos pensei em voltar a implicar contigo. 

Raíza passa a mão no rosto, irritada.

RAÍZA: Escuta aqui/

MARCO: Ok, ok. Já temos um herói preso, não precisamos da parceira do crime enfartar (Raíza bufa). Acontece que chegou uma informação de que o Emerson é uma farsa.

RAÍZA (desconfiada): Uma farsa? Desenvolve.

MARCO: Ele não seria irmão da tal Vicky Amaral e, portanto, não há um motivo pra ele odiar Josué. Até porque, cara de fanático ele não tem.

RAÍZA (pensativa): Isso é preocupante. O cara mal chega à cidade, expôs o Dcr cada vez mais e agora ele consegue emprego na redação. Qual seria o próximo passo?

MARCO: Será que ele já não deu esse passo?

Raíza pensa rápido. CLOSE em seu rosto, surpreso.

CENA 19 PALÁCIO GUANABARA – GABINETE [INT. / TARDE]

Cipriano acaba de entrar ajeitando seu sobretudo. Walter vem atrás.

CIPRIANO: Essa vida que eu levo um dia acaba me matando.

Cipriano se volta e encara Walter por instantes.

CIPRIANO: De estresse, claro.

Ambos riem.
Cipriano se senta e encosta-se à poltrona.

WALTER: E a senhorita Aimeé?

CIPRIANO: Acredito que não vamos precisar nos preocupar com ela. Conseguiu arrumar tudo para o grande dia?

WALTER: Do jeito que me pediu. O cadafalso será erguido em outro lugar.

CIPRIANO: Ótimo! Não queremos facilitar a vida de nenhum herói, não é mesmo?

Em Cipriano, sorrindo.

FADE TO BLACK

FIM DO SEGUNDO ATO


TERCEIRO ATO

FADE IN

CENA 20 COFFEE BREAK [INT. / TARDE]

PLANO GERAL

Pouco movimento. Adiante, Aimeé e Valentina, conversam à mesa.

AIMEÉ: Eu ainda não dei uma resposta. Ele quer se casar antes do dia da punição.

VALENTINA: Isso tá me cheirando a golpe.

Aimeé segura um copo contendo suco de laranja, dá um gole rápido.

AIMEÉ: Você acha que ele mentiu? Que ele não queria matar o Nilo por minha causa?

VALENTINA: Você acha que tá com essa corda toda, garota? (Aimeé se chateia) Você é bonitinha, mas o governador deve tá de olho mesmo é no cargo do seu pai.

AIMEÉ: Mas ele não tá na linha sucessória pra presidente.

VALENTINA: Meu amor, até ontem ele era só um vice-diretor de um colégio qualquer. Olha onde ele tá agora.

Aimeé dá de ombros, na dúvida. Valentina vê algo fora da tela.

VALENTINA: Ah, eles chegaram.

Ana, João e Sam se aproximam, afoitos.

JOÃO: Olá, olá! Não posso demorar muito.

Os três se sentam.

VALENTINA: Bom, a Aimeé tava me contando que acredita no pedido de casamento sincero do noivo, pode?

JOÃO: Porque é besta (espanto geral). Se fosse mais esperta já teria percebido que o seu noivinho tentou matar o seu pai, mas aí o Danilo bancou o herói e o salvou. Agora adivinha: Danilo é inimigo do governador porque impediu o seu golpe, entendeu?

AIMEÉ: Como você é grosso!

ANA: João, ela é a filha do presidente!

JOÃO: Podia ser Jesus encarnado, ué!

VALENTINA: Tá ok, crianças! O negócio é o seguinte: se esse Cipriano vai cumprir ou não o acordo a Aimeé precisa dar uma resposta.

ANA (preocupada): Só eu acho que esse cara vai matar o meu primo de qualquer maneira? Se não for pelas mãos dele será pelas mãos do povo, porque o Josué tratou de arruinar a reputação dele. 

AIMEÉ: Nesse caso, só o pastor poderia livrá-lo da morte.

SAM: Esqueça! Josué me agrediu quando eu tentei arrancar uma confissão dele. Ele não vai perdoar o Danilo e terá o apoio da população.

VALENTINA: Isso porque o Danilo é um cara que divide opiniões e apoia a Raíza, tida como a vidente de araque. Ou seja, nem a Raíza comoveria o tio pastor e a maioria do povo. 

ANA: Nem mesmo o próprio filho.

CAM dá um CLOSE rápido em João, pensativo.

VALENTINA: Acho que é melhor usar o método “duro de matar” como você quase fez com a Sam, João. A sua mira é boa mesmo?

João desperta de seus pensamentos e meneia a cabeça, concordando.

CENA 21 DELEGACIA – CELA [INT. / TARDE]

O carcereiro conduzindo Raíza pelo corredor. Zueira entre os presos.

DETENTOS: Aê, a vidente veio! – Adivinha o que eu to pensando (RISOS) – Eu vou conseguir fugir? – Lê a minha mão?

CARCEREIRO: Vocês estão querendo levar um sacode?

Os detentos riem. O carcereiro SAI.

Dcr se aproxima da grade, ansioso.

DCR: Raíza! Não precisava ter vindo. Não queria te expor.

Raíza, hesitante, toca as mãos do amigo, na grade.

RAÍZA: E como é que eu ia falar contigo pela última vez?

Os dois se olham profundamente. Logo atrás, os detentos tentam ouvir.

DCR: É isso mesmo? (murmura) Eu...Pode falar, eu to preparado.

Muita tensão entre eles.

RAÍZA: Já tem alguns dias. Não sabia como te dizer, mas...

Dcr abaixa a cabeça, vencido. Raíza declina, por instantes.

DCR: Eu já tinha aceitado que a morte da Ari e do seu pai ficariam impunes, mas...Quando passamos a ser perseguidos, quando o Josué começou a colocar o povo contra a gente... Não é possível! (murmura) Eu podia ter matado aquele desgraçado, e agora eu vou morrer como um criminoso?

Raíza aperta suas mãos na grade e aproxima rapidamente o rosto.

RAÍZA: Presta atenção!(murmura) Haverá uma guerra. (ela espia os detentos, de olho) Eu não prevejo uma saída pra você, mas você não morrerá como um criminoso, ouviu bem?

DCR: Vou morrer de qualquer maneira, Raíza. Mas eu te peço, por favor, não desista de fazer justiça. Não desista de tirar o Cipriano da vida de todos. Ok?

RAÍZA: Não conseguirei sem você, Dcr. Tenho certeza disso.

Os dois se entreolham, abatidos.

CENA 22 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / TARDE]

Josué, de costas, sentado na primeira fileira, enquanto fala ao telefone. CAM se aproxima vagarosamente.

JOSUÉ (ao tel.): Acho que será o melhor natal da minha vida (risos). Eu só queria saber quem me atacou (T). Não sei, era só pra ter certeza de que você não arriscou a minha vida de verdade (risos). 

CLOSE em seu perfil. Em SEGUNDO PLANO, a imagem de um homem desfocada.

JOSUÉ (cont.): Eu sei, o governo e a igreja andam juntos. Bom, tenho que desligar. Até breve!

Josué desliga o celular e se ASSUSTA ao ver João ali do lado, encarando-o com desprezo.

JOSUÉ: João! Taí há muito tempo?

JOÃO: Quem era ao telefone? O Cipriano? Vocês estão juntos nessa contra o Danilo, né?

Josué se levanta, mescla aflição e falsa humildade.

JOSUÉ: Não, eu...Não sei o que ouviu, mas eu tava conversando com um amigo de outra igreja/

JOÃO: Chega de farsa! Depois de tudo que você fez, acha mesmo que eu acreditei em sua conversão? 

JOSUÉ: João, por favor...

JOÃO (por cima): O que pretende fingindo ter se arrependido? Hen? Ah, claro! Eu havia me esquecido que o seu maior prazer é comandar massas. Foi professor, diretor e agora pastor. Tá almejando um cargo político também? 

JOSUÉ: João, você precisa me ouvir. Eu não tenho nada contra esse garoto/

JOÃO (irônico): Você não tem nada contra ninguém, né? Deve ser coisa da minha cabeça mesmo. A propósito, que sorte a sua que o pastor Everton morreu, hen. Outro que você não tinha nada contra? 

Clima.
Josué fecha a cara e acerta um TAPA em João. Os dois se encaram com ódio.

JOSUÉ: Você, por acaso, é santo, é? O que você fez de bom na sua vida? Nada! Viveu sua vida para implicar com a Raíza, para ter o dom dela. Depois resolveu implicar com o herói por causa de uma garota. E como desgraça nunca vem pouca, você namora a prima dele e implica comigo. Me poupe, se poupe, nos poupe de sua infantilidade!

JOÃO: Eu sabia que você nunca havia se convertido.

JOSUÉ (esperto): É claro que me converti. O que há de errado em chamar a atenção do filho quando ele ofende o pai? (João ri, sacando) Será que as pessoas não podem se arrepender nunca? Será que eu nunca serei perdoado?

JOÃO: Quero ver esse teu discurso quando o Danilo for para o cadafalso. Se ele admitir que te atacou? Se ele pedir perdão? Vai fazer o quê?

JOSUÉ: Estamos falando de quem? De um garoto metido a herói que me atacou pelas costas? Acha que o povo ficará contra mim porque eu quero justiça? Claro que não.

Josué faz que vai dar as costas.

JOÃO: E se fosse eu?

JOSUÉ: Como?

JOÃO: E se eu fosse pro cadafalso? Você não sabe quem te atacou, não é? Eu posso muito bem ter puxado o lado ruim da família e ter duas caras.

Josué, até então sério, cai na gargalhada.

JOSUÉ: Como você é engraçado! (para de rir) Você não passa de um garoto mimado que sempre quer ser alguém que você nunca será. Quer chamar atenção? Se veste de super-herói e sai voando por aí. Todo mundo vai olhar pra você. 

E Josué sai rindo, deixando João com mais ódio.

CENA 23 CURTO-CIRCUITO – ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]

Em Cael, sentado e analisando uns papéis ao lado de um rapaz negro, de pé. BATIDAS na porta.

A porta é aberta e Sônia sorri, constrangida.

CAEL (para o rapaz): Você pode continuar pra mim? Mais tarde eu reviso.

O rapaz faz que sim, pega os papéis, cumprimenta Sônia com a cabeça e SAI. A porta é fechada.

CAEL: Sente-se.

SÔNIA: Não, eu...Eu só vim dizer que (hesita)...Que você tava certo. Existe um motivo pra eu odiar o Danilo.

Cael aguarda, enquanto Sônia parece tomar coragem.

SÔNIA: Ele buscou justiça sem sujar as mãos. Ele podia ter matado o teu irmão achando que era o assassino, mas não! Teve bom senso. Por que eu não tive esse bom senso, por quê?

Cael se levanta e abraça Sônia, compadecido.

SÔNIA: Eu até poderia parar de implicar com ele, pedir ao pastor que o perdoe, porque agora ele é como nós. Tentou matar o assassino da esposa dele, isso mostra que ele tem sangue nas veias/

CAEL: Sônia, Sônia! O fato dele não ter matado ninguém no calor do momento não o torna uma pessoa fria. Você tem inveja do Danilo e da Raíza. 

SÔNIA: Inveja?

CAEL: Inveja, sim! Você prefere que as pessoas sejam como você, que tenham feito o que você fez, pra você se sentir melhor. Chegou ao ponto de deixar o Josué morar na sua casa.

SÔNIA: Ele se converteu/

CAEL: Psicopata não se converte!

Clima.

Cael se afasta, senta na beirada da mesa, exausto.

CAEL: O Danilo vai ser punido. Mas se você realmente acha que o Josué se converteu, vai lá. Pede pra ele perdoar o Danilo e livrá-lo do cadafalso. Um homem convertido será capaz de atender ao seu pedido, não?

Em Sônia, na dúvida.

CORTA PARA

FACHADA DA MANSÃO DO PRESIDENTE / TARDE

CENA 24 MANSÃO DO PRESIDENTE – GABINETE [INT. / NOITE]

PLANO GERAL

Jaime acaba de se sentar diante de Raíza e João, igualmente sentados; em pé, estão Marco, Aimeé e Lila. Jaime digita algo no laptop e vira-o para eles.

JAIME: Segundo as informações que eu tive, o cadafalso será montado na Praça XV, de frente para o Paço Imperial.

MARCO: Ou seja, nada de prédios que possam favorecer um bom ângulo.

Em João e Raíza, só observando o mapa.

JAIME: Exatamente. Por isso precisamos de uma nova estratégia.

LILA: É óbvio que o governador vai colocar mais homens pra fazer a segurança e com ordem para matar quem tentar alguma coisa.

JAIME: Não se desespere, Lila. Eu também vou oferecer os meus homens que estarão disfarçados entre o povo. E ninguém aqui precisa se arriscar pra salvar ninguém. Ouviu, João?

João desperta de seus pensamentos.

JOÃO: Eu não pensei em me arriscar pelo Danilo, fique sossegado, presidente.

Marco, Lila e Aimeé disfarçam um riso.

AIMEÉ: Pai, não seria o caso dele e do Marco estarem armados se algo der errado?

JOÃO: Eu vou adorar a oportunidade de (faz menção de atirar) eliminar uns desafetos.

JAIME: Ahn...Melhor não, né filha?

MARCO: Eu sou mais sensato, senhor. (toca os ombros de Raíza e aperta calorosamente) Adoraria servir ao presidente numa missão tão justa.

Raíza lhe dá uma olhada e ele lança seu velho e bom sorriso de canto.

JAIME: Sendo assim.

BATIDAS na porta.
Israel entra, ansioso.

ISRAEL: Com licença e boa noite a todos. Mandou me chamar, Jaime?

JAIME: Sim, teremos uma grande missão, Israel. E muito trabalho pela frente.

Israel faz que sim e olha para todos, até pegar Raíza encarando-o estranhamente.

CORTA PARA

CENA 25 PALÁCIO GUANABARA – CORREDOR [INT. / NOITE]

Cipriano vem descendo a escadaria quando Israel o surpreende no sentido contrário.

ISRAEL: Preciso lhe falar urgente.

CIPRIANO: É o que eu estou imaginando?

Israel verifica os arredores.

ISRAEL: Não pude falar ao telefone, mas o presidente está apoiando o Danilo e vai colocar seus homens para fazer o resgate.

Cipriano, até então atento, ri, debochado.

CIPRIANO: Quer dizer que a Liga da Justiça está se armando para salvar o herói? Acho que demorei muito para dar início ao meu plano, caro Israel. Com o herói fora de combate, não vejo quem poderá salvar o presidente.

Israel estremece um sorriso, relutante. 

Em Cipriano. 

FADE OUT 

FADE IN

CENA 26 FACHADA – DELEGACIA [EXT. / NOITE]

Legenda: Uma semana depois...

Corta para o seu INTERIOR

Muito movimento, telefone TOCANDO, policiais atendendo as pessoas.

João adentra, preocupado, vai até o recepcionista.

JOÃO: Por favor, preciso falar com o delegado.

CORTA PARA

SALA DO DELEGADO

Diretamente em QUEIROZ, sentado à mesa.

QUEIROZ: E então, meu rapaz? Você disse que tinha uma novidade sobre o atentado ao pastor Josué. Amanhã, infelizmente, o garoto será punido.

João se mostra firme, com um olhar desafiador.

JOÃO: É isso que vim evitar, seu delegado: uma injustiça. Não posso deixar um inocente pagar por um erro que outro cometeu. 

Queiroz se inclina na mesa, surpreso.

QUEIROZ: O que tá dizendo, garoto? O pastor acusou o Danilo/

JOÃO (por cima): Mas ele não fez nada. Se o senhor me ouvir poderá salvar o Danilo e mandar para o cadafalso o verdadeiro culpado.

CLOSE UP em João, decidido.

CENA 27 MANSÃO DO PRESIDENTE - ESCRITÓRIO [INT. / NOITE]

Close em Jaime, ao telefone.

JAIME: Os nossos homens já estão preparados para amanhã, Israel. Chegou a minha vez de retribuir a ajuda dele e não pretendo economizar nas balas. 

Um segurança negro, usando terno, aparece logo atrás.

SEGURANÇA #1: Senhor.

Jaime se volta, sobressaltado.

SEGURANÇA #1: Desculpe, a porta estava aberta. Ainda vai precisar de mim?

Jaime abafa o telefone.

JAIME: Não. Pode ir.

Jaime dá as costas, ainda ao telefone.

SEGURANÇA #1 (O.S): Tem certeza?

JAIME: Absoluta/

Quando Jaime se volta novamente, SUSTO. Cipriano está no lugar do segurança.

JAIME: Cipriano? Mas-Mas como você entrou aqui? Onde está/

Cipriano se aproxima e ajeita o paletó do presidente.

CIPRIANO: Shhh...Todos estão dormindo, meu nobre amigo. Eles não costumam desobedecer as ordens do presidente. 

Jaime se mostra confuso; Cipriano sorri e aperta sua mão de contra o peito de Jaime que imediatamente tenta afastá-la, sem entender. A mão aberta de Cipriano paira sobre o peito do presidente, enquanto ele a segura.

CIPRIANO: *Somnia dulcia habeas.

Legenda: *Bons sonhos.

Cipriano vai contraindo a mão, Jaime se contorce de dor. Até que Cipriano, rapidamente, fecha a mão e Jaime desaba.

Em Jaime, inconsciente no chão.

FADE TO BLACK


FIM DO TERCEIRO ATO


QUARTO ATO


FADE IN

CENA 28 RUA DA CIDADE [MANHÃ]

CAM vai abrindo espaço por entre várias pessoas. Muita CONVERSA

ESPANTO

BUZINAS. 

CENA 29 PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

As pessoas discutem uma com as outras, indignadas;
Outras, confusas e assustadas.
A imprensa alvoroçada, repórter dá a notícia diante de uma câmera, sem que possamos escutar o que diz. 

Lila e Roger se aproximam do tumulto e Lila cobre a boca para algo que vê fora da tela.

LILA: Mas o que é isso?

ROGER: Misericórdia...

UM CELULAR TOCA.

Lila retira o celular do bolso da calça e sai dali, atendendo.

LILA (ao tel.): Você sabia disso?

CAM busca Rafaela, toda de preto e óculos escuros, chegando acompanhada de Tony.

RAFAELA: A morte do herói parece que é de parar o Brasil.

Rafaela sorri, mas Tony vê algo que o deixa abismado.

TONY: Acho que você vai ter que esperar um pouco, princesa.

RAFAELA: O quê?

Tony aponta para uma direção e Rafaela mal acredita no que vê.

CÂMERA TRAVELLING percorre os olhares de todos, passa por Roger, Hans e Beto, chocados; Aimeé, Ana, Valentina e Sam, se entreolhando, cúmplices; Raíza, consternada. Até a CAM alcançar o cadafalso e

de cima para baixo

no auge do suspense

É João Batista quem está lá, com a corda no pescoço e em cima do banco. Policiais lado a lado.

CORTE DESCONTÍNUO

João encara o povo, firme.

Raíza empurra as pessoas até chegar bem próximo do primo.

RAÍZA: João! João! O que aconteceu?

MULHER #1: A garota é vidente e não sabe?

RISOS.

Raíza e João trocam olhares rápidos e ela SAI dali, perturbada. Aimeé, Ana, Valentina e Sam a interceptam.

AIMEÉ: Raíza, não se preocupe. O João tem um plano.

RAÍZA: To vendo. O plano de morrer.

VALENTINA: Não, Raíza. O João se entregou porque acha que o pai dele não vai deixá-lo morrer. Seria péssimo pra imagem do pastor.

ANA: Eu achei bem genial.

Em Raíza, chateada.

RAÍZA: Genial? O pastor matou o irmão a golpes de faca! E agora ele é respeitado pelo povo. Acham mesmo que deixar o filho morrer pra fazê-lo pagar por um crime, será problema?

Ana e Aimeé cruzam o olhar, tensas.

VALENTINA: Você num é vidente, garota? Então você sabe se vai dar certo ou não, né?

RAÍZA: E porque você acha que eu to em pânico?

Raíza se afasta, deixando todas apavoradas.

CORTA PARA

CENA 30 CARRO DE CAEL [INT. / MANHÃ]

Cael e Sônia observando o tumulto.

CAEL: O pastor disse que vai perdoar o Danilo?

SÔNIA: Com todas as letras. Eu disse pra você que ele havia se convertido de verdade.

Cael olha para os lados, pessimista.

CAEL: Vamos ver. 

CENA 31 PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

PANORÂMICA do alto de uma passarela. A praça arborizada, tomada pela população, cercando o cadafalso. Este, situado de costas para o Paço Imperial, e ao lado da Assembleia Legislativa. 

Logo atrás de João, Cipriano sobe ao CADAFALSO, encara o condenado por instantes. João esboça asco; Cipriano o olha de cima a baixo, debochado, depois passa à sua frente, diante do povo.

CIPRIANO: Muito bom dia! Creio que todos estão se perguntando onde está Danilo Rodrigues. O rapaz foi acusado pelo pastor Josué de agredi-lo na noite do dia 10 de dezembro. Mas ontem, algo inesperado aconteceu. (ele se vira para João) João Batista, qual foi o seu crime? 

Josué se esgueira por entre as pessoas e se espanta ao ver João ali. Sua expressão, em seguida, é de raiva.


JOÃO: Preguei um susto no meu pai.

Ouvimos risos do povo.

CIPRIANO: E como foi que você fez isso?

JOÃO: Apliquei um golpe de porrete nas costas dele. 

CIPRIANO: E por qual motivo?

JOÃO: Por raiva. Não é fácil lembrar que o meu pai é um assassino que saiu impune de seus crimes.

VOZ FEMININA: MAU FILHO! DEVIA TER VERGONHA DO QUE FEZ!

Cipriano se mostra satisfeito.

CIPRIANO: E porque não se entregou antes?

JOÃO: O senhor governador devia perguntar o porquê do pastor ter acusado o Danilo. Não se pode dar falso testemunho (olha para alguém) Não é?

Em Josué, disfarçando o incômodo.

Cipriano, mãos voltadas para trás, observa a multidão, atenta.

Em Raíza, ao telefone, agitada.

RAÍZA: Dcr, onde você tá? (T) O quê?

Raíza olha para o seu ombro e vê UM PONTO VERMELHO de mira a laser.

Raíza procura o amigo na direção da mira até ver um

CHAFARIZ

Desativado, ao estilo colonial, e em formato de torre. Sob o teto há uma pirâmide quadrangular na qual, no topo, uma esfera é encimada por uma coroa imperial de bronze. A torre está situada no meio de um cercado branco.

CLOSE UP em Raíza.

RAÍZA: Você e o João ficaram malucos!

CORTA PARA

CENA 32 CHAFARIZ DESATIVADO – PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

Dcr está à espreita da janela, enquanto segura uma pistola e mantém outra no coldre.

DCR (ao tel.): Reclame com o Marco também, tá? Ele deixou o presidente ciente de tudo e conseguiu armas extras pra nós. Você sabe quanto custa uma dessas?

RAÍZA (V.O): Eu sei quanto custa perder alguém da família. Dcr, eu não previ que o João estaria no cadafalso. Ele pode não sair vivo daqui, ouviu bem?

DCR: O Josué não vai querer perder a fama de bom pastor, Raíza. E além do mais, o local tá cheio de seguranças do presidente.

Dcr afasta-se da mira, estranhando alguma coisa.

DCR: Raíza...Eu não vejo os tais homens que o Marco falou. Eles não deviam estar com uma fita verde no pulso?

RAÍZA (V.O): Era o combinado.

Dcr vê algo fora da tela que o deixa desconfiado.

Pelo P.V de Dcr a praça está lotada, Raíza olhando para a nossa direção. Um pouco afastado está um homem escondendo uma ARMA na cintura. Mais adiante, outros DOIS homens circulam, disfarçando. Até chegar no quarto homem, ajeitando a ARMA na cintura.

VOLTA EM DCR

Preocupado

= = FLASHBACK - DCR VÊ UM HOMEM TENTANDO MATAR O PRESIDENTE NO AEROPORTO = =

Quando Dcr SAI, vê um homem todo de preto em meio ao aglomerado de gente aflita, com uma mochila grande nas costas, apontando uma arma discretamente para o térreo.

== FIM DO FLASHBACK = =

DCR: Raíza, presta atenção...

CENA 33 PRAÇA XV - CADAFALSO [INT. / MANHÃ]

Em Cipriano, imponente.

CIPRIANO: João Batista não só atacou o próprio pai, como também cometeu sacrilégio, visto que Josué, um homem convertido, agora é pastor. 

Josué encarando a cena, sério, incomodado. Desfoque para Beto olhando-o de canto. 

CIPRIANO: O condenado usou de escárnio para descrever o crime, meu povo. É um zombador. Vocês querem que ele volte para o meio de vós?

PLANO DE CONJUNTO cobrindo apenas o cadafalso e a plateia. 

POVO: NÃO!

MULHER #1: O PASTOR TÁ ENTRE NÓS, UÉ!

CIPRIANO: Seja feita a vontade da maioria!

Os policiais se preparam para retirar o banco dos pés de João, disfarçando o pavor.

VOZ MASCULINA: NÃO!

Todos os olhares se voltam para Josué que se aproxima mais do cadafalso.

JOSUÉ: Não faça isso, senhor governador! O povo tem razão. 

CIPRIANO: O que está dizendo, pastor?

JOSUÉ: Se eu fui aceito na sociedade, não posso deixar que condenem o meu filho. Eu o perdoo.

POVO SE ADMIRA.

CÂMERA SUBJETIVA vendo Cipriano ao longe, com uma expressão de vencido, olhar dramático.

CENA 34 CHAFARIZ DESATIVADO – PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

Dcr observa toda a movimentação, ao telefone.

CIPRIANO: Sendo assim, não me resta alternativa. Soltem-no!

Um dos homens – da lembrança de Dcr – empunha a arma na direção do cadafalso.
Dcr engatilha sua pistola e aponta para o

OMBRO DO ATIRADOR

CENA 35 PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

O homem é atingido em cheio e deixa a arma cair. Povo se assusta. Raíza apanha a arma rapidamente. Muito ritmo.

= = TOCANDO: Two Steps From Hell - Strength of a Thousand Men (Archangel) = =

CORTA PARA Dcr saltando a grade do chafariz e descarregando TIROS contra DOIS HOMENS ARMADOS que tombam no chão. É iniciada a guerra!

SÉRIE DE PLANOS

  1. As pessoas começam a correr, apavoradas.

  2. João se livra da corda, mas um policial o segura. João lhe acerta um CHUTE em seu calcanhar e SALTA do cadafalso.

  3. Israel, espavorido, foge por entre policiais.

  4. Roger filma tudo, enquanto tenta não perder o ritmo da corrida, ainda que de costas. Lila e Ana logo atrás.

  5. Um policial APONTA para as costas de João, mas acaba recebendo um TIRO no braço. O policial urra de dor. Em Raíza, com a pistola na mão, sem acreditar no que fez.

Pelo seu P.V, Aimeé está do outro lado, aturdida, quando um homem tampa sua boca e a arrasta até sumir em meio a multidão.

RAÍZA: AIMEÉ!

Raíza corre, mas acaba levando um ESBARRÃO que a faz cair.

DO OUTRO LADO, Dcr corre em meio ao povo atirando contra os homens de Cipriano. Um rapaz de 25 anos está pelas costas de Dcr com um porrete, mas quando tenta atingi-lo, acaba recebendo uma coronhada. Dcr olha para trás e assente para Valentina, armada.

CÂMERA OBJETIVA mostra as pessoas correndo ágeis pela praça, tomando as ruas.

Dcr vai se afastando, termina de tombar mais um sujeito, quando aponta a arma para Cipriano, que se mantém no cadafalso. Os dois se fitam. Cipriano se mostra muito superior, quase pedindo para levar um tiro. Eis que surge Marco e sai puxando-o dali. Dcr abaixa a arma e ambos fogem.

CORTA PARA

CENA 36 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]

Dcr entra num carro preto blindado e este chega a cantar pneus.

NO CÉU, um helicóptero SOBREVOA a cidade e um agente lança RAJADAS de tiros.

MUITOS GRITOS cá embaixo.

CENA 37 CARRO BLINDADO [INT. / MANHÃ]

Marco, ao volante, dirige que nem um louco. Dcr ao seu lado, nervoso.

DCR: O que aconteceu, Marco? E os homens do presidente?

MARCO: Não sei, Danilo. Estou tão chocado quanto você.

João se apoia sobre as poltronas, agitado.

JOÃO: Se vocês não estivessem armados eu poderia estar morto!

DCR: E os outros? (ele saca um celular, disca, mas se irrita) Só dá caixa-postal. 

BARULHO DE TIROS 

Na lataria do carro. 

ALTERNA PARA O EXTERIOR

Um carro preto atravessa o carro no qual Marco dirige. Pela janela, Israel olha para os lados, apavorado. Apanha um celular.

ISRAEL: Cipriano! Atende, seu desgraçado!

O retrovisor é ESTILHAÇADO por tiros de fuzil. No susto, Israel perde o controle da direção e, pelo seu

PONTO DE VISTA

Um ônibus está quase atravessando a pista.

ÂNGULO ALTO

Um cruzamento com ruas amplas, vários carros fazendo a curva para a Presidente Vargas. O carro de Israel, perfurado a bala, vai de encontro ao ônibus, raspa em sua dianteira e capota em seguida.

O carro de Marco dá uma forte guinada, atravancando outros veículos. BUZINAS.

ALTERNA PARA O SEU INTERIOR

Onde Dcr abre a porta, nervoso.

MARCO: Vai aonde? Os caras vão te matar!

DCR: Eles querem a mim. Se eu for morrer, que seja só eu.

JOÃO: Não, espera!

MARCO: João! JOÃO!

Mas João já foi.

CENA 38 CARRO DE CAEL - PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

Cael está ao volante, assustado, com o carro parado; Sônia com a mão no peito, horrorizada; no banco de trás, Lila, Roger e Sam.

CAEL: A gente tem que sair daqui o mais rápido possível!

LILA: Pra onde o Danilo foi? Vocês sabem?

SÔNIA: Você devia se preocupar com o estrago que ele e a Raíza fizeram, isso sim. 

LILA: Isso é culpa do governador, sua tonta!

ROGER: Parem, amigas! Tá todo mundo no mesmo barco, a gente precisa se unir!

SAM: Falando nisso, alguém viu a Raíza?

É quando Raíza ASSUSTA Sônia ao aparecer da janela.

RAÍZA: Abram isso, rápido!

Cael destranca a porta de trás e Raíza SE JOGA no colo dos três amigos, devidamente armada.

RAÍZA: Vambora, Cael! O Danilo marcou num apartamento alugado pelo presidente.

CAEL: Segurem-se.

Corta para o EXTERIOR

Cael dá ré e arranca dali.

CENA 39 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]

CÂMERA TRAVELLING nos pés masculinos correndo.
CAM avança sobre as costas de Dcr e João correndo freneticamente. Ritmo da cena acelerado.

RAJADAS DE TIROS

Perfuram a calçada, afugentam pessoas que se esgueiram para o interior de estabelecimentos, engarrafam o trânsito. 

Várias tomadas sobre os dois fugitivos que ENTRAM num 

BECO

Muito estreito e cercado por prédios. As rajadas cessam. Dcr e João escoram na parede de uma antiga casa. João saca um celular do bolso da calça, nervoso.

JOÃO: Você conhece bem essas ruas? Deixa-me ver aqui no mapa/

Dcr segura sua mão, confiante.

DCR: Esqueça o mapa! Você nem devia ter vindo.

JOÃO: E eu digo o quê pra Ana? Que eu perdi você de vista porque sou um covarde?

DCR: E eu digo o quê pra Raíza? Que eu te arrastei comigo?

JOÃO: A Raíza não vai se importar/

Dcr segura seu rosto com as duas mãos.

DCR: A Raíza salvou a sua vida! Não é hora pra joguinhos dramáticos, João. Vá e salve sua pele!

OUVIMOS PASSOS RÁPIDOS

VOZ MASCULINA: Disseram que eles foram por aqui! ANDEM!

Dcr e João se encaram, tensos. 

DCR: Droga! Vem comigo!

Ambos fogem.

CORTA PARA

CENA 40 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]

Dcr e João atravessam a pista em meio a carros. Dcr rola pelo capô de um deles, João recua, no susto, mas continua a jornada. 

Um HELICÓPTERO sobrevoa e um agente está na porta, fortemente armado, mas estranhamente apenas observa. Pelo seu PONTO DE VISTA, Dcr e João entram num BOSQUE.

CENA 41 CAMPO DE SANTANA - BOSQUE [INT. / MANHÃ]

Dcr e João passam zampados pelo vasto campo.

ÂNGULO BAIXO

Para sapatos pretos masculinos, à espreita. CAM vai subindo, revelando calças pretas sociais e o sobretudo negro. As mãos enluvadas seguram um ARCO E FLECHA, que logo são posicionadas na direção dos fugitivos. A arma cobre a tela.

  1. O dedo alongando a corda.

  2. Dcr e João, esbaforidos, lado a lado.

  3. A flecha é disparada.

E Dcr é atingido brutalmente pelas costas. 

MUSIC OFF

 [Efeito Câmera Lenta]

Dcr arregala os olhos, se contorce de dor. João se volta, espantado, e GRITA seu nome sem que possamos ouvir.
Dcr CAI de joelhos, sangue escorre por sua boca, até que ele tomba no chão, de bruços, revelando a flecha cravada em suas costas.

[Fim do Efeito Câmera Lenta]

João quase se joga sobre Dcr, perturbado com a cena.

JOÃO: Danilo, tá me ouvindo? Consegue se levantar?

Dcr agoniza para desespero de João.

DCR: Fuja...Fuja agora...

JOÃO: Não te deixei antes, não vou deixá-lo agora. Vem, você consegue/

Dcr toca a mão de João.

DCR: Fuja pela Ana. Faça por ela.

João hesita.

INSERT

Da mão de Dcr afrouxando a mão de João, lentamente.

VOLTA À CENA

JOÃO: Danilo? Danilo!

Dcr está inerte, as costas ensanguentadas.
João foge da cena, enquanto a CAM se afasta do corpo do herói.

SMASH TO BLACK

FIM DO QUARTO ATO


ATO FINAL

FADE IN

CENA 42 APTº DO PRESIDENTE – SALA [INT. / MANHÃ]

Ambiente elegante, sofás brancos e móveis requintados dispostos sobre o chão de porcelanato. Objetos de decoração em tons minimalistas completam o cenário. 

Ana, Cael, Lila, Roger, Sam, Sônia e Valentina estão na expectativa. Raíza de um lado e de outro, roendo as unhas, aflita. Marco ali por perto, alisando seus cabelos. 

RAÍZA: Eu não aguento mais!

Raíza avança sobre a porta e quando ABRE, lá está João, em lágrimas. Os dois se fitam, profundamente. João ENTRA, tenta disfarçar a emoção, treme os lábios.

JOÃO: Ele se foi.

Ambos hesitam em consolar um ao outro, mas acabam por se abraçarem, comovidos.

Ao fundo, todos abalados.

Fecha em Raíza, olhar vago.

FADE OUT

FADE IN

VISTA PANORÂMICA da Praça XV suja, o cadafalso destruído, carros perfurados à bala, um completo caos.

CENA 43 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]

Um grupo de pessoas amontoa-se diante de uma banca de jornal. Alguns indignados, outros tantos curiosos. Assim que alguns deles saem da frente da banca, é possível ver a manchete do jornal NOVO DIA:

“Uma guerra iniciada por Danilo Rodrigues e Raíza Maciel termina em morte do vice presidente, Israel Sobral e no abandono do presidente à nação.”

MANCHETE DA CARIOCA NEWS:

“Presidente Jaime Lima abandona a nação!”

CORTA PARA

CENA 44 CASA DO PASTOR EVERTON – SALA [INT. / MANHÃ]

Na TV na qual uma repórter morena, de cabelos longos e pretos, dá a notícia diante da Praça XV.

REPÓRTER #1: O pastor da Igreja Evangélica Mão Divina havia perdoado seu filho, João Batista, por tentar matá-lo na semana passada. 

CENA 45 COFFEE BREAK [INT. / MANHÃ]

Em primeiro plano, Valentina e outras funcionárias assistindo à TV.

REPÓRTER #1: Mas isso não impediu que uma guerra começasse ali, na Praça XV e se estendesse até o Campo de Santana, onde Danilo Rodrigues, tido como autor dos primeiros disparos contra o povo, foi alvejado por uma flecha.

CENA 46 APTº 3011 – SALA [INT. / MANHÃ]

João e Ana estão sentados no sofá, abraçados e consternados. Raíza em pé, abraçada por Marco e numa expressão de raiva.

REPÓRTER #1 (V.O): Walter Cury assumirá a presidência a partir de janeiro. O presidente da Câmara dos Deputados é o terceiro na linha sucessória e comandará por 90 dias até uma nova eleição.

CORTA PARA

Um CORREDOR sombrio, mal iluminado. Adiante, um CÁRCERE fechado com grades e uma TV ligada.

CENA 47 CÁRCERE [EXT. / MANHÃ]

SOM DA TV

REPÓRTER MASCULINO #2 (V.O): O governador do Rio de Janeiro, Cipriano Zacarta e a filha do ex-presidente, Aimeé Lima casaram-se no civil, antes da guerra na Praça XV, segundo informou a assessoria de imprensa.

ÂNGULO BAIXO

Sapatos masculinos atravessam o cenário se aproximando do cárcere.

REPÓRTER MASCULINO #2 (V.O): A senhora Zacarta, muito abatida, disse numa coletiva de imprensa que apoia o governador como futuro presidente do país.

Agora é possível ver que o sujeito carrega um arco e flecha e para perto da cela. Num canto à direita, o presidente Jaime se levanta e agarra nas grades violentamente.

JAIME: Seu desgraçado! O que fez com a minha filha?

Cipriano, muito tranquilo, faz cara de dúvida.

CIPRIANO: Não viu os noticiários? A TV não é só distração não, meu amigo mais querido.

Jaime agarra em seu sobretudo, com ódio.

JAIME: Se fizer alguma coisa contra ela/

CIPRIANO: Não farei nada que ela não queira (sorri, malicioso). Sou um cavalheiro. Eu deveria levá-lo ao cadafalso por abandonar a nação. A sua captura poderia contar uns pontos a meu favor.

JAIME: Entra aqui e vamos resolver isso de homem pra homem, seu canalha!

CIPRIANO: Não devia ameaçar um homem armado, senhor ex-presidente (ele acaricia a flecha / Jaime o larga). Sabe o que fiz com essa? Matei seu justiceiro. Não era ele que comparava meu governo com a da Inquisição? Pois bem, morreu como na época da Inquisição.

JAIME: Danilo era apenas um dentre vários outros que querem a sua cabeça. Você não poderá com todos quando eles se unirem contra você.

CIPRIANO: Antes que eles pensem em me deter eu já os terei detido. Eu sei das próximas edições dos principais jornais; sei o próximo passo da sociedade secreta do Danilo; sei tudo que diz respeito a essa minoria que, segundo você, quer a minha cabeça. Não existe nada que aconteça nessa cidade sem que eu descubra.

JAIME (debocha): É mais vidente do que a jovem Raíza? 

CIPRIANO (murmura): Sou mais eficiente. 

Cipriano dá as costas com um sorriso no rosto, e vem caminhando em direção à CAM.
Em Jaime, tenso, até estranhar algo que vê. Pelo seu PONTO DE VISTA, Cipriano abre um portão de ferro e no que olha para trás, seu rosto revela EMERSON MARTINS. 

Jaime se espanta. Emerson é, na verdade, Cipriano Zacarta!

CENA 48 CEMITÉRIO [INT. / TARDE]

CLOSE na mão feminina depositando uma rosa branca sobre uma lápide. A rosa esconde parte da inscrição, deixando à mostra apenas o sobrenome: “Rodrigues”.

Raíza se levanta, sofrida. Ao fundo, Lila de braços cruzados, chorosa.

CORTE DESCONTÍNUO

Lila e Raíza caminhando pelo local.

RAÍZA: O João não quis vir; tá muito abalado.

LILA: Sabe o que mais me dói? É que o Danilo queria justiça...Só isso. Não era pra ter terminando assim. 

Raíza para diante dela e segura suas mãos.

RAÍZA: Ainda não terminou, Lila. Temos uma longa jornada pela frente. Te garanto que há um jeito de derrubar o Cipriano, e nós vamos descobrir como. 

= = TOCANDO: Trilha Final de Revenge – iZLER = =

As duas se abraçam.

RAÍZA: Porque a história não termina assim.

ZOOM-OUT do rosto dela até termos um PLANO GERAL do cemitério. CAM desvia para o CÉU.

FADE TO BLACK

FIM DO EPISÓDIO


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